26.1.08

Bando de Lobos

O produto democrático brasileiro não é de boa qualidade.
Os Legislativos pós-Constituinte têm estado modestos em grandes figuras parlamentares, úteis para disfarçar a mediocridade rapace da maioria.
A hegemonia governamental petista, surpreendentemente, deu meia razão à crítica oposicionista de que o partido não teria quadros, não os técnicos, que a oposição insinuava, mas operadores, hábeis parlamentares e negociadores - o que parecia marca do partido.
Entregues as lideranças do governo a aliados ao PT, está o Executivo submetido a um estilo de administração política que esgotou a paciência do país.
Talvez esteja próxima a hora de mandar o PMDB às favas e de trancar as portas do Estado brasileiro à desfaçatez da política predatória. Uma das condições indispensáveis para melhorar a qualidade do produto democrático brasileiro.

Por Wanderley Guilherme dos Santos, na íntegra aqui.

------------

How can someone like Mr Lobão get such an important job? Because he is a protégé of Senator José Sarney, a former president who is a boss of the Party of the Brazilian Democratic Movement, a ragbag outfit that President Lula needs for his majority in Congress. Mr Sarney's influence stems from the grip that he and his family have exercised on the poor, north-eastern state of Maranhão for decades. O Estado de São Paulo, a newspaper, recently noted that in Maranhão it is possible to be born, cared for, educated, housed and entertained entirely in public institutions named after members of the Sarney clan.

Na The Economist. Na íntegra aqui.

-----------

Os dois artigos, o primeiro linkado aqui no Quinta sábado passado, caminham tão solidários que não deve ser descartada a hipótese, pela inserção internacional de Wanderley - na comunidade científica e fora dela - que o correspondente da revista britânica em São Paulo tenha lido, ou até mesmo conversado com o ( nesta ordem de formação) matemático, filósofo, e cientista político carioca.

Wanderley é um intectual que cria categorias de análise, que acende luzes nas metodologias de descrição dos fenômenos e relações sociais. Daí seu reconhecimento em nível mundial, pois em contraste com o dinamismo das "operações" na política, ou por isso mesmo, alteram-se muito vagarosamente os "objetos" da ciência da política. Dos Santos tem a rara capacidade de perceber, na escala dos centígrados, essas discretas alterações, o que equivale dizer que sua capacidade preditiva é considerável.

Por outro lado, Wanderley não desconhece os números. Dos orçamentos públicos, das contas nacionais, dos balanços e indicadores econômicos. Compreende que chegou ao limite do intolerável, do ponto de vista macroeconômico inclusive, a parcela dos recursos públicos escâncaradamente retirada da circulação social e apropriada por organizadas quadrilhas, em troca do voto nas câmaras legislativas de todo o país. Numa palavra, em troca do apoio político. Wanderley vaticina: ou os predadores, ou o país. E dá nome aos bois: ou o PMDB, ou o Brasil. Será mesmo?

Mas aonde ficam, no modelo de Wanderley, os compradores de votos, os que levaram o farelo aos porcos, os que preferiram a maioria pela cooptação imediata e rasteira, desprezando os outros instrumentos - do plebiscito ao confronto - de formação da maioria? Afinal falamos de um processo histórico, onde o PT é apenas, mas é, a Geni da hora. Nesta ribalta onde ainda petiscam aqui e ali os malsinados mercadores tucanos e democratas, já passaram os aboçalados coturnos verde-oliva, o pessedismo pequeno burguês, o pérfido udenismo, a ditadura Vargas, a república velha... Aonde ficam, então?

Ficam, na conjuntura atual, na sujeição à crítica certeira que Wanderley faz ao partido, apesar da benevolência com que trata seus quadros intelectuais que, salvo honrosas exceções do quilate de Aziz Ab'Saber e Francisco de Oliveira, preferiu acomodar-se ao mercado da política, acoelhar-se à sanha das práticas sindicais, ceder às pressões cotidianas da gestão dos negócios de estado, aos rituais e liturgias do poder, não sem um certo fascínio.

Com isso prosperaram Martas, Idelis e Marinas. Ou Luizinhos, Paulos e João Paulos. É a "meia razão" que Dos Santos admite quanto à correta previsão das oposições em relação à incapacidade desses operadores petistas, Zé Dirceu à frente, um elemento de alta e rara periculosidade.

Qual será, no modelo de Wanderley, a capacidade d0 presidente Lula em rearticular, e com quem, uma nova maioria não predadora, ou menos predadora que a atual, estando seu próprio partido enfiado até as orelhas nas operações do mercado da política, estando seu quadros pensantes pensando na administração do conturbado presente? Eis a resposta de Wanderley:

A democracia brasileira pode melhorar em alguns aspectos, no curto prazo, e contribuir produtivamente para o grande salto à frente. Em outros, entretanto, deverá esperar por épocas mais felizes, quando o Senhor Tempo houver cumprido a tarefa de limpar o palco de tantos larápios e canastrões.

Ou, em livre interpretação: no dia em que um partido hegemônico, ou a coalizão de governo, tiverem um projeto de sociedade, esta sim a representação do grande salto à frente. Isto, o PT está devendo. E para azar dele, e de todos, a paciência do país está esgotada com a nunca dantes tão visível horda de larápios e canastrões, embora - vamos combinar - nem todos estejam no PMDB.

5 comentários:

Anônimo disse...

juvencio, a notícia aqui é do afastamento do prefeito e de dois coroneis da pm pela juíza de direito
marabá sim, tem Judiciário e Ministério Público
rs rs rs rs rs rs rsr
jc
PS - jornais opinião e correito do tocantins
PS acorde cara

Unknown disse...

Não tem nada na página do Correio, JC, e o Opiniao está fora da web há um tempão.
Mande as notícias.

Yúdice Andrade disse...

Wanderley, de fato, sempre faz argutas análises dos fenômenos que enfoca. Deveria ser leitura obrigatória nas escolas. No entanto, por ora, limito-me a concordar com a sua sugestão pragmática: precisamos defenestrar, para ontem, a prostituta governamental. Ela não elege presidente (aliás, nem candidata) e passou uma temporada sem conseguir eleger número expressivo de governadores, mas acaba sempre dando as cartas nos governos. E não interessa quem seja o partido do governo, desde que tenha vencido o leilão.
Ou seja, essa praga precisa parar de eleger parlamentares. Quando não houver mais essa moeda de troca, governos tíbios não se sentirão mais reféns e, de tão grande que já se tornou essa pouca vergonha, a própria política nacional será alterada. Quem nos dera...

Anônimo disse...

CARAMBA, NOTÍCIA FALSA? NO DIÁRIO DE HOJE TEM ALGO, EU CREIO.
O BATRICIA PAGOU MESMO A CERVEJA?
CHUVA, MUITA CHUVA...

Unknown disse...

Tem razão, das 11:13.
Está no caderno Regional da edição de hoje do Diário.