13.9.07

Sobre Referências, Boas e Ruins

Ontem de tarde, em visita ao blog, o blogueiro amigo José de Alencar fez um pedido irrecusável ao poster. Pedido feito, pedido atendido.
Ei-lo.

Esses comentários desabafados da Bia - a quem devem muito os negros, os índios, os quilombolas e o serviço público deste Estado que ela adotou como pátria mãe gentil - bem que podem virar post.
Aliás, ficamos devendo essa aquisição ao Projeto Rondon, nas asas de quem ela chegou aqui nos anos setenta, na velha Marabá, que tem dívida específica para com ela. Que chegou para ficar e muito fazer.
Posta, Juvêncio, posta
.

E a Bia...

Caramba!

Este post ( Bia refere-se ao post Descendo, de segunda,11) me ativou uma vontade de escrever como quem conversa! Ou como quem desabafa uma dor atravessada na garganta. E, porque sei o que escreverei, espero que não me entendam – você e seus leitores – como alguém que está com dor de cotovelo. A garganta é mais acima e o cotovelo não dói. Mas, além do nó na garganta, dói também a cabeça. Muito. Uma dor, às vezes quase insuportável, própria de quem é hipertensa por dever de ofício... rsrsrs ...e que hoje me permitiu ficar em casa, para ver se esta “tal” baixa de 18 para uns razoáveis 14!
Quando você falou nas senhoras que parecem não estar bem no governo, lembrei da Secretária de Justiça, Socorro Gomes, que não sei se está na sua referência. Como disse, quis aproveitar a deixa, a chance do desabafo. E o trabalho que eu desenvolvia no "império tucano", como gosta de chamar meu amigo Hiroshi, me levou este ano a prestar alguma atenção às mudanças ocorridas na SEJU.
É a primeira vez que falo publicamente nesta “dor específica” que vem de ver o Programa RAÍZES apequenar-se. E, se escrevo hoje, é por tristeza e peculiar arrogância, esperando que quem me ler queira intervir para que o mal seja desfeito.
Não há ranço nestas palavras. Não sou religiosa, mas tenho uma frase de Santo Ambrósio de Milão inscrita na parede da minha alma: “ninguém cura a si próprio ferindo o outro”.
Quando perdemos a eleição, ao pedir minha exoneração expus aos que trabalhavam comigo e a algumas lideranças quilombolas e indígenas com quem durante 6 anos discutíamos nossas ações, os meus motivos. Eu não permaneceria no novo governo, do qual não tinha porque esperar confiança – . isto está no meu blog, datado de 31 de outubro de 2006 - e eu não tinha nenhuma esperança ou expectativa de ver os novos plantonistas do governo tratarem a questão racial com a importância que ela tem.
Nossos esquerdistas não superaram a errônea compreensão que a pobreza e a desigualdade não são "só" questões de classe neste Brasil varonil! Por dentro e abaixo da linha de pobreza há um divisor de águas racial assustador. Mas o PT e o PC do B – alegremente acompanhados pelo conjunto da “esquerda” brasileira - não têm generosidade para rever esse desvio.
Infelizmente, eu acertei. O RAÍZES, que tinha orçamento próprio por determinação do governador - e a SEPOF sabia, respeitava, e colaborava intensamente para que isto fosse obedecido- e representava um papel fundamental, para além das ações e financiamentos a atividades produtivas, que era, lentamente, combater o racismo institucional: as secretarias, fundações e institutos executores, financiados pelo orçamento do Programa para efetivar as ações sob sua responsabilidade nas comunidades quilombolas e aldeamentos indígenas começavam a entender ou a aceitar que “coisa de preto e índio” é obrigação de Governo. Deformar o RAÍZES e reduzi-lo a uma coordenadoria dentro da estrutura da SEJU faz a questão racial perder espaço, importância e vitalidade institucional. E isso não é irrelevante.
O RAÍZES se fez fazendo. Uma construção de equipe. Uma equipe que aprendeu com acertos e erros. Que democratizava razoavelmente suas dúvidas e certezas com as lideranças com quem trabalhou. Um programa centrado na questão étnica foi uma experiência única no país, ainda que em São Paulo, Mato Grosso e Amapá, nestes dois últimos pela forte presença indígena, houvesse ações em desenvolvimento, mas não com a característica de um compromisso de programa de governo.
Desculpe, querido, o longíssimo comentário. Mas, sinto-me mais calma agora. Até pela ilusão que o que escrevi possa ser lido com genrosidade. E permito-me acrescentar só mais uma frase, pra encerrar:
“...no universo das paixões humanas, os preconceitos têm muito mais raízes do que os princípios”
(Nicoló Machiavelli).

