23.8.07

Razão e Emoção

A diferença entre o número de comentários, e seus conteúdos, nos posts Sou Parense e A Ciência Entra Em Campo, publicados ante ontem aqui no Quinta, comprova duas velhas e sólidas teses do blog.
A primeira diz que contra antigas emoções, não há novas razões.
A segunda diz que contra fatos, não há argumentos.

8 comentários:

Anônimo disse...

Sinceramente mestre não é razão para tanto.
Em relação à Ciência entra em campo. Acredito que trata-se de um belo trabalho (ensaio acadêmico), com um tom moderado, conciliador e científico. Entretanto, me parece encomendado pelos que desejam manter tudo como dantes no castelo Abrantes.

O professor doutor, diz, diz, e diz e no final, afirma que em vez de mudar a Capital ou dividir o Estado deveriam os paraenses abandonados entrar no jogo do empurra, empurra.

Vamos redifinir os atores, redistribuir as tarefas e poderes, redesenhar a organização para que os novos autores ganhem poder político.

O problema da re-ordenação territorial do Brasil não se resume ao problema paraense como quer crer o emérito professor, mas, um problema muito mais complexo,

O que está em jogo é o péssimo aproveitamento das riquezas do país que empobrece a todos, do Rio Grande do Sul até Roraima, extendendo-se ao Acre e ao Amapá;

De nada adianta acomodar as partes com promessas que não podem ser cumpridas porque não dependem do povo paraense.

Essa proposta do professor de literalmente comprar os atores em disputa para manter o latifúndio é inócua, vazia e sem conteúdo.

Penso que a dicotomia não é no sentido norte - sul como dão a entender os conservadores, mas, no sentido Leste - Oeste.

As antigas capitanias hereditárias têm 438 deputados, 57 senadores e 19 governadores contra apenas 73 deputados, 24 senadores e 8 governadores do lado espoliado.

Eles tudo podem e tudo aprovam, para eles é claro e nós para além de Tordesilhas vamos ficar chupando pirulito para século, seculorum. Eles tem um PIB de l,5 trilhões de reais e os do oeste R$ 159 bilhões.

Belém está no extremo norte das capitanias hereditárias e é aliada natural dos que tudo podem. Isso há séculos.

Não apenas o Pará deve ser dividido, mas, Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso, Amazonas, Maranhão e Piauí. Em outro artigo, o economista Roberto Castro, demonstra que metade dos brasileiros estão amontoados como sardinhas num território igual ao Japão. Pura estupidez.

O conto da conciliação é muito antigo e tem o propósito de levar os emancipacionistas ou "esquartejadores" como gostas de se referir a nosotros no bico.

Aliás, um arma mortal sempre utilizada pelos milionários do sudeste. Toma aí, cem mil e cala essa boquinha faladora. Fique quieto que o negócio é na sala, não na Senzala.

Enfim, o artigo enche muita lingüiça, é muito bonito, como se devia esperar de um doutor da USP, mas, bota panos quentes no essencial e propões deixar tudo como está.

Assinam
Val-André e Roberto Castro

morenocris disse...

Juca, no blog do jornalista Val-André Mutran está disponibilizado um artigo interessante, pela ótica de um administrador.

Tudo o que está sendo colocado sobre o assunto no Quinta Emenda tem sido esclarecedor. Obrigada.

Todas as reações são positivas, uma vez que elas nos servem de termômetro.

Às vezes extrapolamos porque somos latinos mesmo...sangue quente. E isso é bom...faz parte também do jogo das idéias, dos debates...

Tudo está ficando colorido...no bom sentido, é claro !

Beijos.

Unknown disse...

Não é um trabalho encomendado, Val-André, como os demais trabalhos supostamente científicos apresentados, e nem é recente.
Joga mais luzes sobre a discussão, como voces, separatistas, tem feito.
Roberto, é um prazer recebê-lo por aqui.Vc chega mui bem acompanhado.
Abs aos dois.

Anônimo disse...

o senhor Val-André não leu o artigo direito. Releia

Anônimo disse...

Sei não...

O ensaio fala de "fortalecimento dos municípios", "revigoramento do poder local", etc., como ponto do qual emergem os movimentos separatistas.

Ora, o que é possível demonstrar, é que tem ocorrido um enfraquecimento -- e não um fortalecimento -- dos municípios.

Esse processo decorre, da municipalização das responsabilidades do Poder Público, sem que a receita pública tenha sido redistribuída na justa proporção.

Aos municípios cabem responsabilidades crescentes com saneamento, urbanismo, educação, saúde, educação, iluminação pública, disciplinamento do trânsito, etc. Muito mais responsabilidades do que eles tinham há 20 ou 25 anos.

