Do reitor da UFPA, Alex Fiúza, no Diário do Pará de hoje.
VIOLÊNCIA NA UNIVERSIDADE OU VIOLÊNCIA CONTRA A UNIVERSIDADE ?
Um dos segredos das modernas nações desenvolvidas foi a prioridade que seus governos e sociedades conferiram às suas universidades públicas. Em plena competição mundial pelo domínio do conhecimento científico e tecnológico, não mediram esforços em investimentos maciços em educação superior e pesquisa, cujos frutos passaram a usufruir ao longo de todo o século XX e, agora, no XXI.
Não foram apenas investimentos públicos. As próprias elites políticas, empresariais, militares e intelectuais, convencidas de que o seu futuro dependia do domínio da ciência, não mediram esforços em criar fundações de apoio, fundos de investimento, redes de cooperação, tudo com o objetivo de destinar às universidades somas significativas de recursos que sustentassem, sem interrupção, o progresso do conhecimento humano.
Hoje, só para se ter uma idéia, 90% dos recursos canalizados para grandes universidades (públicas) americanas, como Harvard, MIT ou Columbia, são provenientes do setor privado.
A mesma receita, atualmente, é seguida com sucesso por países orientais que até recentemente figuravam no rol das nações periféricas do planeta: Japão, Coréia, China e Índia.
No Brasil, a Universidade só foi inventada, tardiamente, no segundo quartel do século XX. As públicas, as que produzem realmente pesquisa – e que formaram, com dificuldades, as gerações que implementaram a “revolução verde” nos campos, a captação de petróleo em águas profundas, a criação de grandes empresas, como a Embraer – essas, consideradas “gasto” (e não investimento) pelos sucessivos Governos, sofrem freqüentemente restrições orçamentárias, são vítimas de campanhas difamatórias por uma parte da imprensa e sistematicamente acusadas pelas próprias elites, que delas se servem para sua própria formação cultural e profissional.
Resultado: o subdesenvolvimento nacional.
As universidades públicas brasileiras, há muito, têm dificuldades para pagar suas contas de água, de luz, de telefonia, quanto mais em fazer investimentos em vista de um futuro melhor para a nação. Sem concurso público em número suficiente para repor perdas de pessoal com aposentadorias e óbitos, foram obrigadas a terceirizar funções de limpeza e vigilância, que hoje consomem, em contratos, cerca de 30% de todo o seu orçamento de custeio e capital que deveria ser destinado integralmente ao ensino. Disso resulta menos livros comprados, laboratórios defasados, salas de aula depauperadas.
Com o aumento da violência, decorrente do empobrecimento da sociedade brasileira, a universidade pública passa a ser, também ela, invadida por assaltantes, sem proteção orçamentária ou comunitária para reagir.
Antes das pessoas em seu interior estupradas, é a própria instituição universitária que é diuturnamente estuprada. Estuprada por Governos que lhe retiram orçamento; por candidatos a políticos que, no afã de conseguir votos, irresponsavelmente incentivam a população pobre a invadir seus terrenos; por profissionais que, nela formados gratuitamente, viram-lhe as costas dentro de seus gabinetes refrigerados; por grupos políticos que, nela atuantes, só estão interessados em dela se servir para sua própria promoção; por empresários que dela só fazem cobrar, sem nada dar em troca.
Uma universidade pública não é uma “ilha da fantasia”. Ela é a cara de sua sociedade. E no contexto de uma sociedade desigual, injusta, maltratada, violentada em todos os lugares e de todas as formas, como cobrar-lhe o que não pode dar?
Quem pode acusar a Universidade? Os governantes? Os políticos? Os empresários? Os que têm dinheiro? Os bem nutridos? A imprensa?
Quem não for estuprador, que jogue a primeira pedra!
8 comentários:
Juca, na USP os estupros são sexuais....
Bom fim de semana
Abç
É Milton, a gente vê os casos da USP. Aqui, como foi o primeiro, omesforço da UFPA é não deixar que o fato sirva de álibi para outros fins.Daí o artigo do reitor, abrindo a discussão.
Bom final de semana para voce tb.
Juvêncio,
o artigo do reitor foi bem menos feliz que a nota paga publicada nos jornais de hoje, que é, esta sim, quase irretocável..
No texto escrito para o Diário, o reitor comete pelo menos duas falhas graves: cai na cilada de se dizer, nas entrelinhas, perseguido pro parte da imprensa, o mesmo argumento do Roberto Brant, Zé Dirceu et caterva; e faz uma anologia, infelicíssima, de péssimo gosto, entre o estupro da jovem e a situação da universidade.
Mas, independentemente deste infausto artigo, o fato é que é preciso debitar a atual situação da UFPA ao Estado- em todos os seus níveis- e aos DCEs e Centros Acadêmicos, altamente partidarizados, que faziam suas passetas explorando a "porralouquice" de alguns estudantes para impedir a aplicação de ações de segurança em diversas ocasiões nos últimos anos...
Olá,Marcelo,ótimo comentário.Faria, entretanto algumas ponderações.No caso,o reitor se refere a parte da imprensa,literalmente,o que difere, na essência da analogia a Dirceu "et caterva".
