Por Humberto Lopes, Mestrando em Ciência Política pela UFPA.
Quero começar esclarecendo que este artigo não é redigido nos moldes dos textos trotskistas (PSOLTU), com a lengalenga que identifica PT e PSDB como meros agentes do neoliberalismo. Essas analises têm a consistência de um ovo quente: tire-se a casca e não se sustentam em pé. Também têm a utilidade de um jogo entre Pinheirense e Tiradentes de campeonato paraense da década de 80: nem como passatempo servem.
Quero ainda marcar o que considero a principal diferença entre Ana Júlia e José Serra. A governadora, no que tem de certo e de errado no seu governo, no que tem de intenção e de gesto, está interessada em dar dignidade às camadas mais carentes da população. Já Serra, como todo burocrata, se contenta com concretos e números.
O eixo que quero abordar é tema recorrente na imprensa e nas rodas de articulação política: como o governador de São Paulo e a Governadora do Pará tratam as eleições de 2010. Antes de entrar no tema em si, seria útil se fazer um comparativo das carreiras dos mandatários. Ambos começaram sua militância no movimento estudantil. Ambos dedicaram um tempo de suas vidas públicas aos seus municípios. Serra por dois anos como prefeito de São Paulo e Ana Júlia por oito anos em Belém (dois meio mandatos de vereadora e um mandato de vice-prefeita). Ambos foram deputados federais e senadores, embora não no mesmo período.
Ambos foram eleitos em 2006 para cumprir um primeiro mandato à frente do governo de seus Estados. Ironicamente – embora por razões diferentes – entraram na disputa para cumprir funções estratégicas aos seus partidos. Ana Júlia foi eleita pelos méritos de seu partido e por sua capacidade de mobilizar a emoção do eleitorado. Serra -apesar de “insosso” - conseguiu liquidar em a eleição em primeiro turno graças à imperícia do staff de seu concorrente. Lá, como aqui, PSDB e PT estavam frente a frente.
Serra e Ana têm objetivos diferentes em 2010. O tucano pretende disputar a presidência da Republica. Enfrenta a obstinação de Aécio Neves em não ser um mero Senador. O dilema dos tucanos tem dois componentes: abreviar a disputa para iniciar a campanha e, se a disputa for inevitável, reduzir seu colégio eleitoral para dar a impressão de participação massificada. Ana busca a reeleição. Até aqui não foram noticiadas pesquisas sérias de intenção de votos. Quem as tem – se existem – só divulga o que lhes interessa. Mas o poder é sempre poder. O PSDB ainda não definiu seu candidato, mas a disputa interna está arrefecendo. Se o candidato for de fato Simão Jatene será um adversário com pouco apetite para a disputa corpo-a-corpo. Será o carisma contra o tecnicismo.
Ana tem outro tipo de preocupação: as alianças e o PT. Seu principal parceiro, o PMDB encontra-se indócil. amansá-lo não será fácil. No PT precisa ter cuidado com duas armadilhas: prévias e solução heterodoxa. No caso das prévias Paraoapebas foi um aviso: maquina administrativa sozinha não resolve o problema do voto interno. Almir Trindade e o PTLM, um grupo que representa cerca de 2% dos filiados paraenses, tentam recolher assinaturas de dirigentes partidários para forçar a escolha do candidato ao governo pela base. O resultado não é difícil de imaginar: mais um período com o governo sangrando, o partido impossibilitado de fechar coligações por “não ter candidato definido” e Ana vitoriosa nas previas, mas com seu nome violentamente questionado.
A solução hetorodoxa equivale a uma amputação e é relativamente indolor: a lá Rio-98 a direção nacional escolhe outro candidato. Hoje, ninguém quer esse desfecho, mas ele pode ser construído.
Feitos os paralelos, podemos entrar naquilo que considero o sinal de igualdade entre Ana Júlia e José Serra. Quem são seus favoritos para as eleições de 2010.
