3.7.07

Heranças

Demorou-se em Nova Déli, coisa de tres semanas atrás, um cidadão registrado nos assentos do Instituto Félix Pacheco, cujo nome o blog não conseguiu apurar.
O carioca, um dos muitos funcionários da Rede Globo que tem andado por Nova Déli nos últimos tempos, vem a ser uma espécie de auditor técnico da Rede Globo e, segundo se comenta nos corredores da afiliada local, só se desloca da sede da empresa em casos graves.
O auditor teria detectado um deficit, nas estruturas técnica e operacional da TV Liberal, que demandaria investimentos na ordem de 5 milhões, de dólares.
Aí o pau cantou no centro, lá por trás do Bosque, pois o pacurú que é bom prá investir, necas. Foi um Deus nos acuda!
Jatinho no hangar, sem o convênio Funtelpa, pouca mídia do governo ( o maior anunciante do estado), jornais vendendo cada vez menos, e zero de Y.Yamada ( o maior anunciante do setor privado), fica difícil.
Muito difícil.

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O Instituto Félix Pacheco é o órgão da Polícia carioca responsável pelos registros civis e criminais daquele estado.
Era de lá a carteira de identidade de meu saudoso pai, David, um paraibano de Campina Grande enviado à força para o Colégio Militar de Recife em 1936, aos 15 anos.
A proficiência nas mesas de sinuca e na porrada, levou meu avô a tomar a dura decisão: enfiaram o velho num trem, donde viu pela última vez a cidade natal.
No ano seguinte fugiu para o Rio de Janeiro, onde morou na Lapa e ganhava a vida como funcionário civil do Ministério da Guerra. Foi bi campeão de remo pelo Vasco da Gama, seu time do coração, num quatro com patrão.
Em 1943 chegou em Nova Déli, a convite de um irmão mais velho, que o esperava no Banco da Borracha, atual BASA. Morava num sobradinho na Félix Rocque, atrás da Sé.
Seus grandes amigos - era de poucos - foram Adib Nasser ( Higson, Co.), Rui Borborema ( Laboratório Borborema) e José Oliva ( Armazéns Oliva).
Este último, comerciante das primeiras portas da João Alfredo, era namorado de uma prima de minha mãe, e igualmente enjoado numa briga.
Inda lembro das festas de aniversário da filha única do tio José, em meados dos anos 60, quando ele fechava o quarteirão da Benjamim Constant entre Nazaré e Bráz, para incríveis festas de São João. Numa das esquinas, um fusquinha preto e branco da Polícia guardava a festa.
Foi lá que vi pela primeira vez o desembargador Milton Nobre, que namorava uma sobrinha do meu tio, Olga, mais tarde sua mulher, de quem recordo a beleza e a ternura do olhar.
Naquela época, Sua Excelência cultivava vistosa cabeleira, pela qual nutre, dizem os que tem a honra de privar de sua amizade, imorredoura saudade.
Menos um pouco do que tenho pelo Seu David, fulminado por um infarto em 1989. Ainda vestia manequim 42, com a blusa prá dentro da calça, e casado pela segunda vez com um linda mulher, tres anos mais jovem que seu único varão, que passou batido no invejável currículo do pai, embora a mais de vinte anos descole alguns trocados com a voz, ou escrevendo linhas mal traçadas como essas.
O paraíba era um craque nas duas coisas.
Heranças - essas heranças - que bom quando as temos.
E sabemos o que fazer com elas.

6 comentários:

Anônimo disse...

Agora está explicado esse seu espírito e estilo "carudo " de fazer jornalismo.O paraibano foi em 89 mas ,pelo visto, a energia dele incorporou nos teus dedos e haja a surrar a bandidagem.Dá-lhe "Davidzinho".
I'm sure you had good times and enjoyed when he was side by side with you.Aneways, go ahead and put this energy to try clean this stoled country like you weekly do when you write this pages.
Y're great.

Unknown disse...

Tks, santidade.
Tenho orgulho das minhas raízes e vou continuar machucando os malandros.
Abs

Anônimo disse...

Tua nostalgia nunca é triste. Saudade de suas histórias.
Grande abraço

Octavio

Anônimo disse...

Beijão, Juca, o filho de David!

Eu bem que desconfiava que por baixo desta candura de moço havia sangue paraibano fervendo!

Unknown disse...

Oc, fotógrafo das pessoas...eheh.
Sds de vc e de suas histórias também.Apareça!
Abração.

Unknown disse...

Bia, querida, quem dera!
( a candura, claro...rsrsrs)
Bjs