Por Mino Carta.
Gostaria que os tempos fossem bem menos propícios para os especuladores do que para os economistas. Convém escolher com cuidado os vilões. Creio que a lista tenha de começar pelos grandes sacerdotes da religião do deus mercado. Está na moda dizer que os economistas falharam sinistramente nas suas análises. Nem todos.
Indispensável é reservar um capítulo especial para os jornalistas que no Brasil deitam falação sobre economia no vídeo e nas páginas impressas. Nos últimos anos atingiram um grau de prosopopéia nunca dantes navegado. CartaCapital orgulha-se de veicular nesta edição uma sugestão de Nirlando Beirão na sua seção Estilo: que as senhoras e os senhores acima tirem longas férias. E por que não, digo eu, aposentá-los?
Há os vigários e há quem caiu em seu conto. A crise pune os crédulos com ferocidade. Sabemos de antemão que muitos entre os vendedores de fumaça sairão incólumes da monumental enrascada. Como indivíduos, ao menos. E assim caminha a humanidade. Resta o fato, contudo: mais um muro ruiu. O outro muro. Wall em língua inglesa, idioma do império.
Quando o Muro de Berlim caiu debaixo das picaretas libertadoras, há 19 anos, proclamou-se o fracasso do chamado socialismo real. Agora cai o wall nova-iorquino e se busca, em desespero, a reestruturação de um Estado forte depois da ola global das privatizações. Quem fracassa no caso? No mínimo, o capitalismo neoliberal.
Na queda de Berlim, soçobra a URSS. E na queda de Nova York? O império de Tio Sam, descalço, exibe os pés de argila. Dezenove anos atrás não faltou quem, enquanto esfregava as mãos de puro contentamento, decretasse o fim das ideologias, como se não houvesse mais espaço para as idéias. E agora, que dizer? Que o neoliberalismo foi jogada do acaso, despida do apoio de qualquer idéia? Se for assim, concluiremos que resultou de uma soberba insensatez. O que, de alguma forma, faz algum sentido. O monstro criado virou-se contra os criadores. Talvez não passassem de aprendizes de mágico: conhecem o abracadabra desencadeador, mas não sabem pôr fim à magia desastrada.
Falemos do pretenso fim da ideologia. Quem sustenta mostra seus limites. Gostaria de dizer, porém, que antes ainda da idéia vem a ética. É por aí que se abre a chance de sair da selva e escapar às suas leis. É possível o ser ético em um mundo que acentua as desigualdades? Ou aceitar a miséria, a doença, a fome, a degradação humana como coisas da vida?
Cada qual faça suas escolhas ideológicas. Para ficar no campo da economia política, que seja marxista, keynesiano, schumpeteriano etc. etc., desde que o propósito não se limite à garantia da liberdade e busque a igualdade sem o temor do anátema dos donos do poder, que o pretenderá subversivo, terrorista, comunista e por aí afora.
A liberdade sem igualdade tem valor escasso e limites escancarados. Quando, no caso do endeusamento do mercado, não se torna, automaticamente, fator decisivo da desigualdade. Em detrimento do gênero humano em peso. A lição nunca foi tão atual.
6 comentários:
O Estado deve intervir na economia só em momentos de crise ou amigo é para todas as horas?
Cada vez mais essa economia "neo-tradicional" dá claros indicativos de que o keynesianismo deve ser restaurado. Mas o que mais me dá raiva é que o puro ideologismo de Smith, Hayek, Mises, entre outros, é que o Estado NUNCA deve entrar para a economia.
E agora?
Quem salvaria as empresas de Wall Street se não fosse o pacífico e benevolente Estado? Eles são assim: querem que o Estado tenha menos atribuições para cobrar pouco imposto e nem existir na economia... mas quando chegam à falência, que se tire grana dos outros setores e os salvem.
(re)pergunto: o Estado deve intervir na economia só em momentos de crise (oportunismo) ou amigo é para todas as horas?
Boa noite, Juca querido:
é o Estado mínimo para me socorrer quando convir. PROER cá, PROER lá. Mas, a pergunta é: depois de Berlim e Nova Yorque...quem de nós?
Beijão.
égua juvencio, kd o poste que ue te pedi??????
kd? kd? vamos homen!
Então eu pergunto: que diria Darwin desta selva onde não sobreviverão os melhores nem os piores? A teorética neoliberal seria, ela mesma, um anátema? Isto no plano das indagações afinadas com a imprensa mundial, porque, em verdade, Wall Street não ruiu. Todos os analistas econômicos que realmente compreendem a morada dos gorilas sabem disso. É apenas um rapaz esperto que finge ter esquecido a carteira em casa para que seus amigos, que julgavam estar a comer e beber às suas custas, dividam entre si o alto valor da conta. Então fica assim: os que só têm o dinheiro do pão, ficarão sem o pão. Os que têm o dinheiro do pão e mais um pouco, ficarão apenas com mais um pouco. Os que nada têm na algibeira, pagarão com o sangue. Não perderão nada os inventores da criatura. Perderão os que se afeiçoaram a ela aqui para baixo da linha do equador, - estes sim, aprendizes de feiticeiro - onde não há pecado, desde imemoráveis tempos. Quem ler Os Macacos de Wall Street compreenderá bem a grande artimanha dos inveterados.
Senhor Juvêncio, poderia colocar o link do Blog do Mino. É interessante. http://www.blogdomino.com.br/
Juca,
Não sei não, acho que o Mino Carta embarcou no pronunciamento do Lula, e pelo que vejo muitos dos meus colegas do lado daqui do blog. Ou então, influenciados pelos fatos recentes, bem mais convincentes que nosso Presidente.
Entretanto, todos sabemos da célebre frase: "o jogo só acaba qdo termina".
Roberto Pompeu de Toledo, articulista de VEJA, consegue ser bem mais claro e convicente que eu em relação ao tema do poster e tb sobre o que quero dizer. Recomendo a leitura de seu recente artigo: http://veja.abril.com.br/081008/pompeu.shtml
Abs,
J. BEÁ
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