8.12.06

Festa No Interior

O poster aproveita o feriado para atender uma provocação da estudante de jornalismo e blogueira, mas expert em marketing (né Lu?), Luciane Fiúza de Mello.
Animada com a percuciente e delicada análise do prof. Fábio Castro sobre os pecados dos doze anos da era chaveana, Lu, aluna de Fábio, decidiu convidar algumas pessoas para discutir livremente os passos a serem trilhados pelo próximo governo, ou as virtudes que ele precisa ter na relação com a cultura.
Fora de forma - deixou a secretaria de Cultura há 16 anos - o poster não se garante senão em simplesmente sugerir atenção ao Pará que poucos gestores públicos se interessam, mas onde vive 75% da população: todo e qualquer lugar fora de Nova Déli.
Juvencio de Arruda sugere a "virtude" da distribuição, da igualdade.
O Pará, aquele do mapa no formato da galinha Knorr, está dançando.
Porque os governos, e os habitantes de Nova Déli, olham muito pro seu próprio umbigo.


-----------------------------------------------


51 anos de idade, 44 andando pelo interior do Pará.
Há 20 dirigindo documentários e fazendo banco de imagens, em mais de 100 dos 143 municípios. Garanto pra voces que o estado, do ponto de vista da sua "cultura", mudou muito, mas muito.
Chegou muita gente, das mesmas regiões: Maranhão, Ceará, Goiás, Espírito Santo, Minas e sul do Brasil. Esse povo trouxe novos temperos ao caldeirão.
Vi, ouvi e cheirei todos os espaços culturais, manifestações, grandes festas, pessoas que fazem ou fizeram a cultura deste estado neste período.
Waldemar Henrique, Isoca, Noé von Atzingen, Laurimar Leal, Verequete, Haroldo Maranhão, David Miguel, Dica Frazão, Augusto Morbach, Benedito Nunes, Luiz Braga,Gileno Chaves, Paes Loureiro, Vicente Sales, Edyres Proenças, Ruy Barata e mais um cesto além de um cento de gente tão...tão...magnífica.
Aqui ou alhures, autores ou operadores, todos propositalmente misturados, porque todos vivos ou "encantados".
Na minha cabeça todos estão juntos, são juntos.
Trabalhei na secretaria da Cultura, fui conselheiro da FUNTELPA, sou conselheiro de uma escola de samba, fiz planejamento e produção cultural - concebendo, captando recursos e organizando eventos, shows, exposições e seminários na área da cultura.
Aprendi, me diverti - muito mais o segundo do que o primeiro - e conheci toda essa constelação aí de cima.
Ufa! Tá bom?
Por tudo isso, berro: vamos sair para o interior!
Com os barcos e as carretas cheias. De lonas, equipamentos e gente.
Sobe rio e "corta trecho", dia e noite
Prá cá e prá lá, sem parar.
Construindo espaços culturais; museus da imagem e do som com núcleos de produção e distribuição em áudio e vídeo; financiando instrumentos e materiais de trabalho; bancando programas de treinamento e de bolsas de estudo e pesquisa; facilitando a interface dos projetos e ações culturais com os movimentos sociais - da pastoral carcerária aos sem terra, sem esquecer indígenas e quilombolas.
Numa palavra: espaços, registro, formação e articulação.
E festa, muita festa.
Ah! sim, e que a política cultural contemple todas as manifestações e setores da cultura, ainda que devagar.
É melhor andar devagar do que pensola.
Bate esse bumbo aê, Ana Júlia...rs

12 comentários:

Anônimo disse...

