11.3.07

A Insustentável Leveza do Nosso Pibinho

As últimas notícias sobre o crescimento do PIB brasileiro criaram insatisfação e desalento, não apenas entre empresários e políticos, inclusive dentro do próprio governo (considere-se a tentativa de linchamento público, em cerimônia oficial no Planalto e na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado da República, pelo “fogo amigo” em cima do presidente do banco Central, Henrique Meireles).

As elevadas taxas de juros ainda praticadas no Brasil foram escolhidas como a principal causa do nosso desempenho medíocre. Ainda que a questão dos juros deva ser objeto de reflexão e estudo mais aprofundado, isto não autoriza o alinhamento automático para eleger o Bacen e a taxa selic como o bode expiatório dos nossos desacertos.

Em primeiro lugar, porque crescimento duradouro, estável e com sustentabilidade, não guarda relação com epifenômenos, - fenômenos que pairam à superfície - como é o caso das taxas de juros, e das políticas monetárias, e fiscais.

Em segundo lugar porque o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) é uma questão naturalmente endógena ao macro-modelo de qualquer economia, suscetível é claro a choques positivos de demanda e oferta agregadas que aceleram ou mesmo desaceleram a acumulação de ativos. A título de ilustração lembremos que o aquecimento ou desaquecimento na economia mundial tem efeitos apenas transitórios no desempenho do nosso pibinho; da mesma forma que a velha fórmula keynesiana – de quando os Estados ainda eram fechados – de esquentar a economia com gasto público.

Não foi apenas o misterioso fenômeno da globalização que minimizou a potência das políticas fiscais e monetárias ao introduzir uma altíssima mobilidade de capital financeiro no planeta. Foram também os estudos mais recentes conduzidos pelos economistas Robert Lucas, Paul Romer, Phillipe Aghion Peter Howitt, Richard Nelson, Charles Jones, e Gregory Mankiw (só para ficar por aqui), que mostraram que tanto teoricamente como ao amparo da história a locomotiva do crescimento é a acumulação não de capital, e sim de alguns ativos intangíveis como a inovação tecnológica, direitos de propriedade, conhecimento, descobertas científicas acidentais ou não, robustez institucional, prestação da jurisdição de forma tempestiva, respeito aos contratos e a bem desejada difusão desses ativos por toda a economia.(Os estudos aqui referidos podem ser encontrados no site da JSTOR, ou do NBER, basta dar uma “googlada”, ou ainda nas excelentes coletâneas de artigos editados pela Elsevier North-Holland, como o Handbook of Macroeconomics organizado por John Taylor e M Woodford, o Handbook of Economic Growth, 2 vol., organizado por Phillpe Aghion e S. N. Durlauf, e o The Oxford Handbook of Innovation, organizado por J. Fagerberg, D. Mowery e Richard R. Nelson).

È importante alguns registros:
a) As economias mais desenvolvidas, como os E.U.A., a União Européia - e o seu bloco dissidente, Inglaterra, Dinamarca etc. -, e Japão, apresentam registros históricos que confirmam as teses daqueles economistas;
b) China e Índia apresentam registros bem mais díspares para o conjunto de ativos intangíveis já referidos, e provavelmente a principal mudança que deu impulso às suas extraordinárias taxas de crescimento no último decênio foram as mudanças institucionais rumo a economias de mercado. Creio, entretanto, que dada a escassez de dados mais seguros seria precipitado e desonesto qualquer conclusão – agora - que nos induza a copiar o modelo daquelas economias (qual modelo?).
c) A economia brasileira patina desde os anos cinqüenta com uma taxa de crescimento anual ao redor de 2,5%, e, descontado o crescimento populacional, esta taxa cai para 1%! E, o que é pior, somos ainda a economia que mais dá importância à política fiscal como indutora de crescimento e acumuladora de ativos fixos financiados com carga tributária digna de um mafioso, o que apenas inibe a criatividade e nos afasta do único caminho que vem dando certo: a acumulação de ativos de conhecimento!

Acho que devemos ouvir mais o ministro Haddad e simplesmente ignorar o ministro Guido Mantega!

Mário Ramos Ribeiro, economista, docente da UFPA e da UNAMA.

6 comentários:

Anônimo disse...

Oi Juvencio,
Legal este ponta pé inicial com artigos de nossos mestres no assunto.
O artigo do Mario levanta com propriedade a importancia dos argumentos da turma do "crescimento Endógeno". Nao sou da área, mas (para dar continuidade ao debate) seria bom também levantar as limitacoes destes modelos e deste grupo de academicos, sobretudo quando aplicada a contextos/regioes "nao industralizados" ou desenvolvidos. Esta teória, sobretudo quando baseada na mudanda tecnológica e R&D, visa primeiramente entender o crescimento em países desenvolvidos, nao?. Como afirma o Prahna Bhardan (Handbook of Development Economics, acho que é de 1995) esta teoria é de limitada capacidade explicativa para entender problemas dos países em desenvolvimento.
abs,

Unknown disse...

Olá, Anônimo.
Também não sou da área...rs,mas acho que tecnologia e conhecimento são fatores decisivos na arrancada e na manutenção de taxas mais elevadas de crescimento de qualquer país.Não conheço os estudos do Prahana Bhardan.
Por precaução, vou aguardar artigo do outro mestre, o prof. Claudio Puty.

Quanto aos artigos, vou procurar viabiliza-los aos domingos, sempre pedindo aos amigos.
O próximo a ser engatilhado é sobre coalizão.

Abs

Anônimo disse...

Oi Juvencio,
é o ricardo. Esqueci de assinar o poste anterior. Estava distraido com a noticia da derrota daquele time.

abs
ricardo

Unknown disse...

Cara, voce não precisa mais assinar...eheh. Seu estilo já está dominado. Só não sabia que voce torcia para aquele outro time...rs
Abs

Anônimo disse...

Caro Juvêncio,

O artigo do Mário levanta questões fundamentais. Certamente não há explicações unívocas ou binárias para o fenômeno do desenvolvimento dos povos. Contudo, ainda que não esgotem as variáveis explicativas, educação, conhecimento e, como resultado da instrumentalização deste, tecnologia, tudo isso associado à solidez institucional de uma sociedade, nas suas várias instâncias de gestão societária, por certo compõem alguns dos fundamentos mais essenciais no contextoi do processo civilizatório em todos os tempos. Em outras palavras - só para não se esquecer: economia é política! Sim, ela não se reduz a números ou fórmulas - esses, apenas refenciais de medição - mas exprime ação coletiva, valores, costumes, capacidade decisõria, cultura! Não há economia sustentável sem política decente e comprometida com o futuro de um povo ou nação. A nossa economia é raquítica? Avaliemos os nossos políticos e a política por aqui praticada (os seus reais interesses e compromissos de bastidores) - e teremos a chave da resposta para tanto escombro e atraso!

Unknown disse...

Sim,caro Anônimo.Obrigado por seu comentário, que subirá à ribalta amanhã.