29.7.07

Dilemas do PTP

É ilustrativa das limitações em que está prisioneira a sociedade paroara - e dos riscos que correm os responsáveis pelo PTP em coonestá-la - o resultado das demandas apresentadas pelas lideranças comunitárias de Salvaterra.
Segundo despacho da Agência Pará, entre 12 propostas iniciais elaboradas pelos grupos de trabalho, o asfaltamento e a ampliação de ruas vicinais na sede e nas vilas do município foram as mais votadas, com 76 votos representados.
130 cidadãos estavam presentes na reunião.

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Salvaterra é um município que não possui coleta regular de lixo fora da sede. Não existe saneamento, esgotamento sanitário. Animais são criados soltos pelas ruas do interior, com base no entendimento de que "de dia tome conta de sua plantação, e de noite de sua criação".
Registra casos de leishmaniose e filariose - na sede e nas vilas - além de malária e dengue, endêmicas na área.
O transporte intramunicipal é caótico. Os concessionários de serviços prestam atendimento deficiente, sem sanções por parte da prefeitura.
Não raro as crianças que moram fora da sede deixam de ir a escola por causa do transporte.
O poder público municipal, em algumas vilas, não tem um agente ou representante.
O resultado? Os bares dominam o cenário, submetendo as comunidades a longas jornadas de poluição sonora.
Os serviços de comunicação e energia elétrica são deficientes.
Equivocaram-se as lideranças ao dizer que a população sofre com a falta de asfalto. As vias empiçarradas, salvo nos momentos de pico de invernos muito rigorosos, atendem a demanda de tráfego e o escoamento da produção.
A construção da ponte sobre o rio Paracauari, largo e profundo, e sem rebatimentos socio economicos até no longo prazo, é uma viagem de ácido. A do Camará, não.
Espera-se que o governo do estado não escolha o caminho mais curto, embora o asfalto seja mais barato, e concentre-se na discussão e atendimento aos valores mais elementares a cidadania: as prioridades menos votadas.
Declarando que "a comunidade sabe o que quer", o coordenador do PTP na região bem que poderia fazer uma reflexão - longe de preconceitos e do clima agradávelmente cálido das assembléias - ponderando a historicidade de práticas que levam as comunidades à inversão de suas prioridades.
Sim, o resultado pode trazer alguns solavancos ao processo, mas solidifica a construção de uma relação dialógica com as comunidades, e valoriza a respeitável metodologia escolhida para discutir as suas demandas.

16 comentários:

Anônimo disse...

Caro Juvêncio,

Enquanto o Brasil não se livrar, outrem que a corrupção, a impunidade e a bandidagem, do populismo e da demagogia, continuaremos a ser essa colônia. Onde estão os homens de visão e de coragem na política? Homens comprometidos, de fato, com o bem comum? Que não iludem e que não se deixam iludir por esse mito de que "o povo sabe o que é melhor para si" (como se "opinião pública" não fosse induzida)! Creio que os partidos se tornaram obsoletos, guetos, controlados por poucos, ditaduras escondidas que só alimentam a farsa e a continuidade desse estado de coisas putrefato. Não há, dentro deles, espaço para renovação. Não há democracia interna, mas controle de grupelhos. Não vejo saída - vc vê?

Unknown disse...

Olha, meu caro, estava neste justo momento relendo este post, e pensando que vale a pena insistir sim, why not?
Infelizmente não pude estar nesta reunião, como gostaria, já que passo todo meu tempo de folga em Salvaterra há dez anos, e conheço todos os "buracos" por lá. Na "minha vila", que não foi citada no despacho da Agência Pará, e que é o menor dos maiores distritos, com 750 habitantes, a turma é louca por esse tal de asfalto, em detrimento de tantas outras necessidades mais prementes, como as descritas no post.
Decerto existe o risco ou o real aparelhamento de assembléias e processos como o PTP.
Mas ele é uma metologia interessante, inclusive pela cultura de mobilização e participação que agrega.
Eu só não concordo, de forma alguma, que o resultado destas votações seja a palavra soberana, final. A relação, como disse, deve ser dialógica: os dois lados aprendem, e ensinam.
Mas...olha, essa polêmica é antiga na Ciência Política, entre a democracia representativa e a democracia direta.
E eu sempre vejo alguma luz no fim de qualquer túnel.
Abs

José Carlos Lima disse...