A analogia do estupro é forte?
Também acho, mas não é falsa.É?
É verdade que , neste artigo, não há menções aos movimentos internos.
Não há estudantes,não há tecnicos, não há docentes.
Ele fala para fora,para voce,por exemplo.
Em resumo, acho o seguinte: a imprensa esta cobrindo corretamente o episódio,até agora, o Ministério Público faz muito bem em entrar no caso,e o reitor propõe uma discussão mais aberta.
Qual é o problema aí?
Tô achando bacana, o encaminhamento de um caso tão, esse sim,infausto.
Mas, aceito críticas em relação a meu comentário.
Juvêncio,
como falei no início da nota, concordo, em essência, com o reitor ( e por tabela, com vc.). Apenas achei que as questões observadas comprometeram o artigo e fizeram-no ficar bem inferior à nota publicada em todos os jornais, que é realmente muito boa. Não há problema em ampliar a discussão, pelo contrário, tem mais é que trazer a sociedade para participar. Mas reafirmo que a analogia foi de muito mau gosto e que se dizer perseguido pela imprensa, ou parte dela, é conversa de político, a não ser que venha acompanhada de provas inequívocas.
E nesse caso do reitor, ele corre o risco de dar uma de Lula (o nosso Luís XIV) e começar a confundir a sua pessoa e a instituição no melhor estilo "L'uni c'est moi" ( mas isso é uma outra conversa...).
Contudo, concordo que essa é uma discussão colateral, e que, de fato, precisamos é construir uma proposta para lidar com essa situação. Lança aí esse desafio pelo blog: idéias (viáveis) para resolver o nó da segurança na UFPA...
Oi Juvênncio,
Quero ver como essa elite mofada e úmida de Belém vai encarar quando uma de suas filhas sofrer uma violência dessa natureza.
Há muito a circulação dos espaços do Campus da UFPa em Belém é assunto para a Polícia Federal resolver.
A mesma elite egoísta, atrasada e velhaca, que pode pagar aos seus um ensino superior particular. Se não o fazem é por avareza ou se julgam mais espertos do que os outros. É comportamento lamantável, tanto quanto o fato em sí.
Aluno bom é aluno que estuda, independe da instituição.
Essa mesma elite burra e cuja a mão natureza já está se encarregando da extinção, é a mesma que cercou o Campus com o que há de mais diverso do que os sociólogos chamam de excluídos sociais. É fruto do inchaço assombroso de Belém.
Quanto ao magnífico reitor. O conhecí num jantar no Roxxi após a diplomação de mais uma turma de Comunicação Social, com habilitação em jornalismo, e outra de Propaganda e Marketing, cuja patrona foi, cumprindo seu papel social, a ex-prefeita de Parauapebas Bel Mesquita. Cidade a 680 quilômetros de distância de Nova Dhéli como o titular do Blogg gosta de definir a capital dos paraneses. Cidade que amo e morei desde os quatro anos quando vim de Marabá para ser alguém na vida.
O reitor Alex Fiúza de Melo pareceu-me uma homem elegante, lúcido e preparado ao defender suas idéias. Na ocasião cogitava com entusiasmo a possibilidade de reelerger-se à reitoria da universidade. O que posteriormente acabou de confirmando como uma votação avassaladora.
Para desgraça de seus detratores, repasso algumas observações do não menos competente ministro da Educação Fernando Hadad. Comentários testemunhados por um deputado federal do Pará após cerimônia em Brasília, ocasião em que se repassou à UFPa R$ 6 milhões através do MEC.
Hadad disse: "Alex é uma dos melhores reitores do país. Está fazendo um trabalho brilhante à frente da UFPa", dentre outros elogios que prefiro omitir para não gerar ciúmes em outros reitores Brasil afora.
Quanto ao estupro. Bem, estupro é caso de polícia, e nesse caso a Federal.
Com a palavra a benfaseja elite paraense.
Val-André Mutran
Jornalista em Brasília
Marcelo, concordamos na essência.Isso me basta, por hora. Quanto as provas inequívocas a que voce se refere, eu as tenho.Daí a tese defendida no post "Cabra Marcado", entre muitos outros.
Apresentarei à voce, pessoalmente, com muito prazer.Faça contato,pois.
Um café bem quente lhe espera, aqui na sala de postagens do blog.
Val-André, obrigado pela visita.
Quanto às suas interrogações sobre a "reação das elites quando uma de suas filhas for atacada" posso lhe arantir que será o silêncio.Já aconteceu, nas depend~encias de uma prestigiada casa e sequer a queixa foi registrada.
Deixo que Contardo Calligaris, o psicanalista que escreve nos jornais dizer o porque do silêncio, úmido e mofado:
"A vergonha é um regulador moral muito mais eficaz que a culpa.
A culpa absolve, a vergonha mancha."
Concordo com suas considerações sobra a velhacaria de nossas elites,sempre disposta à lambeção de qualquer bota, ou coisa pior, desde que seus privilégios sejam mantidos.
Que lambam o quanto queiram.
Mas serão denunciadas, e servirão de chacota é ódio de quem ainda conserva um mínimo de consciencia e dignidade.
Valeu a visita.Abs.
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