Mas a receita pública continua concentrada na União. A soma da receita pública que cabe aos 5.560 municípios brasileiros corresponde a pouco mais de 8% da parcela que cabe à União.

Isso enfraquece -- e não fortalece -- os municípios. Hoje, os municípios brasileiros estão reduzindos à condição de pedintes. Seus mais necessários e urgentes projetos só se viabilizam se financiados com recursos da esfera federal ou estadual.

Para completar, há a própria inação dos poderes locais. Na maior parte do mundo civilizado, a arrecadação do imposto incidente sobre a propriedade imobiliária urbana corresponde a 2,5% ou mais do PIB. No Brasil, 0,5%. No Pará, menos que isso.

Isso reduz ainda mais a capacidade financeira dos municípios, fazendo com que os prefeitos se tornem pouco mais que Secretários de Estado, totalmente dependentes dos repasses obrigatórios ou voluntários da União e do Estado.

No Pará, em que pesem as críticas que podem e devem ser feitas aos governantes estaduais, deve-se reconhecer que as áreas onde o sentimento separatista é mais forte têm, pelo menos, sido beneficiadas na divisão do bolo tributário estadual. O Estado lhe tem destinado uma participação mais que proporcional à geração de renda tributária nos respectivos territórios.

Claro que isso é insuficiente, até porque o próprio Estado é vítima, tanto quanto ou mais que os municípios, do processo concentrador. Veja-se, a propósito, as conseqüências do tratamento tributário conferido ao setor mínero-metalúrgico, à geração de energia elétrica, à "Lei Kandir" e mais um monte de etcs. (entre eles a própria modelagem do setor mínero-metalúrgico e sua baixa repercussão da geração de postos de trabalho nas áreas onde os empreendimentos estão estabelecidos).

Não vejo como o desmembramento do Estado pode incidir positivamente sobre esses problemas. Sinceramente, a coisa parece mais um factóide.

Elias Tavares

Unknown disse...

Mas é claro que sim, caríssimo.

Entendo o "fortalecimento do poder local" como derivação do amadurecimento - politico e econômico - dos grupos regionais e sua interseção, tão velada quanto intensa, com a também fortalecida economia meso regional e seus ícones minerais, comerciais e agro-industriais,
Seu dados, Elias, comprovam o enfraquecimento "orçamentário" dos municípios, de resto um fenômeno nacional, o que dificulta a aceitação da tese do esquartejamento como solução.
Preocupa-me, sobremaneira, o day after dessa questão, no caso da não aprovação do plebiscito pelo Congresso, ou de seu veto pelo presidente, a primeira mais provável do que a segunda.
O movimento já dá sinais, inequívocos, de um certo "frisson", por assim dizer.
E, pior, não consegue alinhavar uma linha de raciocínio eficiente, resistente, aglutinadora. E as bobagens emanadas da capital, com o notável concurso das personalidades que andam dizendo asneiras, vão no mesmo caminho.
As meritórias e importantes razões da emoção, ou do sebastianismo, como prefiro classificar, dão o combustível necessário á insensatez.
O plebiscito, se vier - e torço por ele - tem que ser precedido de um amplo e público compromisso de respeito aos resultados, por todos.
Quem sabe o plebiscito é uma, digamos, passagem de nível, para a sociedade paroiara?

Um abraço, Elias, e apareça sempre.

Anônimo disse...

É isso aí, mestre Juvêncio.

O enfraquecimento orçamentário dos municípios repercute fortemente nas esferas econômica e social.

É o que se nota pela participação dessas regiões na geração da receita tributária efetiva.

Essa receita é um indicador do volume de negócios e, portanto, do porte da atividade econômica que de fato beneficia a região (uma empresa que só retira riquezas, gerando poucos empregos e ainda menos impostos, poucos benefícios proporciona).

Mas, como você disse, trata-se de um fenômeno nacional. Remete à organização econômica do país, e não à divisão política de tal ou qual Estado.

Honestamente, difícil perceber de que modo o desmembramento do Pará contribuiria para mudar esse quadro, em que pese o descontentamento e, por vezes, a exasperação das populações dessas regiões. Descontentamento mais que justificado, é bom lembrar.

Anônimo disse...

Juvêncio, agora sim a discussão está saindo do estéril e caindo na fertilidade.
Só hoje pude achar o tempo necessário para a leitura do artigo do professor Gilberto Rocha. Sua contribuição foi a primeira que eu vi, até então, com argumentos técnicos efetivamente fortes, a distinguir o joio do trigo nesta discussão.
Será muito bem-vinda a contribuição de acadêmicos que possuam pontos de vista diferentes, principalmente para a distinta platéia (ou patuléia...).
Discordo do Val-André, com todo o respeito que ele merece, sobre a suposta acomodação proposta pelo prof. Gilberto. Não entendi assim o artigo.