3.10.07

O Silêncio dos Inocentes

No blog do Josias de Souza, da Folha de SP.

O PSDB reuniu a bancada de senadores, nesta terça-feira (2), para discutir algo que o constrange. O nome do constrangimento é Eduardo Azeredo. Lero vai, lero vem, o partido o optou por enfrentar o inadmissível com o impensável. Decidiu silenciar.
"A gente vai aguardar a manifestação do procurador [Antonio Fernando de Souza] para se pronunciar”, disse Tasso Jeresissati (CE), presidente do PSDB. “Nós não sabemos qual o tipo de acusação, se é que tem, que vai ser feita ao senador."
O tucanato tem o direito de aguardar o quanto quiser. Só não fica bem chamar a platéia de boba. O partido sabe muito bem do que Azeredo é acusado. O que não sabe, por ora, é como explicar inexplicável.
Logo que as primeiras denúncias do tucanoduto vieram à tona, nas pegadas do mensalão petista, em 2005, o PSDB protegera-se atrás do conveniente escudo do caixa dois. Admitira-se, então, que os tucanos de Minas bicaram valerianas de má procedência. Mas alegara-se que não ocultavam verbas públicas sob as asas.
O inquérito da Polícia Federal demonstrou o contrário. Pelo duto dos tucanos correram pelo menos R$ 5 milhões do erário mineiro. Vieram, segundo a polícia das arcas públicas da Cemig, da Copasa, do Bemge e da Comig.
Há dois anos, acomodado pela conjuntura no banco da CPI dos Correios, Azeredo saíra-se com uma desculpa à Lula: dissera que não sabia das malfeitorias praticadas à sombra de suas penas em 1998. Alegara que toda a responsabilidade de Cláudio Mourão, ex-gestor financeiro de sua campanha.
Graças à PF, veio à luz um detalhe que espanca a tese do desconhecimento: Azeredo bicou, em 1998, um empréstimo de R$ 511 mil atribuído a Walfrido dos Mares Guia, hoje coordenador político de Lula. Coisa de pai para filho. Nem Azeredo tem a pretensão de pagar nem Mares Guia planeja cobrar.
Dias atrás, sentindo-se isolado, Azeredo piou fora do tom. Disse que parte das verbas de má origem que irrigou o tucanoduto foi borrifada também no caixa da cruzada presidencial de FHC. Segundo ele, havia em Minas, “comitês [da campanha nacional] bancados pela minha campanha.” Enquadrado, Azeredo silenciou.
De silêncio em silêncio, o PSDB vai produzindo um barulho estrondoso. Calou dois anos atrás. Cala de novo agora. Quando decidir falar, será tarde, muito tarde, tardíssimo. Alguns já sentem, irritados, o prejuízo que a privação voluntária da voz proporciona.
Nesta terça, perguntou-se a Jereissati se a convivência com um senador sob suspeição não causa contrangimento. E ele: "Todo episódio como esse, num partido que prima pela ética contra um senador, que eu acredito ser sério e honesto, constrange. Mas nós vamos esperar a acusação."
Então, tá!

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