Uma história vivida por um comentarista do blog, o engenheiro florestal paroara Marky Brito, hoje morando no Acre. Foi postada ontem, a respeito do post Risco, sobre as fatídicas aparelhagens de som que azucrinam a cidade, e otras cositas mas. Muito más.
Imagine um casal com um filho recém-nascido ter que aguentar uma aparelhagem bem ao lado do seu quarto. Foi o que aconteceu comigo quando tive meu filho em 1999 e fui morar em Marituba, uma das principais fontes dessas porcarias.
Primeiro, tentei argumentar com o dono das festas, o que obviamente não adiantou. Então escrevi uma cartinha para o IVCezal descrevendo a situação e convidando (desafiando também) um juiz, um delegado e um prefeito a dormirem uma noite de festa em minha casa. 
A carta foi publicada e recebi vários telefonemas e e-mails de pessoas na mesma situação.Um delegado da DPA, que infelizmente não recordo o nome, apareceu em casa. 
Foi uma surpresa, com o pessoal de casa me telefonando para saber o que eu tinha feito. O delegado averigou a situação e interditou o "local", condicionando sua reabertura ao atendimento de toda as exigências legais.
O delegado deixou ordens na delegacia de Marituba para averiguar se o fechamento estava sendo cumprido. Os bate-paus da delegacia, mui amigos do dono do local, permitiram que o mesmo funcionasse. 
No mesmo dia telefonei para o delegado, que tinha me dado seu número de celular. Ele estava em sua casa e quase não conseguia me escutar devido ao som da aparelhagem. 
Mandou uma viatura na mesma hora, que mais uma vez interditou o local.
Como resultado, o dono procurou um polítco conhecido em Marituba pelo seu apoio a esse tipo de festa. Não adiantou, pois o delegado era aquele mesmo que tinha mandado fechar os bares em Belém à meia-noite. 
Hoje, a única coisa que acontece por lá são aniversários e outras comemorações mais leves. E, é claro, que fui ameçado pelo dono do local e pelos marginais que o frequentavam.
É importante salientar que não conhecia o delegado, nem algum político que pudesse me dar uma mão. Foi somente com a coragem, uma carta e a ajuda de um funcionário publico que cumpre seu papel, que consegui derrotar aquele antro de violência e barulho.
Pontos que merecem ser colocados:
1. As aparelhagens são resultado da falta de políticas públicas e da presença do poder público, pois, como ainda hoje é possível que caixas de som, de mais de 3 metros de altura sejam colocadas em locais sem nenhuma estrutura para conter o barulho?
2. As aparelhagens são manifestações culturais sim, mas das gangues, traficantes, desocupados e, de um tempo pra cá, de políticos e autoridades que se beneficiam destas. A exaltação do crime sempre existiu, principalmente nas festas mais afastadas do centro urbano. Por isso, não concordo com o ponto 2 do copulatum. Nas festas de aparelhagem a maioria é sim de gente ligada ao ilícito. Faça um levantamento, se tiver coragem de entrar em alguma dessas festas.
3. Qualquer um que afirme que as aparelhagens são fenômenos culturais deveria ir morar ao lado dos terreiros onde estas atuam. Iam ver também as brigas, a venda de drogas e de CERVEJA NO BALDE a menores de idade, a prostituição de meninas, os idosos e crianças sofrendo com o barulho, etc.É triste ver daqui de fora como símbolos do Pará a escravidão no campo e essas porcarias de aparelhagens.
Foram essas algumas das "bandeiras" que sobraram no campo minado deixado pela tucanada e demais irresponsáveis da adminstração pública. 
5 comentários:
Tive a impressão de que o comentário se referia a um dos políticos mais atuantes na área de barulho incômodo: o Wlad.
Caro, Marky!
Eu bem sei o que é viver ao lado dessas caixas infernais. Concordo com parte do que você diz.
Mas daí dizer que as aparalhegens "são apenas manifestações culturais de traficantes e bandidos" é, no mínimo, um preconceito sem fim. Daqui a pouco você dirá que baile funk é cultura de puta, roda de samba, de cachaceiro, e festa de reggae, de maconheiro.
Entendo sua revolta. Morei 12 anos em Ananindeua e também era vítima dessas festas. Mas tentemos nos despir dos preconceitos, por favor!