O caso de Serra é mais simples. Quer disputar a presidência da república deixando em seu lugar alguém de confiança. No caso o Chefe da Casa Civil, José Aníbal. O problema é que Geraldo Alckmin também quer ser governador de São Paulo. Alckmin ostenta índices superiores a 45%, em algumas simulações ganhando em primeiro turno. Já José Aníbal mal passa dos 2% (pesquisa Datafolha, realizada de 26 a 28/05). Para ajudar Aníbal, Serra tem feito o que pode: traz seu articulador colado nos eventos oficiais e viagens de serviço, ampliou os poderes da Casa Civil e por fim designou que Aníbal como interlocutor do Governo com os prefeitos, destinando um fundo superior a 500 milhões de reais para convênios com os municípios. Não descuidou de Alckmin: nomeou-o para a Secretaria Estadual de Desenvolvimento, equivalente à SEDECT do Governo do Estado do Pará.
Ana é candidata à reeleição em 2010. Mas, para este pleito e para sua sucessão em 2014, já teria um preferido: Claudio Puty seu Chefe da Casa Civil. Pela formula que – dizem – é endossada pela Governadora, Puty seria candidato a Deputado Federal em 2010 e a governador em 2014.
A candidatura de Puty a Deputado Federal causou estranheza: escantearia Suely Oliveira que foi candidata em 2006 ao mesmo cargo. Com um agravante: dos três personagens principais que criaram, endossaram e articularam a candidatura de Suely em 2006 dois mudaram de opinião sem qualquer balanço: a própria governadora e Joaquim Soriano, dirigente da corrente da qual Puty, Ana e Sueli participam.
Sequer o argumento de que um candidato do governo bem votado seria bom para o Partido sensibilizou os corações dos dirigentes das demais correntes petistas. Na avaliação deles, uma candidatura construída a partir da atração governamental só se estabelece através da predação de bases alheias. No máximo lhes garante uma eleição, não uma carreira.
Sob o argumento de “calçar” a governadora para eventuais prévias em 2010, o GT da DS lançou a campanha de 30.000 filiações para “emparedar” o Campo Majoritário. Os números são contraditórios, mas tomando por base a melhor avaliação da DS e a pior do Campo, no máximo pode-se especular que a chapa da governadora vai de 20% em 2007 para 25% em 2009, no PED que se realizará em novembro. Mas, considerando que o Campo Majoritário não vai disputar as prévias e a solução heterodoxa pouco interessa ao conjunto do PT, há um senão nessa campanha de filiação. O mote não é Ana Júlia em 2010. É Claudio Puty em 2014.
As reações ao “Projeto2014” não foram de estranheza. Foram de indignação. Um recado foi mandado à DS: “No PT tem fila. Quem quiser ser candidato pegue sua senha e espere sua vez”.
Pequena nota: vou tratar de um assunto que não cabe no texto acima e não vi qualquer menção a ele aqui no Quinta Emenda. Um jornal e alguns blogs noticiaram um bate-boca entre Suely e Puty no Aeroporto de Marabá. Dois secretários de Estado em duelo verbal em público já é uma cena por demais bizarra. Ainda mais bizarro é um se esgoelando e outro calado (ou balbuciando alguma coisa sem chance de se defender). Se esse fato aconteceu, pela circunstância e pelo conteúdo, alguma coisa está errada no Governo. Suely, na hipótese mais branda, deveria ser chamada pela Governadora a se explicar e a explicar o que supostamente foi dito no salão do aeroporto – especialmente no que tange aos projetos políticos do núcleo duro. Na pior das hipóteses, caberia a exoneração, pois há indícios de insubordinação nesse ato. Mas não acredito que essa escaramuça de fato tenha ocorrido. O espaço apropriado para aquilo que o povo chama de “lavagem de roupa suja” foi a Conferencia da Democracia Socialista. Lá Suely e seu grupo, ao contrario de 2007, não lançou documento, seus embates foram dentro do razoável e não houve disputa das “posições de poder” dentro da tendência. Aliás, tudo correu dentro do maior consenso possível.