Ju, que bom que nasceu mais uma virtude. Nem preciso dizer que adorei o texto. Pela ordem de chegada, eu deveria publicar primeiro o do Fábio Castro, mas tenho certeza que ele entenderá, além do mais já tenho uma foto especial para a Interiorização.
Bom, ao contrário de vc, aproveitei o feriado p me afastar um pouco do Lukinha (meu computador), mas daqui a pouco posto seu artigo lá no meu blog; já que o profº Fábio sugeriu que reuníssemos todas as virtudes lá.
Sobre a Lu aqui: estudante de Jornalismo, sim, ainda. Blogueira, sim, tentando. Marketeira, sei não... Nunca me pretendi publicitária, apenas sigo os conselhos de uma amiga e "ex-teacher", Lenne Santos, que me ensinou como a Comunicação Social deve trabalhar: a serviço de questões de interesse público.
Como dizia o velho guerreiro, "quem não se comunica, se trumbica".
Bjs.
Luciane, mas pode me chamar de Lu.

Itajaí disse...

Bravo, compadre!

Val-André Mutran  disse...

Meu prezado Juvêncio.
Você diz que está destreinado. Convenhamos...nem passa por minha cabeça isso. Não me convence. Mas, com o perdão da chegança. Tenho umas imagens, folclóricas, claro e vamos
ao que tenho.
Imagino o mestre com duas breadas de sêbo de carneiro nos punhos; administrando duas comitivas e a devida colocação de duas cangalhas, por dois peões em dois alforjes mágicos.
Duas gotas diárias de copaíba num gargarejo antes do escovar dos dentes matinal; duas cuias de tacacá dia sim, dia não; duas horas de sesta numa rede na varanda de seu AP após o almoço, ou numa trilha encantanda; dois maços de papel sem pauta e dois lápis n.o 2, sem borracha pra modo de só escrever a certeza e a nos mostrar o que os quase lindos veêm-se no espelho: a sua própria imagem...deles. Mas que imagem?
Revendo um documentário com Paulo Freire, associei seu depoimento ao do velho mestre pernambucano após o exílio naqueles anos duríssimos da opressão do pensamento.
Cultura é o sabor da comida, o cheiro do tecido vestido pelas cabrochas, a tinta vertida na pele dos homí.
Nota 10 com louvor mestre. Interiorizar, levar uma colher para esquentar, misturar e deixar a química da mãe natureza diluir esse imenso legado que está sendo construído, apesar do diapasão não refletir, graças ao filho da mãe.
Basta, eu diria, a vingança do tempo, essa inevitável, a conceder, pois vingança tem coração, uma mera imagem opaca no espelho dos quase lindos. E a noite enfim vem, a noite passa e o sono do sonho não vem, mas, virá um dia, pois que passou para essa gente pobrezinha, pobrezinha.
Um bom sábado pra ti.

Ivan Daniel disse...

Ilustrado Juvêncio :-)
É de se orgulhar a "mobilização" da Luciane. As contribuições são de uma magnitude substancial. Parabés pela tua, e parabéns pra Luciane!
Abraço.

Anônimo disse...

Caro Juca,

Parabéns pelas observações sobre os desafios culturais de nosso estado, ou melhor, O Desafio cultural: a interiorização do apoio às políticas culturais. De fato, o Pará - ao contrário do Amazonas - cresce (geometricamente)para interior; e se os Governos não perceberem isso a tempo, na dimensão e densidade do processo em curso, acirrar-se-ão as questões políticas e abalar-se-ão, ainda mais, os sentimentos de (des)pertencimento federativo. Aliás, tenho imenso orgulho de pertencer e ser reitor de uma Universidade que, há vinte anos, percebeu esse movimento histórico e priorizou a sua interiorização. Hoje, ela, talvez - deixando de lado o Banco do Brasil -, é a Instituição pública, no estado, mais capilarizada no interior. Nele cresce a cada ano, amplia sua presença na maioria dos municípios paraenses e, não ao acaso, concebeu-se conceitualmente em seu novo estatuto - aprovado pelo MEC - como "universidade multicampi".
Os futuros Governos do Pará deveriam ser mental e politicamente centrípetos: pensar o estado do todo para as partes e não da parte (Belém) para o "resto". Eis aqui o grande desafio político dos paraoaras - e o segredo da governança futura neste estado de dimensões continentais e de riquezas culturais também imensas.
Com amizade e admiração,

Alex Fiúza de Mello

P.S. Se achar por bem, pode publicar este meu comentário em seu mais do que lido post.

