A Pedra no Caminho do Vice

No dia 6 de setembro passado, um grupo de funcionários do Banco do Cidadão se reuniu para dividir as preocupações causadas pelos assaltos que se desenhavam sob seus olhos.
Uma semana depois, em audiência com o vice governador Odair Correa, do PDT, denunciaram as irregularidades que estavam acontecendo naquela repartição, comandada diretamente por nacionais da confiança de Odair, mesmo sendo um programa vinculado à Seplan.
Visivelmente perturbado com as notícias, Odair tentou contemporizar, alegando que o chefe do bando, Olinto Ferreira dos Santos era pessoa de sua inteira confiança, e prometeu levar o assunto à governadora Ana Julia.
Levastes?
Nas duas semanas seguintes, o bando entregou-se ao trabalho de tentar apagar os rastros do saque, e o grupo de funcionários denunciante a colher todas as provas necessárias à comprovação das denúncias, no que foram, ambos e em parte, bem sucedidos.
No final de setembro, o gerente-executivo do banco, João Matos, membro do grupo denunciante, voltou a se encontrar com o vice governador, e mais uma vez fez carga contra a quadrilha.
Nesta ocasião Odair teria manifestado surpresa quanto aos valores desviados, várias ocorrências de pequena monta, em comparação com a tenacidade da denúncia.
De fato, e aí se apresenta a face mais dramática do episódio, a magnitude do desvio pode ser considerada famélica, quando se vê as dezenas de milhões que em geral ornamentam os golpes das quadrilhas que assaltam os cofres públicos.
Mas o Banco, que distribuiu pouco mais de R$ 3 milhões no primeiro semestre deste ano, trabalha com pequenos financiamentos, impedindo operações de vulto, como desejavam os marginais.
Em outras palavras, não é um grande escândalo no montante, mas no aspecto tôsco de seu cometimento. A investigação vai apontar peculato, improbidade e estelionato.
Para tomar a decisão, Odair precisou de enorme apoio de um amigo abaetetubense, de nome Solano, que foi enfático no aconselhamento ao vice ao dizer "Odair, voce tem que intervir na roubalheira!"
Acossado, em visita relâmpago ao banco no final de setembro, Odair comunicou o afastamento da quadrilha.
Informado dos desvios, o secretário de Planejamento, José Júlio, determinou a instalação de uma comissão de sindicância, que começou os trabalhos nesta segunda,1 , um dia depois da primeira denúncia vir a público, na coluna Por Dentro, do jornalista Ronaldo Brasiliense em O Liberal.
Os denunciantes, depois de quase um mês a espera de medidas mais enérgicas, foram na tarde de ontem, 3, ao MPE e conversaram com o promotores Jorge Mendonça e Gilberto Martins que hoje estarão recebendo as provas da corrupção.
E a história que voces leram acima, vão ouvir também a comissão de sindicância, e o MPE. Virão outras, e o cerco vai se fechar.
Não vai ficar pedra sobre pedra, como tentou dizer o vice governador do Pará Odair Correa, do PDT, ao Diário do Pará.