11.9.07

Descendo

Haveria pelo menos duas senhoras em posição desconfortável no governo.
Posição político-administrativa, é claro, com todo o respeito.

11 comentários:

Anônimo disse...

Luluquefala pergunta para as distintas:
Por cima ou por baixo ?

Anônimo disse...

Juca querido:

Caramba!

Este post ativou uma vontade de escrever como quem conversa! Ou como quem desabafa uma dor atravessada na garganta. E, porque sei o que escreverei, espero que não me entendam – você e seus leitores – como alguém que está com dor de cotovelo. A garganta é mais acima e o cotovelo não dói. Mas, além do nó na garganta, dói também a cabeça. Muito. Uma dor, às vezes quase insuportável, própria de quem é hipertensa por dever de ofício... rsrsrs ...e que hoje me permitiu ficar em casa, para ver se esta “tal” baixa de 18 para uns razoáveis 14!

Quando você falou nas senhoras que parecem não estar bem no governo, lembrei da Secretária de Justiça, Socorro Gomes, que não sei se está na sua referência. Como disse, quis aproveitar a deixa, a chance do desabafo. E o trabalho que eu desenvolvia no "império tucano", como gosta de chamar meu amigo Hiroshi, me levou este ano a prestar alguma atenção às mudanças ocorridas na SEJU.

É a primeira vez que falo publicamente nesta “dor específica” que vem de ver o Programa RAÍZES apequenar-se. E, se escrevo hoje, é por tristeza e peculiar arrogância, esperando que quem me ler queira intervir para que o mal seja desfeito.

Não há ranço nestas palavras. Não sou religiosa, mas tenho uma frase de Santo Ambrósio de Milão inscrita na parede da minha alma: “ninguém cura a si próprio ferindo o outro”.

Quando perdemos a eleição, ao pedir minha exoneração expus aos que trabalhavam comigo e a algumas lideranças quilombolas e indígenas com quem durante 6 anos discutíamos nossas ações, os meus motivos. Eu não permaneceria no novo governo, do qual não tinha porque esperar confiança – . isto está no meu blog, datado de 31 de outubro de 2006 - e eu não tinha nenhuma esperança ou expectativa de ver os novos plantonistas do governo tratarem a questão racial com a importância que ela tem.

Nossos esquerdistas não superaram a errônea compreensão que a pobreza e a desigualdade não são "só" questões de classe neste Brasil varonil! Por dentro e abaixo da linha de pobreza há um divisor de águas racial assustador. Mas o PT e o PC do B – alegremente acompanhados pelo conjunto da “esquerda” brasileira - não têm generosidade para rever esse desvio.

Infelizmente, eu acertei. O RAÍZES, que tinha orçamento próprio por determinação do governador - e a SEPOF sabia, respeitava, e colaborava intensamente para que isto fosse obedecido- e representava um papel fundamental, para além das ações e financiamentos a atividades produtivas, que era, lentamente, combater o racismo institucional: as secretarias, fundações e institutos executores, financiados pelo orçamento do Programa para efetivar as ações sob sua responsabilidade nas comunidades quilombolas e aldeamentos indígenas começavam a entender ou a aceitar que “coisa de preto e índio” é obrigação de Governo. Deformar o RAÍZES e reduzi-lo a uma coordenadoria dentro da estrutura da SEJU faz a questão racial perder espaço, importância e vitalidade institucional. E isso não é irrelevante.

O RAÍZES se fez fazendo. Uma construção de equipe. Uma equipe que aprendeu com acertos e erros. Que democratizava razoavelmente suas dúvidas e certezas com as lideranças com quem trabalhou. Um programa centrado na questão étnica foi uma experiência única no país, ainda que em São Paulo, Mato Grosso e Amapá, nestes dois últimos pela forte presença indígena, houvesse ações em desenvolvimento, mas não com a característica de um compromisso de programa de governo.

Desculpe, querido, o longíssimo comentário. Mas, sinto-me mais calma agora. Até pela ilusão que o que escrevi possa ser lido com genrosidade. E permito-me acrescentar só mais uma frase, pra encerrar:

“...no universo das paixões humanas, os preconceitos têm muito mais raízes do que os princípios”
(Nicoló Machiavelli).