9 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia, querido.

Hoje cedo, porque a questão objeto do comentário abaixo me encana há dias, eu preperei no word o comentário que ia postar e fui fazer café.
Voltei e abri o QUinta pra meder meu bedelho aqui, quando dei de cara com este post.
Meu coração acelerou, engasguei com o café e pecebi que enquanto eu tiver amigos e companheiros como você e o Alencar, algumas causas que defendo terão sequência, comigo ou "sem migo".


Obrigada a você e ao Alensar.
Um beijo procês.
E segue o comentário que estava pronto.

Juca querido, bom dia,


A humildade não é minha principal virtude, mas se sobrepõe à vaidade quando está em jogo algo mais importante do que eu e as minhas picuinhas. Assim, ainda que eu escreva sobre o assunto no meu blog, minha meia dúzia de três ou quatro fiéis leitores, não se compara aos milhares de seus. E, dessa vez, preciso de público... rsrsrs..

Minha mãe morreu aos 50 anos com Mal-de-Chagas. Paulista do interior, ela seguiu à risca a trajetória descrita da doença e a causa da sua morte foi a miocardiopatia chagásica. Assim, esta doença fez parte da minha juventude e sei sobre ela muito mais do que um cristão – ou ateu – normal.

Quando dirigi o Campus da USP em Marabá, uma das pesquisas dos residentes de medicina era sobre a incidência da doença na região. Desde aquela época, constatava-se a existência do barbeiro, mas não do vetor infectante, o tripanozoma crucis. O perigo era que a migração de pessoas infectadas pela doença, ao serem picadas pelo barbeiro sadio, este passaria a ser um transmissor da doença. Até meados da década de 80, isto não havia ocorrido por lá. O Noé Von Atzingen, o grande Noé da Casa da Cultura, que é biólogo por formação, à época era meu companheiro de trabalho no Campus e acompanhou todo este trabalho.

A má notícia é: chegamos ao inferno. Hoje o Pará tem barbeiros infectados que, se estão mesmo sendo “triturados” no açaí, é sinal que já viviam e continuam a viver nas palhas dos açaizeiros e das casas, seu habitat preferencial e contaminando silenciosamente e permanentemente através da picada na qual deposita suas fezes a nossa população.

Ninguém contrai doença de Chagas e morre em quinze dias! Nunca, em lugar algum e sob nenhum tipo de contaminação. O site abaixo, didático até demais, expõe isso com clareza.

As notícias não estão esclarecendo nada, a não ser disseminar desinformação e pânico. Enquanto parece que estamos perdendo um precioso tempo para tomar medidas efetivas de pesquisa e combate à proliferação do barbeiro na nossa região.

Um beijão, Preocupado.
O mesmo raciocínio vale para a esquistossomose, pois o caramujo hospedeiro é velho morador da Amazônia. Basta apenas que ele se contamine e nos dizime.

http://www.virtual.epm.br/material/tis/curr-med/temas/med3/t1b_2000/Chagas/frame.htm

morenocris disse...

Juca, bom dia.

Quando a Bia diz "caramba"...interessante a informação que ela está nos repassando. Vale o cuidado.

Beijos.

Val-André Mutran  disse...

