28.1.06

Cosme e Damião

Do blog de Mauro Malin, hospedado no Observatório da Imprensa, sobre as estratégias petistas pré-eleitorais. Malin não se detém na continuidade da parceria Lula-Dirceu, mais viva do que nunca. Leia o que a dupla está aprontando.

Vai de Serra ou de Alckmin?

Há uma passagem da reportagem de Josias de Souza sobre a conversa entre o presidente Lula e José Dirceu, publicada na Folha de hoje (27/1), que merece glosa:
“Quanto à avaliação do quadro político, Dirceu e Lula puseram-se de acordo em dois pontos: 1) o principal adversário do PT será mesmo o PSDB; 2) entre o prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin, avaliaram que o primeiro seria mais fácil de ser batido. Alckmin, por desconhecido, encarnaria mais facilmente a imagem do ´novo´. Serra seria mais facilmente identificável com o ´velho´, representado pela gestão de Fernando Henrique Cardoso, à qual serviu como ministro do Planejamento e da Saúde”.
Esse tipo de raciocínio serve para orientar a montagem de uma campanha eleitoral. Mas a campanha propriamente dita tem um peso decisivo. Ainda mais num mundo de referenciais móveis. Antigamente havia variáveis, é claro, mas os referenciais pareciam ser fixos. Agora, nem parecem.
Campanha eleitoral já contava antigamente. Milton Campos foi candidato ao governo de Minas, em 1947, para perder. Disse a Tancredo Neves: “O meu compromisso com a UDN é o de pronunciar 12 discursos de doutrinação democrática... Se houvesse a mais remota possibilidade de vitória, o candidato não seria eu”. Os discursos foram tão bons que ganhou.
Sempre é preciso avaliar o efeito de um comentário em que alguém diz preferir fulano ou beltrano como adversário político. Um mineiro das antigas diria que Lula e Dirceu divulgam que preferem Serra para que nós pensemos que preferem Alckmin, porque preferem mesmo Serra...
Brincadeira. Imito a historinha, contada entre outros por Carlos Castello Branco, do sujeito que encontra um amigo na estação de trem e diz que vai para Barbacena. Assim, o outro pensaria que ele ia para Belo Horizonte, mas ele ia mesmo era para Barbacena. Wilson Figueiredo explica a moral da história: mineiro valoriza o jogo, o prazer do drible mental. Também se conta essa história com personagens judeus na Polônia.
Brincadeira, mas quem quiser acreditar que Dirceu e Lula dizem que preferem Serra para que todo mundo pense que eles preferem Alckmin, porque preferem mesmo Serra, pode acreditar. Ou não.

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