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De fato, o Quinta Emenda apenas permitiu o comentário dando conta da discussão no aeroporto de Marabá.
E se pudesse ter titulado o artigo acima, o faria com o seguinta: O Partido da Fila.
11 comentários:
Não deu para entender. O que tem a ver José Serra Com ana Júlia?
O articulista disse tudo sobre nada.
Comparativo entre a carreira de José Serra e Ana Júlia? hahahaha.
Como dizem os jornalistas: "Falando à reportagem, nada disse"
Olá Juvêncio,
Aproveitaria mais ao texto do Humberto, não fazer comparações. Em se considerando que, ao Humberto, aprouvesse fazer comparações, seja ao estilo ou à conveniência, que não as fizesse com o Serra.
Parafraseando Caetano, comparar Ana Júlia com o José Serra é querer fazer de Nova York algo assim como Paris, portanto, não inventemos ou desinventemos moda: sem comparações.
Quanto ao PT, que o Humberto conhece tanto mais que eu, ou você, é preciso bem mais que um mestrado em ciência política para desvendá-lo: quem sabe um pós doutorado em Teoria Geral da Neurologia Pura, Aplicada à Hermenêutica Idiossincraticamente Distribuída na Aritmética Geopolítica Cientificamente Dissociada do Compromisso de Alguma Conclusão Silogística.
Seja lá o que este emaranhado de palavras juntas possa significar, isto seria um começo de definição do ser PT.
E não há nenhuma intenção pejorativa nisto.
Abraços
Parsifal Pontes
Se a DS quisesse, lançaria dois federais e poderia eleger ambos: bastaria uma engenharia eleitoral em dividir os redutos geograficamente - coisa na qual o "PT pra Valer" é crack - tanto que assim fez 3 cadeiras na Alepa.
Mas parece que essa corrente carece de astúcia: em muitos municípios do Pará, o vereador mais votado foi da DS: eles preferiam apostar em um nome para ser o mais votado que em dois para ganharem ambas vagas... afinal, depois que se está lá dentro, de que importa a colocação?
Ha, e se duvidar, em 2010 a DS terá o deputado estadual mais votado da Alepa - porém, somente um.
O chefe da CAsa Civil de SP é o Aloysio Nunes. José Aníbal é deputado federal.
só te digo que aconteceu sim...
só faltou o Puty dizer;
¨me bate logo¨
a postura deles com a suely ta demais desrrespeitosa, todos sabem que a eleição do Puty não passa pelo governo, e sim pela suely declarar apoio e fazer dobradinha om ele, o nucleo sabe, a Ana Julia sabe, o campo majoritario sabe, todo sabem que Suely dobrou a base de 2006, é uma aliada que todos querem.
A frase "se esse fato aconteceu, pela circunstância e pelo conteúdo, alguma coisa está errada no Governo" é ótima. Refere-se a um bate-boca público acontecido entre Sueli, ex-edmissiana radical, e Cláudio Puty, o queridinho da governadora e sua aposta em um incerto 2014. Mesmo que a DS filiasse 100 mil pessoas no PT usando a máquina, não há como superar o passado, por exemplo, de um quadro como Maria do Carmo, popular, bem votada, com apoio do planalto, especialmente no quadro presente de um governo raquítico, sem obras, sem estratégia, sem eixo, fracionado de cima abaixo e que tem por prática tratar os aliados na porrada. Lançar Puty, aquele que porradeia os aliados, candidato a deputado federal é um risco enorme. Suely, candidata de Ana Júlia no pleito passado, não conseguiu se eleger federal. O PT deve fazer, no máximo, quatro deputados federais. Dois deles já estão definidos: Zé Geraldo e Beto. As outras duas vagas não serão, por certo, preenchidas por candidatos da capital. Surpresas podem surgir do interior, especialmente porque Paulo Rocha, que deve ser candidato ao senado (se a DS não entregar a segunda vaga para Duciomar) irá trabalhar um nome seu para a sua vaga. A máquina pode muito, mas transformar um xuxu em um cacho de uvas. O delírio da DS começa e acaba onde começou e acabou o delírio da Força Socialista: no ego doentio de sua principal liderança.