Uau! Os bons não são resgatados e repsitados em sua competência. Uma pena.
Esse é o Estado do Pará, do barbeiro, do caramujo (o gigante africano sentou Praça em Marabá), do mosquito da dengue hemorrágica...da mudança que nunca vem.

Anônimo disse...

Saudosismo uma hora dessas. Vai já, vai!

JOSE MARIA disse...

Obrigado, Juvêncio.

Obrigado, Bia.

Ficamos devendo mais essa para ambos.

Abraços do

Alencar

Anônimo disse...

Alho para baixar a pressão


Com o respeito reservado as pessoas desconhecidas e o compromisso democrático que tenho cultivado ao longo dos meus últimos 25 anos de vida, busco aqui colaborar com o que a senhora Bia manifestou ser um desabafo no seu Blog.
O depoimento da senhora Bia se reporta as dores de difícil cura, “às vezes quase insuportável”, diz ela.
Sem desabafar, até porque na última contenda eleitoral estive ao lado dos milhares de paraenses que obtiveram a expressiva vitória política sobre o “império tucano”, mas como observador da política local, registro que a senhora Socorro Gomes está bastante confortável exercendo as funções de Secretária de Estado de Justiça e Direitos Humanos.
Tal exercício, em se tratando de uma senhora que nos idos de 1980 esteve na lista dos marcados para morrer, me parece bastante simbólico do momento em que vivemos. As mudanças institucionais em curso, ainda que provoquem mal-estar súbito, são reclamadas pela atualização do programa político que saiu vitorioso das urnas em 2006.
Com tantas mazelas sociais estava mais do que na hora de termos uma Secretaria que incorporasse a dimensão dos Direitos Humanos. Mudanças desse tipo não se “fazem fazendo”, são fruto de compromisso e decisão política.
Com o Programa Raízes é a mesma coisa. Desde que surgiu o Raízes, por mais relevante que tenha sido e é, não passou de um “programa”, criado por Decreto, onde, conforme reconhece a senhora Bia “por determinação do governador” tinha orçamento próprio.
Durante uma década o PSDB teve maioria política na Assembléia Legislativa e não aprovou uma Lei institucionalizando o Raízes. Agora, na readequação ocorrida na SEJUDH, duas coordenadorias abrigam a atenção do Estado para a população negra e indígena. Será que isso é retrocesso?
Seria importante realizar tal debate a luz dos investimentos que serão feitos para estes segmentos da sociedade e então perguntar: “o Raízes está se apequenando?”, “suas funções estão sendo abandonadas?”. A resposta é simples: não!
De ordem fisiológica fica o reconhecimento de que cotovelo e garganta, além de se localizarem abaixo do cérebro são por ele comandados. Para hipertensão, sem medicar que não é meu ofício, fica a recomendação inspirada na sabedoria de negros e indígenas, de uma dieta pobre em sódio, regada a muito chá de alho.


Leandro Schilipake, Sociólogo.

Anônimo disse...

Como observado atento da cena política e interessado nod debates e rumos das políticas públicas, eu pergunto: quais eram os instrumento, o orçamento e o foco do "Raízes"; quais as mudanças que ocorreram no programa.

A partir destas informações a conversa pode ficar mais clara.

Saudações

Anônimo disse...

Prezado Leandro,

dou-lhe o devido desconto nesta sua pequena diatribe para me desqualificar, por ser você assessor da Secretaria de Justiça, e assim, reconheço seu louvável zelo. E, ser assessor da secretária não tira seu direito de expressar sua discordância comigo, esclareço.

Deve-se mesmo defender o governo do qual se faz parte, principalmente quando ele garante que se possa ser um instrumento de avanço de lutas tão antigas e que jamais haviam tido expressão institucional. Espero que seja o seu caso.

