26.10.07

Política do Crime

Leitor do blog, por e.mail, pergunta se vale a pena dar crédito às declarações contidas na carta do marginal Luís Araújo, um dos autores do duplo homicídio dos irmãos Novelino. Outro comentarista lança a mesma dúvida acerca do depoimento do executor Sebastião Cardias, vazado na edição de ontem do Diário do Pará.
É possível que eles estejam mentindo, indagam os leitores?
Em tese, sim, pois todo bandido mente, principalmente quando quer salvar a própria pele, embaralhando as investigações.
Nesse caso, só mantendo-os incólumes, a modo de investigar o quanto for necessário, o tempo que for preciso. Até que toda a verdade seja esclarecida.
Escusado dizer, embora nem tanto, que o Estado, mantenedor do Sistema Penal, é o responsável pela vida dos bandidos.
O que é cada vez mais difícil de não acreditar é na presença indiscriminada e abundante em indícios, de eminentes nomes da elite política paraense.
Os bandidos falam muito, os mais inexperientes por medo; há vazamentos das investigações da Operação Rêmora e do próprio inquérito dos irmãos Novelino; o falatório das famílias dos acusados e das vítimas - ao menos um deputado estadual paroara tem a cópia do inquérito que apurou a execução - tudo isso contribui para tornar o clima mais pesado a cada dia que passa.
Tráfico de influência, venda de sentenças, laranjas a frente de empresas de lixo, agiotagem, corrupção em prefeituras, financiamentos ilegais e não declarados de campanhas políticas, são alguns dos crimes atribuídos à quadrilha e sua fauna acompanhante, abertamente comentados nas rodas bem informadas da cidade.
Este poster já ouviu, em offésimo, de assessores diretos de neguinho citado nas paradas, confissões acerca da preocupação com os rumos que o caso tomou.
Alguns dos envolvidos estão à beira de uma colite ulcerativa aguda.
Mentiras a parte, o próprio trânsito do líder visível da quadrilha, Chico Ferreira, afiança a condição melancólica, fétida, irremediávelmente corrupta e altamente perigosa a que chegou a política paroara, valhacouto de enormes associações para o crime, melhor dizendo, para o crime e o discurso.
Imagens do tio Chico com políticos e empresários, em agradáveis passeios, convescotes e visitas, com direito a emoção e carinho, indicam que a quadrilha tinha e tem laços em práticamente todas as legendas; instalou-se em todas as regiões do estado; descortinou uma polícia ineficiente, temerária e corrupta; escancarou uma enorme avenida no TCM; calou a imprensa ou associou-se a ela durante anos a fio.
Fez negócios com meio mundo, e depois das eleições estava inadimplente. A agiotagem trabalha com o curto prazo, mas os negócios públicos, mesmo os escusos, nem tanto.
Começou a escalada da rolagem das dívidas.
Pedia dinheiro emprestado aqui, entregava ali, roubava mais adiante, entregava uma parte prá mais alguém, e por aí foi até o dia em que encontrou pela frente uma cobrança executiva, como se diz na gíria dos esgotos.
Tentou se defender mandando cartas e recados para os beneficiários, só gente importante. Mas já era tarde: Chico não percebeu aquele exato momento em que a política lhe tirava o chão dos pés.
A gota d'agua foi o rompimento do contrato com o IASEP, em meados de março.
Ao receber a notícia, aparentando desespero, Chico teria ameaçado se jogar pela janela do prédio.
Da suposta encenação aos assassinatos, bastaram alguns telefonemas.
A Operação Rêmora foi o ponto de inflexão, na história de Chico Ferreira e de toda uma fornada de políticos paroaras, acelerando a derrocada dos mais velhos, matando no nascedouro a pretensa ficha limpa dos mais novos, deixando os de meia idade pelo meio do caminho, largados na sargeta da sorte. Todos parecidos com Chico, todos filhos de Francisco.
Mentiras a parte, Chico Ferreira talhou a calça que veste essa camarilha da política, dos negócios e da mídia no Pará, curta ao ponto de evidenciar-lhes os glúteos sépticos.
A quadrilha chegou e se instalou, como se vê todo dia mais um pouco, no coração do poder.
Essa constatação, por um lado deprimente, gera um enorme prazer: a certeza de saber que, não muito longe destes dias, todos os detalhes do caso serão içados à tona, feito os cadáveres da dupla de nacionais cruelmente assassinada. Vem mais Chico Ferreira por aí.
É só aguardar.

26 comentários:

Anônimo disse...

Juca,
Sensacional análise da conjuntura política do nosso Estado.
Parabéns,e é por isso que todo dia estou por aqui.
Mero Espectador.

morenocris disse...

