Foram muitos, e cativantes, os comentários ao post Ai de ti, Belém, de Lucio Flavio Pinto, postado sábado aqui no Quinta.
Seleciono dois, e trago-os à ribalta.
Da jornalista e mestre em Comunicação (UFBA) Ana Lucia Prado.
Perfeito o texto do Lúcio nesse aniversário da mangueirosa.
Tenho experimentado uma relação contraditória com minha cidade natal. Amo Belém. Adoro o cheio da chuva de todos os dias deste janeiro molhado. Costumava parar na rua para colher os frutos que as generosas mangueiras me davam de presente (continuam dando, mas já não paro mais).Circulo cada vez menos, afinal, tento com isso (como se possível fosse) não ser mais um número nas estatísticas reais e lamentáveis da violência.
Olho com tristeza para as elites que aqui desfilam (Ah! Lúcio qta. semelhança com Rio em superficialidade e culto ao corpo). Sofro dolorosamente com o surgimento de uma geração de jovens (filhos dessa elite) - salvo pouquíssimos exemplares - sem consciência crítica, vazios e nada interessados em problematizar o destino desta cidade, deste Estado.
É Juca, querido, pode parecer que esta velha professora e jornalista que te fala aqui começou a achar que o copo está sempre "meio vazio".
Não é nada disso... preservo com unhas (curtas, bem verdade) e dentes a cultura de resistência, mas apenas o eco da canção de Alcyr Guimarães se repete na minha mente:
"Olê, Olá Belém....
Na janela que se abre aos meus olhos,
me embriago na tua coreografia.
Vivemos como dois aposentados
rabugentos e cansados,
e até nos querendo bem...
Do doutor em Economia (Universidade de Berlim) Ricardo Guimarães, que mora na Alemanha.
Um belo texto este do Lúcio. Foi escrito para Belém, mas traduz a realidade de todas as capitais do nosso País.É como Tolstoi: se quer ser universal cante a sua aldeia....
Parece mentira, mas fazendo as contas já estou quase 15 anos fora de Belém. Voltei a morar em Belém em 2001 (9 meses), mas arrumei as malas e ganhei o mundo de novo.
Posso te dizer que durante todos estes anos nao teve (e tem) um dia que nao pense na minha cidade, nos meus amigos, na minha familia.
As lembrancas sao muitas e, posso dizer, muito boas.
Mas a cada retorno a minha cidade sinto uma mistura de amor e ódio. Amor por que me sinto em casa; cada esquina é uma estória, uma lembranca feliz. Mas confesso que também nao reconheco mais a cidade que deixei no início dos anos 90.
A forma que ela tem tomada nao me agrada, me entristece, me deixa puto mesmo. O artigo do Lúcio traduz bem estas mudancas. Toda vez que volto de Belém pro lugar que escolhi morar, leio e releio um poema do Ferreira Gullar chamado Praia do Cajú que me faz sempre pensar que quem mudou fui só eu ou a cidade que deixei.
2 comentários:
Resista, Ana! Sua competência, preparo intelectual e, sobretudo, condição de educadora podem ajudar muito!
Franssinete,
Obrigada pelas palavras carinhosas.
O reconhecimento de pessoas como vc é que move nossa resistência.
Um forte abraço
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