Prezado Humberto,
Ao teu comentário feito segundo o qual "Ana Júlia foi eleita pelos méritos de seu partido e por sua capacidade de mobilizar a emoção do eleitorado", acrescento outro fator ou componente decisivo para a sua vitória em 2006, a saber: o apoio recebido pelo PMDB de Jáder Barbalho, cujo partido está estruturado em todo o Estado do Pará.
Com um abraço cordial,
André Oliveira.
Bom dia, Juca querido:
eu sugeriria outro título: Será que a fila anda?"
Beijão.
Os que defendem a Suely tentam passar uma imagem irreal desta senhora.
Na verdade ela e autoritaria?arrogante e a dona da verdade.
Nunca se elegeu sem a ajuda substancial da maquina.
Agora virou a pessoa mais maravilhosa.Entao ta?
A briga e pelo apoio da gov.
Gostei do comentario que disse que a DS comeca e acaba como a Forca Socialista pelo ego de suas
Liderancas.
Anônimos hoje (02/07)quem aparece na página policial é a Secretária Eutália Barbosa Rodrigues! e data vênia merecidamente!o Dr.Juiz Paulo Roberto Fereira, faz uma defesa a favor da Dra. Odete Carvalho, juiza da 2ª vara da Infância e juventude muito bem fundamentada e ainda critica merecidamente a postura do chefe da Casa Civil Cláudio Puty, quando diz que "quem está falando bobagem é o Chefe da Casa Civil Cáudio Puty, que desconhece a legislação" que ao que parece, o Sr. Puty, seguiu orientações da Secretária Eutália, que demonstra pouco se importar com decisões judiciais contrárias ao que ela pensa.Deve ser o poder que sob a cebeça de alguns, viram estrelas e acham que tudo podem.Essa unidade do CIAB foi escolhida pela ex Secretária Adjunta da SEDES Maria José, juntamente com a Diretora de Assistência Social Antonieta,com a finalidade de abrigar temporariamente o Erec, repito temporariamente, mas, já se vão quase 3 anos e eles continuam lá. O problema não é de preconceito quanto ao local como declara o Sr. Puty,( Liberal, 01/07, pág. Policial) e sim,do espaço que não é apropriado. Acontece que a Secretária atual da SEDES Eutália Barbosa Rodrigues, já está há 1 ano na Secretaria e nada acontece! sem contar a Diretora Antonieta que é remanescente da antiga gestão desde 2007, nada fazia e nada faz. Elas entendem que é sómente problema da FUNCAP como se a FUNCAP não fosse vinculada à SEDES.Quanto a burocrácia para abertura de licitação é tamanha que requer 3 anos? demora-se tanto, que pode acontecer de contratarem empresa com fundamentação na emergencialidade e sem licitação!ai mora o perigo!não cabe mais ao governo desculpas pelo que não foi feito, o cidadão seja ele quem for, precisa de substanciabilidade, de segurança, de sentir os resultados daquilo que ele acreditou quando escolheu um novo governo, não foi este que agora se apresenta, o cidadão não votou no Chefe da Casa Civil, muito menos nessa Secretária de Assistência Social, uma desconhecida Sra. oriunda de outro Estado (Tocantins),não conhece a realidade do Pará, tripudia dos cidadãos e ao que tudo indica, pouco se importa que o governo vá para o fundo do poço desde que ela esteja bem!
Pega na mentira!!!!! ¨Ana Júlia foi eleita pelos méritos de seu partido.¨ A convelçao do PT elegeu Máario Cardoso por aclamação. Ana articulou com Jader e Lula e destitui Mário na força. Nem convenção houve.
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