Do jornalista Lucio Flavio Pinto, a propósito das críticas que recebeu na caixinha de comentários do post Problemas de Orientação, de quinta, 20.
Para que a polêmica tenha por base exatamente o que escrevi e não o que me atribuem, esclareço que na primeira edição do Jornal Pessoal já na administração Ana Júlia Carepa, em janeiro, sugeri ao novo governo que revogasse o termo aditivo assinado, no dia 31 de dezembro de 2006, pelo ainda então presidente da Funtelpa, Ney Messias, que prorrogou o falso convênio com a TV Liberal até 31 de dezembro de 2007.
Uma vez revogada a prorrogação, o "convênio" perderia de imediato a sua validade, desobrigando a Funtelpa do pagamento mensal de aproximadamente 470 mil reais. A partir daí, a fundação poderia instaurar inquérito administrativo e fazer o que quisesse nesse plano, ou de pronto ajuizar ação de nulidade do falso convênio (que é contrato para todos os efeitos legais), indenização, denúncia por crime de improbidade dos responsáveis pela ilegalidade e etc. e etc. A revogação imediata do aditamento, fazendo cessar a relação comercial e a mútua obrigação, limparia o terreno para qualquer tipo de procedimento, sobre cujas variações e hipóteses tantas divergências se manifestaram.
Não adotando essa medida acautelatória primária, o governo do PT abriu uma enorme avenida, pela qual o advogado Frederico Coelho de Souza trafegou com desenvoltura no recurso administrativo interposto contra a decisão da governadora, de referendar a decisão da Funtelpa, que, administrativamente, declarou o "convênio" nulo, suspendeu o pagamento e tentou equivocadamente punir os ex-presidentes da Funtelpa, MAS MANTEVE A PROGRAMAÇÃO DA TV LIBERAL NO AR, ATRAVÉS DA TV CULTURA (enquanto a decisão judicial vigente, na ação popular originalmente impetrada pelo deputado Vic Pires Franco, que, depois, atendidos seus interesses pessoais, a abandonou, é de que a esdrúxula relação, contra todas as provas contrárias, é válida).
Ora, se o "convênio" foi anulado, por ilegal, qual o fundamento de manter a programação no ar? No recurso, Frederico disse que a emissora dos Maiorana investiu bastante para criar uma programação local e, assim, atender a principal exigência da Funtelpa para a assinatura do "convênio": de promover a integração cultural do Pará. Essa dita programação cultural continua a ser veiculada pela TV Cultura, mas a Liberal não recebe mais os R$ 470 mil remunerativos do seu serviço, prestado religiosamente em dia (o advogado, evidentemente, não diz que a emissora dos Maiorana não faz altruísmo: esses programas ditos locais são patrocinados por empresas particulares, dentre as quais a extorquida CVRD).
Nenhum dos argumentos do recurso administrativo foi considerado pela governadora, quando ela indeferiu o pedido de reconsideração da TV Liberal, mantendo a decisão da presidente da Funtelpa. Qual é a classificação que os nobres advogados dão a esse procedimento? Cerceamento ao amplo direito de defesa, que é garantia constitucional? O contraditório e o devido processo legal foram para o espaço. Mas serão devidamente argüidos quando - e se - a TV Liberal recorrer à justiça, findo o prazo de vigência do "convênio", em 31 de dezembro.
Essa avenida foi deixada aberta por desinformação, interpretação obtusa ou má-fé? Por enquanto, não se pode definir. Mas a resposta virá no futuro, embora talvez tardiamente, quando a emissora dos Maiorana for reivindicar em juízo os seus direitos, aproveitando-se dessa terrível lacuna.
É isso o que escrevi e é sobre isso que devem se manifestar os que endossam meu ponto de vista ou divergem dele. Não é preciso agredir e ofender para travar essa polêmica, se é que, com ela, pretende-se o bem coletivo e a definição da verdade.
Em defesa da verdade, por fim, esclareço que procurei oito advogados quando, em 1992, Rosângela Maiorana Kzan ajuizou a primeira das cinco ações - quatro penais e uma cível - contra mim, tentando me calar. Todos eram meus conhecidos ou mesmo amigos. Por diferentes pretextos, nenhum pôde assumir minha causa. Nunca citei seus nomes porque me pediram sigilo, tratando-se de uma sondagem reservada. Respeito o compromisso assumido, mas os personagens sabem quem estou deixando de citar (embora dois deles já não estejam entre nós).
Quem começou a me defender foi Carlos Lamarão Corrêa, procurador do Estado, que não tinha - e até hoje não tem - escritório particular de advocacia, não "fazia" fórum e só podia funcionar na minha defesa se eu fizesse a ronda forense, pesquisasse material e participasse com ele - e sob sua orientação - da elaboração das numerosas peças que o contencioso com essa gente poderosa nos impunha. Quando Carlos não pôde se manter nesse desgastante front, a ele se apresentou outra preciosa amiga, Margareth Carvalho de Moraes, com quem passei a contar até que, ela também exaurida, a tarefa foi assumida pelo dr. Benedito Martins, excelente advogado e grande figura humana, casado com minha tia por parte de pai. Há dois meses o doutor Benedito se acha hospitalizado, lutando bravamente pela vida, que tanto valoriza e enobrece.
