Por Walter Pinto
No início da década de 1940, Magalhães Barata nomeou o engenheiro e urbanista Jerônimo Cavalcante prefeito de Belém. Jerônimo era paraense, mas residia no Distrito Federal desde criança. Logo que chegou, decidiu colocar em prática um audacioso plano de arborização.
Para o seu gosto havia mangueira demais na cidade, principalmente no velho Largo da Pólvora. Achava que o Largo tinha mais cara de bosque do que de praça. Ordenou, então, que derrubassem as mangueiras.
O plano foi mal recebido pelos 350 mil habitantes da cidade e bombardeado pelos jornais. Santana Marques, entrincheirado em O Estado do Pará, escreveu crônicas demolidoras em defesa das velhas árvores plantadas por Antonio Lemos. Disse o jornalista que às mangueiras devem os adultos, as melhores sombras de verão, as crianças, os frutos mais fáceis do inverno, e os poetas, as mais belas páginas do seu regionalismo.
Em nome da cidade e para o refrigério de todos, Santana Marques solicitou ao prefeito que as poupassem. E encerra o artigo, indagando: “Que será de Belém sem elas, na estação dos soalheiros, cujo rigor sua senhoria ainda não experimentou em toda a intensidade e prazem os céus não experimente nunca?”.
Mas o homem estava determinado e não deu ouvido à voz das ruas. O tiro saiu, então, pela culatra: em vez das mangueiras, quem caiu foi o “prefeito lenhador”, como Jerônimo, o breve, entrou para a história da cidade. Durou no cargo não mais que quatro meses. Convém registrar que a idéia não partiu unicamente da cabeça do prefeito. O outro mentor foi Octávio Meira. Na época, o autor de “Memória do quase ontem” posicionou-se contra a mangueira, alegando que suas raízes eram superficiais e estragavam o calçamento. Na entressafra, as folhas caiam e entupiam os bueiros. E, por fim, os frutos eram perigosos: podiam cair sobre os transeuntes.
Octávio Meira patrocinava idéia ainda mais extravagante: substituir as mangueiras por anódinos oitizeiros. O certo é que, contra a vontade dos Meira – coisa rara – a mangueira tornou-se símbolo da cidade.
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