Anônimo disse...

Juca, dou meu piteco acrescentando que há uma riqueza maravilhosa na art e na religiosidade mantida secularmente pelas comunidades negras rurais, especialmente os quilombolas. As festas religiosas, as ladainhas, os emocionantes samba-do-cacête de Umarizal e Igarapé Preto em Baião, o tambor de criola de Camiranga, em Cachoeira do piriá, o Bambaê do Rosário, de Cametá, os grupos de dança afro recem nascidos em Itacoã, no Acará. As lendas maravilhosas de Genipaúba e do ramal do Bacuri, em Abaetetuba, alés das tradicionais festas e rituais indígenas, dos Kayapó - mais conhecidas - e as dos Tembé, renascidas. O Programa Raízes fez nestes 6 anos registros importantes deste cotidiano. A Luciana vai encontrar boas coisas lá: (91) 3276-9778, 3276-0446, 3277-5454. Beijo.

Anônimo disse...

Ivan Daniel, agradeço as palavras e te pergunto se não queres dar tb a tua contribuição. Ainda faltam duas virtudes.

Bia, Conheço o "Programa Raízes", do governo estadual, inclusive fiz uma matéria p um jornal local sobre a comunidade do Abacatal, em Ananindeua. Na oportunidade, 2004, pude conferir as apresentações artísticas, feira de produtos artesanais, palestras, tudo regado com muito calor humano. Vocês estão de parabéns. Gostaria de conhecer melhor o trabalho dos grupos de dança. Entrarei em contato. Abs.

Anônimo disse...

Olá Juvêncio,

Concordo com você. Há muito eu venho batendo, debalde, nesta tecla: Belém precisa descobrir o Pará.

Um abraço.

Parsifal Pontes

Anônimo disse...

A discussão em torno de uma proposta que beneficie a todos que fazem arte no estado do Pará tem o seu grau de urgência, pois uma região como a nossa, rica em diversidade cultural, foi de certa forma abandonada durante era "chaveana". O valor da nossa cultura é inestimável, entretanto foi negligenciado, colocado em segundo plano, dando vez ao imperialismo dos grandes centros do país. Liderando este processo, o então dono de um palacete imaginário às margens da Magalhães Barata. A nossa história tem vários mestres, que formaram novos mestres. Posso citar alguns: Waldemar, Isoca, Verequete, Lucindo, Altino Pimenta, Adelermo, Margarida, Augusto Rodrigues, Vera, Clara, Teka, Marilene, Eni, Carlos Santa Brígida, Líbero Luxardo, Teodoro, Jesus, Benedito, Dalcídio, Eneida, entre tantos outros. Acredito, caro Juvêncio, que quem assumir a Secretaria de Cultura do Estado terá na mão uma grande oportunidade: respeitar o memorial cultural do povo paraense e trabalhar na interiorização, para que o amazônida conheça a sua história e se descubra como artista.
Rubem Meireles.

Anônimo disse...

Que venha o MAR
Que venha o CIO

Vou esbaldar-ME
Aplacar mia IRA!

Anônimo disse...

Luciana, seja bem vinda! Estamos lá, até dia 30!...rsrsrs...Mas o Programa, certamente, permanecerá. Abraço

Unknown disse...

Aos comentaristas:

Lu: valeu o convite.Bombou...rs.B

Oliver: tamos ái cumpadi.

Val-André: realismo fantástico...rs


Ivan, poeta, voce está em casa.Abs

Prof. Alex: tomara que o próximo governo possa pensar - e agir - do todo para as partes.E que ajude a UFPA a continuar a faze-lo.
Apareça sempre.

Bia, emocionante é a palavra certa prádescrever as festas dos quilombolas paroaras.E o trabalho do Raízes é uma referencia.

Parsifal, descobrir antes que seja tarde.Abraço.

Rubem, ainda pensei em citar o Augusto Rodrigues...foiuma falha bem corrigida por voce.Abs

Anonimo fã do Márcio: que venha o rapaz.