Bom dia Juca.

Que texto. Belíssimo. Ontem fiquei pensando nisso tudo lendo os posts de seu blog, que aliás estava super pesado. Um post atrás do outro. Relações perigosas. Fico pensando se existe mesmo isso! Se não é só nos filmes e romances. Fico até com medo.
Parabéns pelo post.

Beijos.

Unknown disse...

Mero, obrigado. É só uma passagem de nível que temos que enfrentar.
E superar.
Abs

Cris, minha querida amiga, eu não tenho medo. Tenho raiva.
Bjs

Hiroshi Bogéa disse...

Juva, no fígado! Impecável, garoto.

Anônimo disse...

Ei Juca,

Já estás informado sobre a crise geral na Funtelpa?

Soube que o clima anda mais que pesado por lá. Brigas, choros, intrigas e muitas demissões. Foram 40 há alguns dias e serão mais 60 em novembro...dizem...

Vários programas devem sair do ar...

Tudo por conta do acordo com o MPT. A pergunta que se faz é por que a administração dos COMPANHEIROS não buscou uma solução (Concurso ou OS) para resolver o problema...

Unknown disse...

Obrigado, Hiro.
Quanto mais simples melhor.
A vida como ela e.

Anônimo disse...

Medo, raiva, nojo. De tanta bandalheira, malandragem, sacanagem, roubalheira, violência. Gentalha ordinária, ralé, escroques desprezíveis, que só sabem viver atolados na lama da indignidade, chafurdando como porcos.Parabéns, Juca, pelo coragem do blog.

ak disse...

ak diz:
Juca, tu és o maior barato, até na tua completa insanidade.
"Glúteos sépticos" é lindo.
afonso klautau

Francisco Rocha Junior disse...

Juvêncio, belíssimo o texto. Tenho medo e raiva, como você e a Cris.
E mais ainda porque o elemento adotou um nome que sequer lhe pertence: afinal, como "João Batista" virou "Chico"? Talvez a troca de nomes tenha algum simbologismo que só a semiótica e a polícia consigam desvendar.

Unknown disse...

Ak...rsrs...só vc mesmo para tirar este leite desta pedra, prezado.
Perdoe os parnasianos glúteos..rs
Abraço.

Unknown disse...

Das 10:34, nada a acrescentar.

Unknown disse...

Francisco, só ele mesmo prá dizer.
Obrigado e um abraço.

Unknown disse...

Das 10:30.
Por coincidência ontem tive notícias da Funtelpa. Disse-me ma fonte que a fundação estpa cumprindo o acordo com o MPT, o Termo de Ajuste.
Nenhum funcionário com estabilidade foi demitido, e estariam chamando os concursados.
Se isto é verdadeiro, lamento pelos que perderam seus empregos, que sempre foram precários, no sentido jurídico da expressão.
Lamento mesmo.
Mas não concordo em criar OS's ou safenas ilegais para manter o que é ilegal.
As confusões, as lágrimas e as intrigas são normais nessas situações. Elas passarão, com dor, ma passarão.
Acredite que seria mais fácil, para a tual administração, empurrar um problema (que não foi nela que criou) com a barriga.
Fica o registro da decisão dura mas correta e corajosa da Regina Lima.

Anônimo disse...

Francisco Rocha o nome de batismo é João Batista,"Chico Ferreira" foi apelido dado a ele ainda novo como jogador de futebol.

Anônimo disse...

Funcionário estável ou efetivo só pode ser demitido como decorrência de processo administrativo disciplinar.

Duvido que a Funtelpa tenha demitido sumariamente algum funcionário estável ou efetivo.
Se o fez, é parada ganha na Justiça. Sei de funcionário estável demitido sem PAD no governo Hélio Gueiros. Foi reintegrado e ainda recebeu uma bolada pelo tempo em que permaneceu afastado. Está no quadro até hoje.

Agora, o temporário, francamente...

Esse pessoal teve tempo de sobra para se preparar para os muitos concursos que foram promovidos pelo Estado.Se prestaram concurso e não foram classificados, paciência...

Inaceitável é que esse pessoal exija o cometimento de ilegalidades pra manter o emprego.

Se o objetivo da manutenção do emprego legitima a ilegalidade pra eles, então deve legitimar pra qualquer outra pessoa.

Aí, barata vôa, né?

No mais, parece que o 5ª continua "furando", a modo de deixar seus leitores ainda mais frustrados e ressentidos que de costume.

Né?

Anônimo disse...

Juca,

Concordo que não dá para manter a ilegalidade, mas o fato, que sua fonte não menciona, é que as pessoas estão sendo demitidas e não tem concursados suficientes para colocar no lugar. Tanto é que várias programas estão ameaçados de sair do ar...ESSE É O CLIMA NA FUNTELPA.