Beijão.

Unknown disse...

Bia, querida, valeu o desabafo.
Não tenho como avaliar o futuro do programa nesse novo enquadramento.
Mas é sempre bom ouvi-la, e espero que suas palavras sejam lidas, e debatidas.
Com generosidade, bien sur.
Bjão prá vc.

Anônimo disse...

Gostaria que a Bia aprofundasse melhor a distinção de classes e a desigualdade racial. Fiquei curioso para conhecer a teoria em que ela baseia essa afirmação.

Anônimo disse...

Caro Anônimo,

eu aprendi essa diferença na marra, ainda que meus velhos mestres queiram me convencer que se superarmos a pobreza, pimba! viveremos felizes para sempre.

Esse é também o discurso dos bem intencionados que, assim como eu há 10 anos, tinha muita dificuldade em enxergar e reconhecer nossa dificuldade em lidar com o preconceito atávico da sociedade brasileira. Estes acreditavam que a luta contra a desigualdade racial fazia mal ao nosso cordial espírito miscigenador e miscigenante e quase explicávamos a surpreendente manutenção da pobreza entre os pretos e pardos como "fatalidade"!

Por favor, não há nenhuma ironia no que escrevo. É que quando separo os bem dos mal intencionados, coloco você imediatamente na primeira categoria, bem longe, por exemplo do Ali Kamel! Da Glodo, ele mesmo, que coordenou uma intensa campanha mês retrasado no Jornal Nacional contra a titulação de terras quilombolas.


Mas, antes que o Juca nos mande cantar noutra freguesia e espaço, gostaria que você conhecesse e analisasse estudos e dados sobre pobreza e desigualdade racial, produzidos a partir de meados da década passada.

Esses dois vc pode localizar na NET:

http://cdi.mecon.gov.ar/biblio/docelec/MU2392.pdf

http://www.reportersocial.com.br/noticias.asp?id=166&ed=negros

O promeiro link é o estudo "inaugural" do Ricardo Henriques. Ele iluminou de vez a minha cabeça e me fez assumir que eu precisava rever meus conceitos. E preconceitos.

Abraço

Unknown disse...

Essa "música", faço questão, pode ser muito bem tocada por aqui, viu Bia.
Fiquem a vontade.

Anônimo disse...

Obrigada, querido.

Beijo

Anônimo disse...

Obrigado, Bia. Vou às fontes. Mas lembro-lhe: as duas questões não se excluem, antes se retroalimentam. Quanto ao programa que vc. refere não comentarei, pois não o conheço. Lembro, contudo, que na questão negra , no Brasil desse últimos anos, demos um passo gigantesco na marcação das terras dos quilombolas, nas cotas universitárias e no financiamento de pesquisas voltadas para doenças mais frequentes nesse grupo populacional. Mas, sem dúvida, mais ainda precisa ser feito,por exemplo, no que respeita a necessidade de quebrar com o ciclo geracional de pobreza e miséria que sufoca a população negra do país, no que respeita dizer não a violência que mata mais negros do que brancos no Brasil.

Anônimo disse...

Meu caro anônimo,

Que bom "ouvir" sua resposta.

Ainda que minha mãe tenha ensinado que elogio em boca própria é vitupério - caramba! nunca mais tinha usado esta palavrona - mando abaixo um artigo meu, publicado ontem no site da Afropress, onde sou comentarista esporádica, graças à generosidade do Dojival Vieira, jornalista do grupo que mantém o Afro no ar.

http://www.afropress.com/colunista_2.asp?id=397

Um abraço

JOSE MARIA disse...

Juvêncio,

Esses comentários desabafados da Bia - a quem devem muito os negros, os índios, os quilombolas e o serviço público deste Estado que ela adotou como pátria mãe gentil - bem que podem virar post.

Aliás, ficamos devendo essa aquisição ao Projeto Rondon, nas asas de quem ela chegou aqui nos anos setenta, na velha Marabá, que tem dívida específica para com ela. Que chegou para ficar e muito fazer.

Posta, Juvêncio, posta.

Abraços do

Alencar

Unknown disse...

Vou postar, meu caro, com muito prazer.