O problema das festas de aparelhagens está na falta de segurança do nosso Estado. Só nela. A mesma falta de segurança que deixa quelquer festa na periferia de Belém virar cenário da ação de marginais. Marginais esses que, por sinal, poderiam estar em qualquer outra festa que oferecesse as mesmas condições de falta de policiamento (policiamento, digo! Não de outros bandidos travestidos de PMs).
Também não podemos falar da necessidade de regularizar esse tipo de festa. Esse é otro grande problema.
Só pre terminar, uns 6 anos atrás um irmão meu foi numa festa dessas perto de casa, em Ananindeua, e foi agredido por um rapaz que depois disse tê-lo confundido com um homem que mexeu com sua namorada. Quando fomos à Delegecia registrar a queixa, ouvimos do delegado "Ah, mas tu queres ir em festa de periferia e não quer sofrer violência? É assim mesmo..."
Meu Deus!!! Quer dizer que só quem paga caras mensalidades de clubes refinados tem direito de viver sem violência?
É isso que faz contrubuirmos com o preconceito. O comentário do delegado, caro Marky, foi tão preconceituoso quanto o seu...
Esse sr. Maiky Brito merece uma medalha de honra ao mérito. Minhas efusivas homenagens. Muito útil o post, por mostrar que mudar as agruras causadas pela falta de educação de nosso povo exige consciência de cidadania e esforço.
PS - Parabéns também ao delegado. Pena que não são todos...
Cara Waleiska,
Obrigado por entender minha situação. Não sou preconceituoso minha cara e, se fui neste comentário peço desculpas aos que não são marginais e gostam de ir neste tipo de festa.
Entretanto, ainda desafio alguém a ir checar quem é a maioria da "galera" que vai nestas festas.
O problema não se resume só na falta de segurança e preconceito. Vai mais fundo e passa, como escrevi, pela não presença do poder público na vida cotidiana da população.
Isso significa muita coisa, entre elas ter centros de lazer de qualidade e o ordenamento de certas atividades que devem obedecer o mínimo da lei.
Quem quiser ficar surdo curtindo as "caixinhas" das aparelhagens que fique. Mas, o som deve ser isolado como é comum nas cidades civilizadas.
Morei 29 anos em Ananindeua e Marituba e conheço muito de perto o assunto. Existe uma cultura própria desse tipo de festa, geralmente com o cenário que tracei no comentário.
Barulho ensurdecedor, gangues rivais que agora brigam por "suas" aparelhagens, drogas e bebidas servidas no balde a menores. Como fica o resto da "galera" que não curte tal ritual?
Grande Abraço!
Oi, Marky!
Legal que tenhas respondido.
"Ausência do poder público na vida cotidiana da população". Esse é o grande problema!!! É isso que temos que cobrar das "autoridades competentes". E não, colaborar com o preconceito que o próprio poder público tem, de que periferia é mesmo lugar de bandido.
Sabes que um modelo criado aqui em SP vai na direção do que você fala: criação de centros de lazer e cultura de qualidade para a população.
A ex-prefeita Marta Suplicy implatou os CEUS, que são grandes escolas, com piscina, tetro, cinema, quadras. Aos finais de semana, toda a comunidade próxima da escola tinha acesso à grandes espetáculos, cursos de arte, práticas esportivas e a um clube divertido e de qualidade.
Os CEUS foram construídos em área equivalentes ao Aurá, Olga Benário, Bengüi, Terra Firme. Lá se apresentavam nomes de refrência no cenário cultural da cidade, como Débora Kolker, Balé da Cidade, peças de ótimo conceito pela crítica.
Os CEUS reduziram, e muito, o índice de criminalidade nos bairros onde foram implantados. É o poder público mudando a vida da população de fato!
É uma pena que após sua posse, em 2005, o então prefeito José Serra tenha fechado os CEUS aos finais de semana, sob a alegação de que era caro mantê-los. O curioso é que um garoto no CEU custava menos da metade de um interno da Febem...
Aproveito e deixo aqui a dica para a nossa governadora e para o Professor Mário. Que tal a criação de CEUS no Pará?
Enquanto isso, Marky, lutemos e cobremos nossos direitos. Mas sem preconceitos!!!
Beijos!
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