Juvêncio.
Você, mais uma vez, acerta ao postar sobre o PTP. A opinião pública vem sendo alvo de debate há muitos e muitos anos. No Governo e na democracia a consulta a opinião pública se faz de 04 em 04 anos e, nesse intervalo, ouve-se os seus representantes. Ouvir 130 pessoas em Savaterra não é ouvir o povo de Salvaterra. Assim como ouvir 5 mil pessoas na região metropolitana também não é ouvir o povo.
Mas para contribuir com essa reflexão retiro, à empréstimo, "mutatis mutandi", frases do poeta Oscar Wilde no livro "A Alma do Homem Sob o Socialismo": "O padrão popular é de uma natureza tal que nenhum artista consegue atingi-lo. É a um tempo muito fácil e muito dificil ser romancista popular. É muito fácil porque as exigências do público quanto a enredo, estilo, psicologia, tratamento da vida e tratamento da literatura estão ao alcance da compreensão mais mediana e do espírito mais inculto. É muito difícil porque, para satisfazer essas exigências, o artista teria de cometer uma violência a seu temperamento, teria de escrever não pelo prazer artístico de escrever, mas para o entretenimento de pessoas semi-educadas, e assim reprimir sua individualidade, esquecer sua cultura, destruir seu estilo e renunciar a tudo que lhe seja precioso."
Estão fazendo uma confusão entre o Governo Popular, que devem ser todos, com democracia direta, que é igual buraco. Não existe meio buraco.

Unknown disse...

Grande Zé, prazer em revê-lo!
Veio de Wilde...eheh. Beleza!

Bem, o perigo é esse.
Mas não é hegemônico no governo, ao que sei, este planejamento participativo mais, como diria, "puro", direto.
Esta diferença teria sido uma das áreas de fricção entre Guedes e o "núcleo duro" do governo.
Sabe-se quem levou a melhor.
Logo que a metodologia começou a ser posta em prática, critiquei a governadora pela sua tentativa, no programa Argumento, em considerar as assembléias do PTP como sinônimo de opinião pública.
Não é não, e nunca mais se falou sobre o assunto. Não dessa forma.

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Falando em opinião pública, Zé, é verdade que voce vai se candidatar a prefeito de Nova Déli?
Conte prá nos!
Abs.

Anônimo disse...

Juca, ainda morador de Joanes, assino embaixo de tido o que vc diz. É impressionante como o PTP acontece em pleno mês de julho em Salvaterra, enquanto nós, trabalhadores, estamos quase que 24 horas tentando ganhar um dinheiro com a atividade turística, sem tempo para o assembleismo e outros leros. E sim, é verdade, estamos sofrendo com a poluição sonora que a Polícia Civil autoriza com alvarás. Um grande abraço, Edvan

Anônimo disse...

É com ironia que leio as palavras do ex-chefe da Casa Civil do governo passado sobre as plenárias do PTP.Até parece que nos 12 anos de governo tucano tivemos um espaço onde a sociedade civil e seus representantes puderam discutir e escolher prioridades para a saúde,educação,transporte,políticas sociais, agricultura, segurança pública...É inegável a inversão de prioridades que tivemos e agora doí no real sentido da palavra qualquer tentativa de se recuperar o tempo e até vidas perdidas(por que não?).Não sou hipócrita de achar que as diretrizes do PTP seriam as ideais, mas achar que iremos voltar pro buraco, isso já é demais.

Anônimo disse...

Que maldade... Mas seguindo o mote, cabe ao comentarista perguntar: mais um pesadelo? Deus nos livre. Mas, de fato, o problema está no modelo, duro e irreal demais, como outrora já apontado na tensão entre os OPs praticados no governo de Edmilson, e no qual não se resolveu a questão metodológica do povo pautar a partir de seu primeiro e justo sentimento de deserdado, sem necessariamente "colar" com o projeto setorial de governo.

Unknown disse...

Edvan, voce por aí ainda!!
Vou lhe visitar nesta semana.
Abraço, e abaixo a merda da música ensandecidamente alta e abaixo a puliça safada que a autoriza!

José Carlos Lima disse...

Juvêncio.
Estou conversando com o PV sobre as eleições municipais em Belém. Entendo que Belém não pode ficar com a opção de continuar administrada pelo rapaz de Tracuatea, que de tão ruim está provocando saudades ou esperanças absurdas no Ex-prefeito Edmilson.
Precisamos criar consciência e construir Belém para as pessoas viverem bem, com segurança e conforto de uma cidade amazônica. Nada de planos mirabolantes. Priorizar por exemplo o Transporte público de qualidade, a urbanização e a segurança das pessoas.
Vou transferir meu domicilio eleitoral, voltando a ser eleitor de Belém, cidade onde nascí e tive a honra de ser vereador e aguardar. Quem sabe?
Quanto aos comentários anônimo, me basta a sua afirmação final: "Não sou hipócrita de achar que as diretrizes do PTP seriam as ideais,..."

