29.3.07

Balanço

Segundo a revista Istoé, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva previu que a administração da sua correligionária Ana Júlia Carepa no Pará será "um desastre".
É difícil provar que realmente o presidente fez a inconfidência, mas se a nota não passou de maldade da revista, a governadora do PT está contribuindo para dar-lhe credibilidade.
Antes de completar três meses no exercício da mais elevada função pública no Estado, Ana Júlia adquiriu notoriedade nacional. Não por algum feito administrativo excepcional, que ainda não apresentou, mas por fatos escabrosos, que podem dar-lhe um péssimo estigma: a de campeã do nepotismo na atual temporada.
Para esse tipo de deslize o presidente Lula já deu sua contribuição, mandando buscar o cãozinho da família em carro oficial, com ar condicionado e tudo, ou ao patrocinar excursão do filho com os amigos ao Palácio da Alvorada.
É sempre assim: os notáveis costumam encarar o serviço público como uma extensão de suas vidas privadas, permitindo-se todos os tipos de desfrutes do poder.



Assim começa o artigo de Lucio Flavio Pinto que analisa alguns aspectos dos primeiros tres meses do governo Ana Julia. Na íntegra aqui, do Estado do Tapajós.

Um comentário:

Anônimo disse...

Professor Juvêncio,

não há comparação entre mandar buscar o cão de automóvel ou permitir o acesso ao Palácio de jovens em excursão, com a contratação da cabelereira e da manicure da governadora pelo Estado. Buscar o cão ou permitir o acesso ao Palácio pode ser sempre atribuído a um subordinado. Não é de imaginar que o presidente soubesse efetivamente que isso acontecia. Quem já foi ao Palácio do Planalto sabe que é humanamente impossível a quem preside o país dar conta da criadagem e do que ela faz à sua revelia. Enquanto pestistas de primeira hora aguardam na fila para receber um DAS 05, o que chama a atenção na nomeação atabalhoada de serviçais privados da rainha é que o ato foi autorizado pela governadora, que, ao fim e ao cabo, assina todas as nomeações do Estado. Ou seja, não foi um deslize de um subordinado. Foi um ato de vontade de quem governa o estado como se estivesse no comando de seu espaço doméstico, aí sim. Um governo eivado de amigos que não a querem contrariar é o caminho mais curto para levar Ana Júlia a dar razão aos prognósticos do presidente Lula, de que seu governo será "um desastre". Talvez o presidente, que não é muito bom com o manuseio da língua pátria e de seus tempos verbais, quisesse dizer mesmo "é um desastre". Infelizmente, cada pequeno desastre que já dá o tom do governo atual pavimenta o caminho de volta da tucanagem. Há quem aposte que, mesmo mantido o estatuto da reeleição, muito dificilmente Ana Júlia emplacará dois mandatos. Se não for pela vontade do povo, que só dá seu veredito no final, será pela vontade de seus correligionários, acanhados no córner com apenas cinco secretarias enquanto o PAAJ (o partido dos amigos da Ana Júlia) refastela-se ocupando metade dos cargos de primeiro escalão. E não é só. Uma nova secretaria está sendo gestada para dar lugar a mais um amigo. Aguarde e verá. O governo de Ana Júlia é o desastre, ainda que em doses homeopáticas.