22.1.06

O Cerco Se Fecha

Esse post do Noblat,de hoje, é exemplar na descrição do sentimento majoritário na classe política. Esmagados pela velocidade dos fatos, pela revelação pública crescente de seus privilégios e artimanhas, incapazes de olhar a História, revelam-se, eviscerados, com os dentes arreganhados a morder quem lhes ameaça encurtar a dor, e o longo histórico de mordomias, encobrimentos e trapaças incontáveis a que se entregaram abertamente nas últimas décadas.
Leia com atenção, perceba a cara de pau desavergonhada de alguns parlamentares flagrados no mais puro exercício da patifaria que se acostumaram.
Veja o quanto envelheceram, apodreceram, encardiram.
Decadentes, enquanto prática e discurso, e incapazes do exercício da política sob os moldes que deles esperam seus eleitores , investem contra a imprensa e, agora, contra o Tribunal Superior Eleitoral.
Pois que continuem desmerecendo seus eleitores e a opinião pública.Pois que continuem sem enxergar a imundície em que se meteram e se acostumaram.A Polícia, a Justiça,a Receita, o povo e o voto irão alcancá-los, disto não tenham a menor dúvida. É só uma questão de tempo.
A paga tá a caminho. As exceções, poucas, serão poupadas, se trabalharem muito, e forem capazes de convencer seus eleitores que nem todos os políticos são iguais.

Do que eles se queixam

Existem, hoje, no Congresso dois alvos de crescente hostilidade manifestada em meias palavras por deputados e senadores: os jornalistas e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os jornalistas são acusados de aumentar o descrédito dos políticos; o TSE, de abdicar de parte do seu poder ao transferir para a Receita Federal a missão de fiscalizar as doações de dinheiro para campanhas eleitorais.
A deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP) resumiu o sentimento dos seus colegas ao discursar na última quarta-feira:
- Hoje, qualquer apresentador de TV se sente no direito de fazer deboche, achincalhar os deputados. Não se trata de censura, mas de manter o nível, acabar com os exageros.
O que é exagero? Denunciar o mau hábito da maioria dos deputados e senadores de só aparecerem para trabalhar em Brasília entre terças e quintas-feiras?
Ou bater nos deputados que salvaram o mandato do colega Romeu Queiroz (PTB-MG), réu confesso do crime de ter recebido R$ 350 mil do caixa 2 de Marcos Valério nas eleições municipais de 2004?
Bem, para combater os erros da mídia e pedir reparação por eles, qualquer um pode ir se queixar na Justiça. E jamais a mídia foi tão processada entre nós como nos últimos cinco anos. Faz parte do jogo.
Quanto às queixas contra o TSE, servem para dar razão aos que acusam os políticos de desejarem seguir se beneficiando de “recursos não contabilizados” antes, durante e depois de campanhas eleitorais.
Eles alegam que a Receita Federal é um órgão subordinado ao governo. E que o governo disputa eleições. Logo... Logo a Receita poderá favorecer os partidos que estão no governo e perseguir seus adversários.
O raciocínio não resiste a cinco minutos de exposição ao sol.
Primeiro, a Receita Federal, assim como tantos outros, é um órgão a serviço do Estado e não do governo.
Segundo, ela está mais bem equipada do que o TSE para monitorar as contas dos candidatos e dos partidos.
Terceiro, ela cumpriu tal papel nas eleições de 2002 e 2004.
Quarto, caixa 2 é um crime fiscal e a tarefa de apurá-lo não é exclusiva da Justiça Eleitoral, observa com razão o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel.
Por último, a Receita agirá durante as campanhas mediante ordem da Justiça.
Sem querer, o deputado Francisco Dornelles (PP-RJ) expôs o verdadeiro receio dos seus colegas diante da decisão do TSE de tornar definitiva sua parceria com a Receita Federal:
- Que empresa vai querer doar para campanhas sabendo que o tribunal vai mandar seu nome para a Receita?
Ora, Dornelles, todas as empresas que fizerem doações de acordo com a lei.
Elementar, meu caro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Juvencio,

sobre o post o "Cerco se fecha", seria conveniente que os ilustres parlamentares ao invés de dirigirem invectivas contra a imprensa, deveriam se esforçar para reconquistar a legitimidade perdida. Quanto mais pressão da sociedade civil, melhor para a democracia e para as instituições republicanas.

Helenilson Pontes

Unknown disse...

O senhor tem razão,dr. Helenílson, que honra o blog com sua visita.Duro é acreditar que portadores de velhos hábitos se disponham - e mais, consigam - mudar. As invectivas contra a imprensa ,em minha opinião, mostram que ainda desta vez eles não perceberam por onde a bola passou e ainda ensaiaram uma antiga defesa como essa de responsabilizar a imprensa,como se fosse um genérico a venda em qualquer farmácia.
Esqueceram os donos dos jornais,aqueles que realmente "fazem" a notícia.que,aliás fizeram cara de paisagem.Quer dizer,até no momento de se explicar os parlamantares mistificam.
Já a pressão da sociedade precisa encontrar espíritos permeáveis, formados em outras temperas que não essas práticas decadentes que comentamos.
A favor da república e de seu espírito, invoco o novo,o risco,a aposta,a mudança.
Este é o desafio:erguer novas pontes para o futuro.
Boa sorte e um abraço.