As Charges,Todavia

Leitor do blog, amigo do poster de vários carnavais, telefona para dizer que não gostou do artigo do blogueiro portugues sobre a questão das charges que satirizavam Maomé, que tanta confusão tem causado na Europa e Oriente.
“Cabe recurso”, disse ele, sentado numa confortável mesa de um restaurante chique de Nova Déli, ao celular.
”E se fosse uma charge de N.Sra. de Nazaré , a padroeira dos paraenses, sentada sobre um evangelho para leigos?”, provocou, safadinho que é.
Levei um susto, naturalmente
Pensei logo em Oswaldinho Mendes e Antonio José Mattos, unidíssimos contra esse chargista do Cujo.
Pensei no pronunciamento arretado de Wlad na Câmara,
No sorriso maroto de Carmona, na indiferença de Edmilson, na dúvida de Jatene.
Nas lágrimas das santas senhoras que, todos os dias, acorrem às obras sociais da Basílica de Nazaré.
Pensei depois, qual seria o chargista paraense - e tem um renca de craques por aqui - que teria coragem de rabiscar esses traços sacrílegos?
Quem sabe não fazer uma exposição e alargar a discussão?
E porque teriam um apelo à sexualidade?
Existem tantos outros tabus no catolicismo que se prestariam a idênticos fins.
Fins?
Teria havido algum nas charges dinamarquesas, fora o simples propósito do humor?
Além do mero, ontológico e histórico ato da criação?
Ou na denúncia de um desarranjo, um incomodo, uma diferença?
A questão, amigo, não está na santa ou no profeta, passa por eles.
E é por isso que gosto do artigo do purrtuga.
A questão está, por exemplo, no monumental abismo à que está submetido o Islã.
Na maneira fugaz e violenta que a mídia informa, forma, deforma.
Ou no corrupio do caleidoscópio de nosso processo de recepçao à fenomenos como esses.
Convocam-se à contenda as poucas alternativas de defesa contra toda essa entropia, entre elas os direitos fundamentais.
Aí o purrtuga arrebenta.

Vejam mais embaixo, o último post da quinta feira, sob uma bandeira que é muito maior que a Dinamarca.
Por isso, realmente, somos todos dinamarqueses.
Inclusive- e desculpem - o Islã.
Leia de novo o artigo, meu amigo.
Ponho fé.
Que venham as charges.