24.4.08

As Duas Faces da Moeda

Do deputado João Salame (PPS) , presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, sobre o post abaixo.


O deputado Jordy está certo. Fazer obstrução para defender quem exerce atividade ilegal é algo totalmente descabido. Mas temos que ter claro: devemos ser radicalmente contra qualquer atividade ilegal na floresta. Mas é preciso, também, denunciar fortemente o estado que empurra o setor produtivo para a ilegalidade ao não liberar planos de manejo; não promover a regularização fundiária; não equacionar de maneira inteligente a questão da reserva legal; não prover de financiamento farto o reflorestamento; não criar compensação ambiental para quem preserva; não estruturar Sema e Ibama para exercer fiscalização cotidiana, etc...Aplaudir devastadores que estão na contramão da história e impedir atividades produtivas sustentáveis para garantir a sobrevivência de 20 milhões de brasileiros que habitam a Amazônia por causa da inoperância do Estado são dois crimes de duas faces de uma mesma moeda.O grande Aristóteles, que dizia que a verdade não se encontra nos extremos, deve estar tremendo nas catacumbas diante de tanta estupidez. A jusante e a montante.

4 comentários:

Anônimo disse...

Atividade produtiva sustentável é eufemismo criado expressamente pelo Banco Mundial para dourar a pílula e liberar a destruição da floresta, mediante, lógico, boas propinas para os órgãos liberadores e fiscalizadores e o mundo se fartar com madeira dos países que ainda têm cobertura vegetal. Esses mesmos destruidores são aqueles que bramam contra a "internacionalização da Amazônia". E a patuléia, anestesiada, aplaude, enquanto o deputado discursa esperando o financiamento de mais uma campanha.

Anônimo disse...

Por falar em dourar a pílula, já é tempo de se falar com clareza e, mais do que isso, de se enfrentar de forma corajosa os problemas que vem afligindo o funcionamento da área ambiental do Estado. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente está paralisada há vários mêses, pois mutos técnicos qualificados foram substituídos por pessoas incompetentes. O resultado é que hoje, a SEMA não consegue liberar nem licença de operação de padaria, quanto mais plano de manejo, que é mais complicado. Não se trata de cuidado com o ambiente, é burrice mesmo. Milhares de processos simples, sem qualquer relação com o desmatamento, estão parados na secretaria. O secretário é bom de discurso mas é muito fraco do ponto de vista administrativo. A situação é grave e está prejudicando até as prefeituras municipais, que estão deixando de receber recursos federais porque não conseguem obter as licenças para sua obras de infra-estrutura.
Se a SEMA resolvesse, por razões ideológicas, não mais conceder nenhum tipo de licença ambiental, a decisão (do tipo "o estado não faz porque não quer") seria exdrúxula mas explicável. O problema, no entanto, é que no caso "o estado não faz porque não sabe". E isso é o fim da picada! Quem acha difícil de acreditar no que foi dito aqui, procure se informar. Vai ficar abismado...

Anônimo disse...

Parece que o deputado Salame chegou hoje ao Pará e desconhece a situação de descalabro, incompetencia e corrupção que grassava na SECTAM e que hoje, tenta-se combater esses cancros.

Evidente que problemas ainda existem, e muitos, mas o atual inconformismo do setor florestal deve-se menos a atuação da SEMA e mais ao hábito predatório e irresponsável de conviverem com a facilidade e a liberalidade na análise dos projetos nas gestões anteriores.

No governo passado sob a gestão do Raul Porto, irmão do deputado Joaquim Passarinho, a SECTAM liberava rapidinho os projetos de manejo, isso, soube-se depois da prisão do ex- secretário, a um cu$$$$to alto para os madeireiros e perverso para a floresta.


E tem mais, a depender dos empresários da madeira, a floresta vem abaixo, pois só visam lucro. A Mata Atlântica, hoje com apenas 5% de sua cobertura vegetal original, é um exemplo vivo e triste dessa atividade, que nenhum compromisso tem com o meio ambiente.

Pergunto:
Quantas e quais, fora a Vale e o Marcos Marcelino, as empresas madeireiras que efetivaram algum projeto de reflorestamento aqui no Pará. Duvido que cheguem a 5.

Estupidez é taxar de incompetente agora, um órgão que era há muitos e muitos anos, viciado, omisso, irresponsável e diria até, sem ser injusto, desonesto na sua essência.

Anônimo disse...

Meu caro anônimo das 2:49

Você não entendeu a direção da minha crítica. Não é ao atual governo, mas ao Estado, desde longínquo tempo. Quero lhe dizer que, inclusive, considero o Valmir Ortega o melhor secretário de Meio Ambiente que já tivemos, a despeito da admiração que tenho pelo deputado Gabriel Guerreiro. Ortega é preparado, tem uma belíssima visão de como tocar a questrão ambiental e sabe verbalizar seus pensamentos. Também gostaria de aplaudir o trabalho do Marcelo Aiub, que vem combatendo a "indústria do corredor", ou, em linguagem mais clara, a da propina, na Sema. Mas as coisas ainda andam a passos lentos. É preciso, por exemplo, aprovar um empréstimo na Assembléia para estruturar a Sema que,para mim, é a mais importante secretaria dessse Estado. Mais servidores qualificados, melhores salários, mais estrutura, etc. Já disse isso ao Ortega e existe ambiente na Assembléia para isso. Quanto aos projetos de reflorestamento existem vários interessantes, além dos da Vale e da Marcos Marcelino. Te citaria o do deputado Giovanni Queiroz (teca), da Ibérica (eucalipto consorciado com nativas) e outros. Muitos deles travados na Sema. O próprio Ortega reconheceu esses dias que às vezes é mais fácil umplano de manejo, ou seja, para extrair madeira, do que uma licença para refloretamento. Ele promete mudar isso. Ou seja, está com o diagnóstico correto, mas angustia a gente a lentidão como as coisas andam. Infelizmente o Estado continua muito mais lento e lerdo que a iniciativa privada. Isso prejudica quem quer trabalhar direito e incentiva a atividade ilegal. Cumpre lembrar que já temos 1 ano e 4 meses do atual governo. Não é pouco. Não dá pra resolver tods os problemas recebidos, mas creio que já poderíamos ter avançado mais. Digo isso sempre ao Ortega, de maneira fraterna, pois o considero um homem público sério e quero que as coisas sob o seu comando funcionem, até para fortalecê-lo.
Quanto ao primeiro anônimo não me deixa alternativa. Ou melhor, ele não nos deixa alternativa: só nos resta a opção de deflagrar uma ampla operação para comprar tangas, arco e flexa para todos os amazônidas.
Atenciosamente,

João Salame

Obs: A propósito, nasci há 46 anos, em Marabá. Meu avô lá chegou em 1902. E nunca nos deixamos cooptar pelas drogas da floresta e muito menos as urbanas.