Este era o caso de quilombolas e indígenas no estado do Pará e que a criação do Programa RAÍZES – por Decreto sim, Leandro, porque é obrigação do Estado reconhecer a desigualdade racial como um agravante da desigualdade geral – demonstrou – com garantia de orçamento pelo Governador, sim, Leandro, caso contrário é firula de palanque ou discurso de ocasião – ser uma experiência que ia se ajustando ano após ano, através da convivência democrática e transparente com o orçamento em cima da mesa de reuniões, entre agentes públicos (a equipe do Programa) e representantes das comunidades e aldeamentos beneficiados.

Minha trajetória política e pessoal comprova que respeito e prezo a trajetória dos companheiros que, mesmo em trincheiras separadas, estão do mesmo lado do campo de batalha.

Conheço Socorro Gomes desde que cheguei ao Sul do Pará, em 1977. Em nenhum momento desqualifiquei a sua ascensão à Secretaria ou fiz insinuação, ilação ou qualquer bobagem do tipo que você acha que escrevi sobre não ser ela pessoa qualificada para discutir e encaminhar ações no campo dos direitos humanos no Pará.
Se você for um agente público de caráter, como espero que seja, espero que faça um post após o meu, reconhecendo que, neste caso, você forçou a mão e exagerou no zelo.
Atendo-me agora exclusivamente ao que motivou meu desabafo - o “apequenamento” e fracionamento do Programa RAÍZES em coordenadorias , era uma opinião e a mantenho. Considero que isto enfraquece interna e externamente a luta contra a desigualdade racial e o racismo institucional. Se você prefere, reduzimos isto a uma mera questão de opinião e esperamos um pouco - o tempo e suas conseqüências - para voltar à questão.
Sua pequena arrogância quanto à espetaculosa vitória nas eleições passadas – “Sem desabafar, até porque na última contenda eleitoral estive ao lado dos milhares de paraenses que obtiveram a expressiva vitória política sobre o “império tucano”...” – me possibilita fazer um prazeroso reparo: eu é quem faz parte da maioria eleitores do Pará que por voto contrário (33,03%) ou por abstenção (24,14%) não referendou o projeto político do atual governo. Os números são do TRE, Leandro. Mas, democracia é muito bom, até mesmo quando se perde eleições. Passei minha adolescência, minha juventude e parte da minha idade madura lutando por isto.
Quanto à institucionalização do Programa, esta era uma discussão que caminhava democraticamente dentro e fora do RAÍZES. Não tínhamos convicção sobre a melhor forma, o melhor instrumento e teria sido muito simples transformar o Programa num Instituto ou Fundação – tínhamos mesmo maioria na Assembléia, semelhante à que vocês têm hoje e não propuseram esta saída . Mas, embora isto fosse muito cômodo para quem o administrava, poderia ser prejudicial para o que considerávamos mais importante do que a nossa tranqüilidade administrativa: a questão étnica estaria melhor colocada se fosse assumida e assimilada como compromisso DE Governo e ou de uma fração ou um órgão dele?
Mas, torço para que vocês avancem na discussão com a mesma generosidade que nós e discutam isto, principalmente com os interessados. Isto não pode ser por Decreto, certo, Leandro?
Quanto à minha saúde, despreocupe-se, Leandro. Minha pressão é cuidada por um competente cardiologista. Eu é que costumo me entristecer com a mesquinharia e a mediocridade. E para isto, tanto o bom e generoso Dr. Sérgio quanto o TRIATEC 5 mg não têm efeito.
Quanto ao alho, você tem toda razão: sou sua voraz consumidora, no chá, no tempero e às vezes até tropeço em algumas pessoas que têm esta alcunha - Bombom de Alho - veja você!

Abraço, Leandro.

PS: Beijão, Juca

Anônimo disse...

Caro Anonimo das 10:38:

Não as coloco as informações aqui porque aí o Juca vai mandar que eu crie o "quintaemenda cover"!

Mande seu endereço para o meu e-mail bloguista:

freebia2005@hotmail.com

e envio para você - e para quem tiver interesse nesta informação -

o relatório público do Programa 2000-2006, com a súmula das ações, projetos e investimentos e a nossa avaliação de equipe dos limites e possibilidades do Programa.

Abraço