17.7.07

Câmbio Forçado

O governo vai proibir o cultivo de cana de açúcar na Amazonia e no Pantanal.
A Pagrisa vai fazer as malas. Ou mudar de ramo.

8 comentários:

Anônimo disse...

A única pergunta que faço é se a governadora Ana Júlia foi ouvida sobre essa decisão que muda, e muito, os planos de futuro do governo do estado.
Com certeza com o prestígio que ela tem junto ao presidente Lula, ele jamais tomaria uma decisão tão drástica sem ouví-la.
Portanto ela foi a primeira a saber da decisão que muda todo o direcionamento que ela própria deu ao seu governo.

Anônimo disse...

A cultura extensiva de cana de açúcar - o deserto verde, nas palavras do pernambucano João Cabral de Melo Neto - é danoso ao equilíbrio florestal da Amazônia.

Unknown disse...

Também é danosa, na Amazonia ou em qualquer lugar do mundo,a tentativa de achacar fiscais e nomear ministros dóceis às urdiduras.
A Pagrisa, e sua enorme, barulhenta e articulada embaixada,levaram o farelo.
Ou melhor, o bagaço.

Anônimo disse...

Juca,

Qual a fonte de sua informação? Quando o governo fez o comunicado?

Unknown disse...

Faça o link, clikando na palavra governo. É de O Globo.

Anônimo disse...

EM SE PLANTANDO

Miriam Leitão (07.07.07)
http://altino.blogspot.com/2007/07/em-se-plantando.html

O presidente Lula garantiu aos europeus que, na Amazônia, não dá para plantar cana. Um estudo da Esalq diz o oposto: que as áreas aptas ao cultivo da cana no Pará podem ser quase o dobro da área cultivada de São Paulo, e o estado tem potencial para ser um dos maiores produtores de etanol. Só na terra já desmatada, a área própria ao cultivo pode chegar a 9 milhões de hectares.

A notícia é de animar os produtores e apavorar os ambientalistas. Só de áreas aptas ao cultivo, depois de analisados solo, temperatura e regime de chuvas, pode ser uma vez e meia todo o espaço ocupado pela cana hoje no Brasil. O estudo foi encomendado, no ano passado, à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) pelo então governador do Pará, Simão Jatene.

Na época, ele queria saber exatamente qual o tipo de pressão que poderia se abater sobre o Pará com a chegada da era dos biocombustíveis. A Esalq, por sua vez, ficou restrita às terras já desmatadas e encontrou todo esse potencial.

O estudo "Produção de etanol: uma opção competitiva para o aproveitamento das áreas alteradas no Leste do Pará", feito pela equipe coordenada pelo professor Weber Antônio Neves do Amaral, chega a conclusões animadoras e assustadoras. Animadoras, porque eles argumentam que o uso do solo já desmatado pode ser uma boa opção de geração de renda para o cidadão e de riqueza para o estado e, ao mesmo tempo, pode conter o desmatamento. Assustadoras porque a dinâmica da ocupação da terra no Brasil indica que isso levará a mais desmatamento. A cana-de-açúcar vai para a área já desmatada e hoje ocupada pelo rebanho, e os pecuaristas entram mais floresta adentro. A indústria da grilagem vai na frente, tomando a propriedade pública, desmatando e queimando a floresta.

"O Pará possui uma vasta região de alta aptidão para produzir cana-de-açúcar: 9 milhões de hectares (o Brasil planta hoje 6,6 milhões de hectares). A produção de etanol no Pará tem boas condições em produtividade, custos de mão-de-obra, de terras e de logística para tornar-se uma das mais competitivas plataformas de exportação do Brasil", diz o estudo.

Segundo a pesquisa, as dimensões do negócio podem transformar o estado social e economicamente "contribuindo com R$ 84 bilhões de investimentos, R$ 36 bilhões de PIB e 2 milhões de empregos". O estudo conclui: "Esses recursos ajudarão a melhorar o padrão de vida do paraense e reduzir as pressões ambientais em áreas com cobertura florestal nativa, já que este trabalho somente levou em consideração as áreas aptas para cana-de-açúcar já desmatadas".

