24.12.05

Procurando Beckett

O blog tem seis leitores e quatorze links. É pra eles que vou contar essa história.

Entrei apressado na livraria.
Nova Déli, oops... Belém estava infernal. É Natal e nem os vendedores de livros escapam da histeria consumista da saison. Na minha vez, perguntei ao rapazinho:
- “Tens O Primeiro Amor, do Beckett?”.
-“Bé o que?” perguntou.
-“ Béqueti”,respondi,soletrando.
-”Como se escreve?”, insistiu.
Virei as costas e saí aborrecido.
Empurrei a porta de vidro do comércio de livros e caí num desvão da memória.
Estava em São Paulo, no Conjunto Nacional, coração da Av. Paulista.
Começava a visita pelo quiosque da Viena, coração atrás da mais fantástica coxinha de galinha do mundo. Uma Coca de 600 e a sobremesa, torta de limão, irretocável.
Forrado e feliz, ia aos livros. Três livrarias, sinônimo de dívidas no cartão. Mas encontrava o que precisava, recebia ótimas sugestões e ainda ouvia a pergunta, na hora de fechar a conta:
-“O senhor é autor? É que tem desconto”, explicava o vendedor a um cliente encantando com a possibilidade de um dia vir a ser um escritor.
- “Ainda não, ainda não”, ria pro cara, tentando me enganar.
Saí do Conjunto Nacional... e dei uma topada na calçada esburacada de Belém, oops... Déli.
Chovia e precisava encontrar o Beckett. Teimosia de quem não tem a paciência de autor. E ainda tinha que voltar rápido pra casa. Havia um pernil a ser temperado, cheio de buraquinhos com pedaços de folha de louro.
O Primeiro Amor?
Comprei pela internet.
Enquanto espero Beckett, um ótimo Natal prá todos vocês, seus
seis.

7 comentários:

Anônimo disse...

Caro Juca não quero acreditar que se trate de uma farsa metafísica, mas sim de um salto quântico através de tua rede neural. Vamos em frente, você poderia ter dito ao pobre vendedor que "o maior delito do homem é o de haver nascido", afinal ele passaria o resto do ano pensando a respeito, sei que me engano, não pensaria. Mas dê um desconto, pois aqui em Bombaim ooops, Mumbai oooops ... São Paulo, há ilhas de excelência e a exceção se encontra por lá. Grande post, ainda bem que você não abandonou a idéia de um dia ser escritor. Grande abraço meu amigo! (um dois seis)

Anônimo disse...

Juca, gostaria de republicar teu post no Ancestral, posso? Abração!

Anônimo disse...

que bacana esse texto!! viagens que são um pedaço da minha cara...rs Assim como o Ancestral, quero ir no lançamento desse livro de crônicas um dia! bj

Unknown disse...

Ancestral...hahahaha,não me veio a cabeça a resposta que poderia ter dado ao vendedor..hahaha,seria umabela "vingança".Mas estou gaztando a minha ração de escritor aqui no blog...rs.Mais real!
E já fui lá no Biólogo perdido agradecer.Aparecer prá aqueles caras lá,só feras,caraca...
Abração!

Unknown disse...

Alê,querida,o comment de cima serve prá voce...rs...nada de noite de autógrafos..r.B

Anônimo disse...

A MODESTA DEVERIA SER CONTAGIOSA. ÀS VEZES É. QUE PENA SER EM PEQUENA DOSES.TALVEZ SEJA MELHOR ASSIM, COMO OS BONS UISQUES E VINHOS.

NEUCIVALDO MOREIRA

Unknown disse...

Voce acaba de dar uma demonstração de como é fácil,para os poetas,escrever bem.E publicar!
Muito obrigado Moreirão.Mas amanhã eu vou mostrar aqui no blog um post sobre um escritor de verdade.Abração,Mestre.