O que questiono é porque a "corajosa Regina Lima" não fez concurso público este ano já que sabia que teria que cumprir o TAC do MPT?

O concurso feito na administração passada é válido para menos de 80 pessoas.

E também vale a colocação: Concurso Público para a Funtelpa só vale se forem levados em consideração critérios técnicos que a Fundação requer. Não dá para levar a sério um concurso que dá o mesmo peso para teoria (normal dos concursos) e habilidade técnica (saber editar, escrever jornalisticamente falando e etc). Desse jeito acontece o que aconteceu no último...uma editora que NUNCA trabalhou em TV na vida, ficou na frente de jornalistas que há bastante tempo atuam no telejornalismo...

Unknown disse...

Das 2:22, então a FUNTELPA terá que responder ao seu questionamento. Eu não saberia dizer se houve a solicitação do concurso, ou se não foi feito sequer o seu planejamento.


Qunto as notas do último concurso, a editora teórica aprovada abriu distância em cima de experiente editor, que nunca procuraram a teoria.
Devem ter acontecidos casos inversos, não?
O problema pode estar nas provas, teórica e de habilitação técnica, e não nos pesos relativos. Ou na avaliação da prova de habilitação técnica, sempre muito subjetva.

Qual seria a sua proposta de pesos relativos, para as duas diferentes formações?

Obrigado por seu retorno, e seguimos discutindo.
Abs

Anônimo disse...

Giei brilhante e necessario escriba, foram poucas vezes em meus mais de quarente e pouquissimo menos de cinquenta anos que li tantas verdades desintrincheradas em poucas e precisas laudas.Suas linhas escritas desenham o quadro caotico e apocaliptico ao qual a dignidade, o decoro, a moral, a etica e similares valores que equilibram qualquer sociedade desenvolvida, foram violentados, massacradas e deformados por essa corja infeliz e nefasta que tomou conta do Estado.
Nomes como Lula & Chaves que quando aglutinados em um mesmo tribunal geram ate especies oceanicas que se alimentam dos restos do tubarao, famoso por seu famigerado apetite para desespero o Rei Leao que e o corno da historia junto com o Ze Povao.Parlamentares que praticam estelionato ate com o diabo para quem venderam a alma e pensam que podem ficar sem entregar a encomenda.
Por uma fracao de minutos ou mesmo uma analise superficial dessa historia bandida desse Estado, delata e elenca todos os chamados " pecados capitais" que condenaria sumariamente essas pobres almas envolvidas e bebadas pela soberba,gula,mentira,traicao,avareza, e por ai vai...
Precisaremos de umas duas geracoes no minimo para reconstruir esses valores em nossa sociedade,abandonada e incredula ante a esse indecente espetaculo.

Mr.J y're the best.

Anônimo disse...

Não conheço nenhum caso inverso.

Acho que a teoria é absolutamente importante, mas em casos específicos da Funtelpa, ela não vale tanto quanto a prática.

Acho que os casos deveriam ter sido analisados com cautela antes de finalizar o edital.

Na minha opinião, os pesos deveriam ser 60 (prática)- 40(teoria),

Um abraço,

Unknown disse...

Fecho com a sua proposta.60 a 40.
Outro prá vc.

Anônimo disse...

O problema não são as demissões. É que a Regina só está demitindo, e não está fazendo mais nada... A Tv Cultura vai de mal a pior...

Anônimo disse...

A semana inteira com a sensação ruim no estômago - ou no fígado, ou em seja qual for o órgão que processa as dores sociais - parecia que estávamos de novo nos anos 80 do assassinato de Paulo Fontelles, ou nos 90 do massacre de Eldorado. E me dei conta que estamos nos 2000 da quadrilha da Rêmora e do assassinato de Dorothy. Nada muda, a desesperança vai quase se tornando desespero, aí vem você e resume tudo.
Esse post acaba de desbancar todos os outros na coletânea Quinta Emenda que vou organizar.
Um beijo
HP

Unknown disse...

Mr. Romulogic, obrigado.
É verdade que o fogo quase queimou seus cílios por aí?...rsrs
Grande abs.

Unknown disse...

HP, vá guardando os posts aí.E tomando Lomotil, para resistir aos anos 2000, que já disseram ao que vieram, não é mesmo?
Obrigadíssimo.
Bjs

Anônimo disse...

Nem chamuscou e ateh chuviscou.

Dessa vez meu pao caiu com a manteiga para cima. rsss

Unknown disse...

Blz.Saúde pra vc!
Abs