Por Walter Rodrigues, no blog do Colunão.
Como seria de esperar, Tarso Genro concedeu asilo político a Cesare Battisti, ex-integrante de um bando paramilitar de esquerda envolvido em assaltos e assassinatos na Itália.
A polícia italiana diz que o próprio Battisti matou quatro pessoas. Ele nega. O senador e ex-presidente italiano Francesco Cossiga, em entrevista por telefone à Folha de S.Paulo, chama Genro de “cretino”, atribuindo-lhe argumento que na verdade foi usado por Battisti, e não pelo ministro da Justiça.
Battisti declarara recear que, se voltasse à Itália, seria morto pelo braço clandestino do serviço secreto local. Para Cóssiga, isso não passa de “besteira”, de invocações do “passado sul-americano” de ditaduras. Ao noticiar as declarações de Cossiga, a Folha comete dois erros, um de informação, outro de omissão, este último muito grave. O primeiro é que apresenta o senador como “histórico integrante da Democracia Cristã, ala de centro-esquerda da política italiana.” Mas se democristianos da Itália são de “centro-esquerda”, então não há direitistas na Itália. Mais ou menos como no Brasil, onde ninguém assume que é da direita.
Falsa bandeira
A grande omissão do repórter da Folha foi não ter perguntado ao ex-presidente se a Itália achava-se hospedada na América do Sul quando seus serviços secretos praticavam as assim chamadas falses flag operations, com a colaboração clandestina de Israel e EUA.
Essas “operações com falsa bandeira” consistiam em explodir bombas e matar pessoas de um modo que parecesse obra da esquerda e deixasse a população predisposta a aceitar medidas excepcionais de repressão.
Alguns acham que isso jamais aconteceu na Itália. Nesse caso, que mandem Cóssiga para o manicômio, em vez de entrevistá-lo como autoridade respeitável em assuntos de terrorismo. Pois foi ele mesmo quem denunciou nos anos 90 uma Operação Gádio, de terror com bandeira falsa, executada entre os anos 60 e 80 na Itália. Pelo menos um ex-agente da repressão italiana confirmou as palavras do ex-presidente.
Deu até na Folha...Por sinal, quando Battisti militava na Vanguarda Armada do Proletariado ou outra insanidade do gênero, Cóssiga era nada menos que o ministro responsável pelos serviços de segurança.
Quem é o pior terrorista, então, afinal de contas?
4 comentários:
Continuo com a mesma impressão: esse Battisti é um criminoso comum, matador covarde que achou um paraíso para ficar: o Brasil, dos rançosos políticos que misturam ideologia com cargos.
Triste mesmo é para os parentes dos mortos, desrespeitados e esquecidos.
Oi Juca,
Fui relatora, na Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, do processo envolvendo Cesare Battisti, onde alguns grupos pediam o apoio da OAB na concessão do asilo político.
Votei pela concessão do asilo, acompanhada pelos demais integrantes e digo o motivo.
Dos documentos sob análise, Cesare negava a autoria dos crimes e nada indicava nesse sentido. E mais, à época dos julgamentos, Cesare estava na França e não no Brasil, sob asilo político posteriormente revogado a pedido do governo italiano, quando os socialistas perderam as eleições na França.
Os relatos envolvendo os julgamentos na Itália sãos estarrecedores, feitos especialmente para condenar.
Acho que a Carta Capital faz confusão ao tentar estabelecer conexão entre os grupos de esquerda e os crimes da máfia, como o que vitimou o Aldo Moro, por exemplo.
Pelo sim pelo não, preferimos adotar o princípio constitucional da presunção de inocência.
Não sei como foi o voto da OAB no comitê de refugiados, onde tem assento.
Bjs
Mary
Oi Mary ( ainda em falta com vc)
Por coincidência li há menos de uma hora o post do Mino Carta, para chegar a outra postagem recomendada pelo Paulo Henrique Amorim sobre as malandragens de Dantas, e outros superiores mais perigosos.
Confesso que ando impressionado com a dificuldade de exercício da crítica, e, em seguida, da escolha de posições, pela qualidade dos discursos que se lê, em defesa de um ou outro argumento.
Talvez seja a pretensão de ser justo, talvez sejam os limites - de todo tipo - que a gente vê a cada passo de nossas caminhadas, talvez seja a complexidade das questões, sei lá...
Mas ando.
E não são poucas as questões.
A ofensiva israelense, a extradição deste italiano, os casos da CPI, que tantas reflexões ( e esforços de moderação..rs ) tem me trazido.
O post do Walter Rodrigues, pai de meu sobrinho mais velho, é muito interessante, e seu comentário aqui, que vou enviar à ele, completou algumas lacunas que haviam na questão.
O direito é, ao fim e ao cabo, uma expressão da Política. Nessa questão, acompanharia o seu voto.
Bjs
Juca,
Confesso que além da análise do material que nos chegou, pesou muito a posição da França ao conceder asilo político ao tempo do ocorrido. A França errou? Não tenho notícias de reações tão, digamos, trágicas. Tampouco disseram que a França era mais ou menos democrática que a Itália, como agora alguns insinuam com relação ao Brasil.
Penso que ao governo italiano resta somente respeitar a decisão brasileira e ainda exigir um pedido de desculpas pela descortezia com o Ministro da Justiça.
É a minha avaliação.
Bjs
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