No transcurso de 15 anos de uma verdadeira guerra judicial, tenho sido mensageiro, padiola, corneteiro e outras funções menores, mas muito instrutivas. Com essa experiência, me atrevo a dar minha opinião. Com alguma sensatez, admito que ela possa estar errada, parcial ou totalmente.
Mas quero que me demonstrem que errei e onde errei.
Para que todos nos instruamos e também possamos esclarecer a quem mais interessa: a sociedade paraense.
8 comentários:
Lucio,meu prezado.
312 pessoas visitaram o blog até a hora em que escrevo.
Nenhum comentário neste post, e não recusei nenhum.
Acho que desinfetastes a bobagem da formação jurídica enquanto condição para conhecer o Direito.
Nem sempre sabê-lo significa exercê-lo, ao menos em nome da coletividade, a dúvida que te assalta neste episódio.
E a mim também.
A conferir.
Grande abraço.
Muita gente pode não gostar do Lúcio - e ter suas razões. Uma coisa, apenas, não se pode acusá-lo: de incoerência. Qualidade que falta à maioria das pessoas e, certamente, a 90% dos ditos "profissionais do Direito", dos empaletozados aos das becas. Ele, penou e fez história. Esses, apenas seus privilégios. Ele, indispensável ao jornalismo. Esses, descartáveis como profissionais, como cidadãos e como Homens (com "h" maiúsculo de honradez).
Mais uma "goleada" do grande Lúcio Flávio!
Vá em frente, Lúcio.
Discordo do LFP quanto à revogação como melhor alternativa para o caso em questão.
Agora, evidentemente que a conduta dele foi irrepreensível. Como sempre, aliás.
E a luta desigual que LFP tem sustentado contra os muitos e poderosos interesses que, até aqui, tentaram amordaçá-lo, somente honra e dignifica a profissão de jornalista.
LFP é motivo de orgulho para os paraenses. De quantas figuras públicas pode-se dizer o mesmo, neste país?
Esqueci de assinar o comentário em que reitero meu orgulho pelo que Lúcio Flávio Pinto representa, para o Pará e para o Brasil.
Elias Tavares
Não pretendo fazer qualquer comentário a respeito da melhor solução técnica sobre o assunto. A matéria passou pela Procuradoria Geral do Estado e sou procurador. Não seria ético da minha parte intrometer-me em assunto que foi distribuído a um colega e que, de acordo com as regras internas da Casa, passa por duas outras avaliações, inclusive do Procurador Geral, antes de sair da PGE.
Meu comentário, neste post, é para concordar e assinar embaixo do que disse o Elias Tavares sobre o orgulho que o Lúcio Flávio deve inspirar em seus conterrâneos. Eu, particularmente, sinto orgulho e imenso respeito por seu trabalho e sua vida pública.
É gozado. Todo mundo diz sentir orgulho do LFP, mas quando ele precisou da sociedade, na "chacina" de foi vítima por iniciativa do Grupo dos Maiorana, ninguém se levantou a seu favor, todos caladinhos, com medo: políticos (incluído o PT), empresários, jornalistas, sindicalistas, OAB (sim, a OAB!), etc. Onde estão os revolucionários?! Quem ofereceu a sua pele em sua defesa ou da instituição da liberdade de imprensa?! Quem, de fato, tem a coragem, nesta terra, de exercer a cidadanis plena?! Que respondam os leitores deste blog!
Concordo com você, anônimo das 6:43AM: fazemos ainda muito pouco. Da minha parte, organizei e patrocinei, junto com outros amigos, um outdoor cobrando posição de homem do Ronaldo Maiorana. Comunicamos o Lúcio Flávio do fato, por meio de um amigo próximo e idealizador do protesto. O outdoor foi colocado na Praça Batista Campos, em frente à antiga residência dos Maiorana.
No dia seguinte à sua instalação, o outdoor foi destruído - imagina-se por quem, ou a mando de quem. Este episódio, inclusive, foi relatado pelo Lúcio no JP.
Costumo reunir-me com amigos, toda sexta-feira, para almoçar no Parque da Residência, exatamente onde ocorreu a agressão de Ronaldo a Lúcio. Eram dois senadinhos. O nosso e o do Lúcio, que reunia (creio que ainda reúna, mas não mais no Parque), além do próprio, Paulo Cal, Reginaldo Cunha, dentre outros. Muitas vezes, tinham a feliz companhia do Dr. Otávio Mendonça, quando ainda vivo.
Costumávamos dizer, entre nós, que, pela diferença de gerações, éramos a Câmara e eles o Senado. Na fatídica sexta-feira, quando chegamos ao restaurante, o fato já tinha ocorrido. Quando reencontramos o Lúcio, em outras oportunidades, prestamos-lhe irrestrita solidariedade. Estivéssemos lá, ele teria, pelo menos, 8 testemunhas a seu favor - ou até mesmo 8 guarda-costas, quem sabe.
Quanto à OAB, esta se curvou tristemente ao episódio. Também concordo com você. Não tive oportunidade de subscrever a representação que um grupo de advogados fez contra Ronaldo Maiorana, exigindo sua saída da presidência da Comissão de Defesa à Liberdade de Imprensa, mas o faria com certeza. Assim como subscreveria o recurso apresentado ao Conselho Federal.
É pouco? Certamente que é, até porque algumas destas coisas ficaram somente na intenção. Mas estas declarações, assino-as com meu nome, identificando-me com toda clareza. Ratifico o respeito, a simpatia e a gratidão que tenho pelo que o Lúcio faz pela nossa terra.
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