O levantamento foi feito na região hoje ocupada pela "atividade agropastoril, predominantemente pecuária extensiva". As análises de solo, clima, regime de chuvas e declividade do terreno são fundamentais porque a cana-de-açúcar sofre a influência das condições climáticas em todo o curso do ano. Ela precisa, primeiro, de muita chuva para crescer; em seguida, de um período de seca para produzir a sacarose. As temperaturas extremas não podem ser muito distantes. O solo tem que ter as condições adequadas de retenção de água, e a declividade certa. Tudo considerado e, descontadas todas as áreas de proteção ambiental das mais diversas modalidades, terras indígenas, e terra hoje com cobertura florestal, é que se chega ao total das terras aptas à produção de etanol.

"De modo geral, a região leste do estado apresentou predominantemente áreas de média a alta aptidão", diz o estudo. As de maior aptidão estão na região sudoeste, "onde é encontrada terra roxa estruturada, que apresenta boas condições para o desenvolvimento de cana-de-açúcar na maioria dos parâmetros avaliados".

Cerca de 16,46 milhões de hectares foram considerados como "áreas alteradas com potencial de cultivo de cana-de-açúcar", mas, de alta aptidão, foram 9,01 milhões de hectares; 54%. Destes, 374 mil hectares são de alta aptidão climática, sem necessidade de irrigação. Isso é equivalente à área hoje ocupada em Pernambuco com a cultura. Se for considerada a hipótese de irrigação apenas para aumentar a produtividade, o total com alta aptidão sobe para 4,03 milhões, superior à área hoje ocupada com a cana em São Paulo, que é de 2,7 milhões, e é o maior produtor brasileiro. Em outros 4,98 milhões de hectares, as condições de solo, clima e relevo são boas, mas o período de déficit hídrico faz com que seja necessária irrigação.

"Deve-se ressaltar que a Usina Pagrisa (em Ulianópolis) encontra-se nesta faixa de déficit hídrico acentuado e em áreas com condições edáficas (solo e clima) e de relevo favoráveis, mostrando que mesmo nas regiões mais secas o cultivo da cana-de-açúcar no Pará mostra-se viável", diz a pesquisa.

A propósito: foi exatamente nesta usina Pagrisa que, na última semana, a fiscalização do Ministério do Trabalho flagrou a existência de mais de mil trabalhadores escravos, mostrando bem esses dois lados do Brasil. Segundo a Esalq, dos 49,15 milhões de hectares avaliados, 29,6 milhões estão com cobertura florestal, mas 50% desta cobertura estão localizados nas chamadas "áreas de consolidação e expansão produtiva". Ou seja, mais de 20 milhões de hectares já estão desmatados, e o que está com floresta está sofrendo a pressão da fronteira agrícola. O texto da Esalq diz que desmatar mais seria "injustificável". Mas, no Brasil, o injustificável acontece.

Miriam Leitão é colunista do jornal O Globo

Anônimo disse...

O Nélio Palheta andou divulgando que a Míriam Leitão escreveu esse texto com as informações que ele passou a ela.

Anônimo disse...

Como sempre, Míriam Leitão dá a informação, assanhando os predadores habituais, sem atinar para uma questão: o estudo da Esalq é puramente quantitativo, ou seja, avaliou a quantidade de área desmatada e a produção possível nesta área, mas em nenhum momento avaliou o prejuízo ambiental, típico de pesquisadores adredemente interessados em dar arma aos devastadores. Se dona Míriam tivesse a dignidade de ouvir outros pesquisadores, não daria a informação que tanto alegra o pessoal do "desenvolvimento", palavra que tem o seguinte significado no mundo atual: lucro fácil a qualquer custo, enriquecendo os malandros, com ônus para os otários. E os malandros se aproveitam a disseminam a "pesquisa", tentando cegar os otários.