Unknown disse...

Olá Zé. Bom dia e obrigado por seu retorno. Concordo com Lauande, quando disse que sua entrada qualifica a disputa.
Aguardemos então.
Abs e boa semana prá ti.

Anônimo disse...

Juvêncio,

Quem é José Carlos Lima, vendido à farsa psdebista, lambe-lambe jatenista, para tratar de democracia (em qualquer sentido)?
Um homem se conhece pelas obras e atitudes, e não pelas palavras. E, no primeiro quesito, o senhor Lima já deixou muito a desejar...

Unknown disse...

Quem é voce prá perguntar?

Anônimo disse...

Concordo com o anônimo das 10:56, ele como eu somos cidadãos e temos direito de concordar ou não com o que vc diz a respeito do Sr. José Carlos Lima, ou não?...A propósito o discurso do Sr. Lima é bonito, mas não passa de discurso, há quem embarque nele... Prefeito de Belém, pois sim, não com o meu voto e tenho certeza nem com o da maioria dos Belemenses...

Unknown disse...

O que foi que eu disse a respeito de Zé Carlos?

É claro que vc tem todo o direito de discordar de Zé Carlos.

Vc é livre para votar em quem quiser.

Mas...como vc perguntou quem era ele. eu tenho o direito de perguntar quem é voce.
Ele, o Zé carlos, também tem esse direito.

Sabe por que?
Porque Zé Carlos assina o que escreve, voce não.
Eu assino o que escrevo, vc não.
Só isso.

Boa noite.

Anônimo disse...

Estivemos juntos no Marajó e como foram agradaveis aqueles breves momentos juntos, mas tinha muito o que ver e não voltei.De de vez em quando meu carioca primo dizia : " Ih !! êle já está em estado de meditação " e estava.Minha primeira visita ao Marajó me mostrou algumas coisas, e meu estado "meditante" me fazia ver a Ilha com um olhar sociológico, alem do de turista de primeira viagem. A primeira é de que pobreza não é causa de violência, pelo menos em Monsarás (a do MArajó é com S) ainda se amarra cachorro com linguiça. Lá as pessoas são de uma docilidade e de uma singeleza indescritiveis, mas com o acesso a televisão e outros meios de informação
as pressões por bens e serviços tanto do poder público, quanto do privado fatalmente virão e sem condições de acesso já não sei qual será o comportamento adotado.Vislumbrei algumas oportunidades de melhoria do tipo uma cooperativa de costureiras para produzir uma Marajó fashion ( não consegui comprar uma camisa Marajoara ) a contribuição dos modelos poderia vir de estilistas locais ( alô Lelé e Dilú ) e na onda eco-social seriam best sellers e um bom case certamente.Capacitar os jovens locais com computadores, tambem facilmente arrumados frente aos up-grades de empresas e as máquinas ainda muito aptas que poderiam ser doadas não custaria nada. A visibilidade social e uso em propagandas das concessionárias ( Telemar ) nada custaria.Arrumar um engenheiro ambientalista e das aulas para os moradores sobre como tratar o lixo seria fácil ( já que o serviço inexiste)e até conheço quem faria isto sem custo e com muita alegria. Não sei se sou um ser onírico, mas acho que estas dentre outras coisas que me vieram à mente são saidas para ensinar a pescar e não mais uma bolsa esmola, que tira a possibilidade de dignidade de medio prazo para a frente.Quanto à ponte sobre o Paracauari em breves dias continuo.Só um certeza ficou o Progresso social só não chega por dois fatores: o emburrecimento que acontece ao chegar a cargos políticos ou a maldade de condenar populações carente à miséria para que qualquer pequena ação sejá considerada a benemerência máxima e seu autor um ídolo e não apenas a obrigação nossa de cada dia. Abraços
Augusto Borborema

Anônimo disse...

Voce é o Juvencio Arruda tem um BLOG, aliás um dos melhores, e Sr. José Carlos tem um madato político, na verdade nem sei, então têm mesmo que assinar o que escrevem, coisa de credibilidade. Já eu sou só uma anônima, sem grande importancia, mas que no fundo no fundo mexeu com vc, estou me achando neh?...Desculpa ai tá?

Da sua fã CAROLINA FARIAS

Boa noite pra vc também....