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Depois do primeiro turno das eleições de 98 fui descansar no Marajó.Levei na mala da pick up 32 pés de bouganville, de quatro cores diferentes, terçados, e muita disposição para roçar, destocar e cercar um terreno de 1000m2 que havia comprado meses antes.Passei quatro dias “descansando” o dia todo, só voltava no fim da tarde prá pousada.Lá conheci um casal de gaúchos que estava correndo o Brasil numa Kombi trailler, com patrocínio de um jornal e de uma revenda Volkswagen,ambos de Novo Hamburgo, RS.Ele fotógrafo, ela artista plástica. Gente simples, mas mui buena.Voltei um dia antes deles, pois o segundo turno foi confirmado e a produtora me chamou de volta. Vésperas do Círio, convidei-os para almoçar o patoso com minha família.Levaram as fotos de suas andanças mundão afora, contaram histórias e lá pelas tantas perguntei o que tinham achado de Belém.Entreolharam-se, e ela começou a falar, descrevendo o centro da cidade, área que melhor conheceu.Descreveu uma cidade que eu conhecia, mas não via.Falou da sujeira, da desorganização no centro comercial com a invasão dos camelôs, da desfiguração do patrimônio histórico, da prostituição e da loucura solta pelas ruas do entorno e na Praça da República. Não esqueceu do trânsito caótico e boçal dos ônibus, dos esgotos a céu aberto, da balbúrdia generalizada.Achou a cidade muito barulhenta e sem definição urbana. Comércios e residências lado a lado.Sete anos depois ela ficaria surpresa se voltasse à Belém.O impossível aconteceu com a cidade: ela piorou muito. A Praça então,coitada.Um vigoroso ponto de drogas viceja bem na esquina da Riachuelo com a 1º de Março e a violência se instalou geral,disputando com as putas nas transgressões e no perigo,pois elas,já velhas,fodem pouco e roubam muito.Os carros som circundam a praça sem parar e a feira dos artesãos – mais paraguaia e sulanca que qualquer outra coisa – começa a tomar conta da praça já na sexta de tarde.Nas calçadas da Presidente Vargas, a mais tradicional avenida do centro da cidade, vende-se de filhotes de cachorro a queijo de coalho do Nordeste.Mafuá é pouco!Quem anda muito por ela vê a gentalha colocando o bilau pra fora, e sem cerimônia, derrama o ácido úrico que empesta as calçadas. As pessoas tomam ônibus no meio da pista.Tudo na cara das autoridades, nas ventas da sociedade.Hoje me lembro que ao final daquele encontro com o casal gaúcho, perguntei qual cidade do mundo lembrava Belém.Entreolharam-se de novo e desta vez ele, voz cavernosa, não contou conversa: Nova Déli.Então é isso, amigos. O blog é domiciliado em Belém.Mas reside em Nova Déli.
10 comentários:
Contra fatos não há desculpas. Há de enfretá-los.
Mais uma comovente visão a descrita acima Juvêncio. Já havia lido, e sempre me angustio relê-la.
Penso que se não houver uma política de esvaziamento de Belém no rumo do interior com programas pesados de geração de emprego e renda efetivos. Arranjos produtivos locais e Cluster´s associados em potencialidades que possuímos e escala de produção condizente. Veremos não apenas o caos em Belém. Veremos a violência e o que dela se acompanha tornar várias das áreas e bairros nobres em "zonas brancas". Áreas definidas pelo professor Marcel Bursztyn (UNB) como setores onde o Estado não entra e não pode entrar. Algo como as favelas do Rio de Janeiro.
Que pena e que judiação com minha linda Belém.
Val-André Mutran
Jornalista
Brasília
Caminhamos para lugares sem Estado e pessoas sem lugares.
Esse é o nosso futuro se não houver uma intervenção, no bom sentido, já.
Val-André Mutran
Jornalista
Brasília
Bateu certo,Val-André.Também, frequentando os lugares onde voce anda últimamente,hein?
Mas é por aí.Medidas de contenção/deslocamento demográfico são caminhos seguros.Arranjos produtivos idem.
O problema e que é preciso inteligencia e coragem política para dar início a esses processos.
Quando?
E quanto ao futuro, minha perspectiva é sombia, confesso.
Abs
Entendo perfeitamente seu ponto de vista nada alentador Juvêncio. Fica difícil e até grosseiro a insistência na construção de uma cortina de fumaça que insistentemente vende nossa realidade como um Oásis exuberante e com muita cultura para ser vista. Algo que oculte a péssima impressão que gente de fora, ávida para conhecer o que é a Amazônia tem quando andam pelas ruas de Belém.
Cabe portanto, à sociedade, e com gravidade muito maior, de nossos dirigentes. O estabelecimento de um pacto social. Nada de demagogia ou propaganda.
Pacto, eu diria, é um substantivo desgastado pela retórica política brasileira.
Use-se então outro atrativo. Porque o medo de inovar e agregar o que dá certo?
Explico: é inegável o avanço no orçamento participativo. O fracasso desta idéia genial foi engolido pela burocratização do processo. Discute-se que escola pintar. A da minha esquina, ou a da sua? Assim não dá. Mas, reafirmo ao pôster que é preciso inovar e acreditar numa via alternativa. Vamos à luta então! Temos filhos à criar.
Val-André Mutran
Jornalista
Brasília
O seu blog está muito interessante, parabéns!
Caríssima Dra. Daniela.
Só mesmo minha proverbial distração faz com que a sra. visite meu blog,pela segunda vez, sem uma retribuição à altura.
Perdoe-me.
Já fui ao Amar-Ela,e me diverti com aquele post que "protegia" homens que são maltratados pelas mulheres.
Também já a vi no blog da Alê, o karapanã,um blog de posts inteligentes e sensíveis.
Mas amanhã faço-lhe uma nova visita.
Saudações daqui do outro lado do Atlântico.
"Proverbial distração é ótimo!" Elegante, com buquê necessariamente distraído e algo de sedutor.
Com todo o respeito, a presença feminina da Dra. Daniela Mann só estimula o debate e enriquece a Tribuna.
- Mas, Juvêncio. Boas novas trago-lhe.
Fiquei excitado ao saber que as inovações estão em pauta alhures.
Senão. Como avaliar o espírito de inovação tão cobrado no espaço?
Na pequena Pau D´Arco, a aproximadamente 20 e quebrados quilômetros da cosmopolita Redenção, no sul do Pará.
O prefeito finaliza a implementação da internet grátis aos munícipes. Pessoas físicas e jurídicas. Cobrindo toda a área da cidade.
Não é uma notícia alvissareira?
É prova e estímulo para demovêlo da confissão de adotar uma opção "sombria". Do infurtúnio das reflexões constatadas. Há luz! E que ela se espalhe.
Não te disse que Palloci tava com um pé fora? Veja a data da previsão no meu Corredor. Lá no BLOG.
Val-André Mutran
Jornalista
Brasília
Val-André , voce é terrível!
Vou lá no Corredor agora, conferir, antes de dormir, quase morto.Té amanhã, com muitas novidades no blog.
Obrigada, pela repostagem.
somente uma pequena observação, nada consoladora: Nova Déli não é somente Belém. Vi, na descrição, o Rio, Belo Horizonte, Maceió e tantos outros centros de cidades brasileiras machucados pelo descaso público.
É verdade,Anonima.O descaso não é uma exclisividade nossa, infelizmente.Abs
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