Por Lucio Flavio Pinto, na mais nova edição do Jornal Pessoal, já nas bancas.
A primeira universidade federal do interior da Amazônia devia chamar-se Universidade Federal do Tapajós, com sede em Santarém, conforme o projeto original. O nome simbolizaria seu compromisso com o rio: geográfico, conceitual, humano e social. À última hora o governo pediu para fazer um novo batismo e a instituição passou a chamar-se Universidade Federal do Oeste do Pará. A sigla é um desastre: UFOPA. Além da sonoridade ruim, deverá provocar associação imediata – mesmo que inconsciente – com os UFOs, os objetos extra-terrestres. Estará condenada aos mal-entendidos e à ironia.
O primeiro foi justamente o que impôs a troca do nome. O governo deu mais importância à possível interpretação de que a universidade será mais um passo – talvez decisivo – para a emancipação do Oeste do Pará, bandeira de luta que periodicamente é desfraldada e gera passionalismos, como agora. O projeto, porém, não faz qualquer referência ao separatismo. Nem devia: a iniciativa tem um horizonte mais largo, sem vinculação a conjunturas, por mais importantes que elas sejam. A universidade deve existir independentemente de os atuais municípios paraenses continuarem como estão ou se tornarem uma nova unidade federativa.
A supressão do Tapajós nada contribui para manter o status quo ou modificá-lo quanto à organização jurisdicional da região. Mas suprime uma simbologia que daria singularidade à nova universidade no conjunto das instituições de ensino superior do Brasil. A Amazônia precisa urgentemente de uma fonte de saber comprometida com seu perfil fluvial, identificada com sua cultura ribeirinha. Não apenas para recuperar essa identidade, violada pelo rodoviarismo colonial e pelo saque às terras altas da região, vilipendiadas e degradadas, vítimas de uma ocupação acelerada (e celerada), que não lhes dá a oportunidade de ajustar seu uso às suas determinações naturais.
A Amazônia precisa também de um centro de conhecimento que traga para a sua bacia hidrográfica a experiência de outros povos em áreas semelhantes e projete um modo de conciliação entre a presença humana e essa paisagem, que, apesar de tudo, ainda constitui a feição mais amazônica dos ecossistemas e da conformação humana da região. Esse centro se comprometerá a mostrar ao Brasil e ao mundo que essa é a grande reivindicação da Amazônia, sua maior aspiração, seu direito superior: retomar a sua história aquática, à margem dos grandes cursos d’água, projetada para o futuro.
O projeto, formulado pela direção da Universidade Federal do Pará, aprovada pelo governo federal e em tramitação no Congresso surge exatamente quando o IBGE anuncia que a Amazônia foi a região brasileira que mais expandiu sua área plantada no país entre 1996 e 2006: enquanto a expansão nacional foi de 83,5%, a regional atingiu 275,6%, praticamente triplicando em uma década. Na Amazônia o crescimento foi tanto da lavoura quanto da pecuária, que se estabeleceram em áreas novas, derrubando floresta.
Isso é um absurdo. A pecuária devia estar restrita, intensificando-se tecnologicamente onde já se acha estabelecida. Derrubar árvores para formar capim é um traço da irracionalidade na expansão da fronteira que já devia ter sido abolido na Amazônia. Quanto aos alimentos, deviam ser produzidos nas várzeas, 150 mil quilômetros quadrados de terras marginais que o Amazonas fertiliza anualmente, sem o sacrifício das matas de terra firme, a floresta verdadeira (ou kaapor), segundo os índios. Uma universidade comprometida com essa “última página do Gênesis” podia, finalmente, possibilitar que o homem se muna de régua e compasso para escrever inteligentemente essa página, expurgando os garranchos dessa escritura inventiva.
O projeto da UFPA habilita a nova universidade a atender as demandas do presente, que são intensas e estão modificando a fisionomia multissecular do antigo Baixo-Amazonas (hoje, para a redivisão ou a manutenção, tratado por Oeste do Pará), mas precisa de ajustes. Não dá a ênfase necessária às várzeas, não tem um setor forte em hidrologia, hidrografia, limnologia, pesca, monitoramento de satélites, meteorologia, etc. E uma lacuna a ser preenchida, a engenharia naval, que daria continuidade à larga e rica tradição dos estaleiros nativos.
É preciso afastar a bitola do separatismo e do anti-separatismo da nova universidade para que ela brote, no fértil terreno do Tapajós, como o húmus da inteligência no reino da natureza, finalmente conciliada com o homem.
5 comentários:
Bom dia, Juca.
Vou levar este post para o blog.
Beijos.
Me leve junto, querida...rsrs
Bom dia prá vc.
Bjs
rsrs
Olhe, não brinque... rsrs
Beijos, te amo!
rsrsrs...
Olha os Ufos aí... rsrsrs
Cris, eu posso ir junto? rsrsrs
Postar um comentário