15.4.07

Ilustres Ausentes

Do jornalista Lucio Flavio Pinto, na edição de sábado, 14, do Estado do Tapajos.

São plenamente justificados os motivos para comemorar o cinqüentenário da Universidade Federal do Pará. Não só é infactível voltar a uma época antes dela, como não é desejável. A qualidade do ensino, a capacidade de pesquisa, a utilidade da educação, a competência de pessoal, a amplitude de quadros - por esses e vários outros títulos a contribuição da UFPA para Belém, o Pará e a Amazônia é valiosa.
Tudo bem: mas onde estão os intelectuais públicos que a UFPA seduziu e parece que engoliu nos seus campi? Eles estão se qualificando academicamente, pesquisando, escrevendo e ensinando. Mas não se apresentam na arena do cotidiano para os desafios e debates da inteligência. Os intelectuais, enquadrados na (e pela) academia, reduzidos a sacertdotes do saber (ou oráculos de uma Delfos privada) são os grandes ausentes do dia-a-dia mais recente. Talvez se tenham tornado mais sábios, mas, para o povo, ficaram menos úteis. Para a história, dispensáveis.
Antes da UFPA, eles estavam nas redações dos jornais, nos parlamentos, nas praças, nos bares, nas ruas. Estavam expostos a todos os riscos, mas se apresentavam como interlocutores de qualquer questão, mesmo quando não muito bem preparados para esclarecê-las. Hoje, como regra, estão tratando da própria carreira, para a qual pouco contribuem entrevistas à imprensa (quando não, muito pelo contrário). Quem é o grande intelectual universitário na linha de tiro desta fronteira selvagem?
Convinha pensar na resposta a esta pergunta antes de cortar o bolo do aniversário
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Curiosamente, dois dias após o lançamento desta edição do JP, uma poderosa entrevista do filósofo Benedito Nunes na edição dominical de O IVCezal logra quebrar o silêncio. Descontada a sutileza do mestre, vê-se a Nova Déli arrasada em que vivemos.

13 comentários:

Anônimo disse...

8 x 23 disse ...

Muito boa mesmo a entrevista do Iran Souza com o professor Benedito. Aliás, o professor fez questão, por duas vezes, embora sem destaques na edição, de reconhecer e valorizar o trabalho feito na cidade pelo arquiteto e ex-secretário de Cultura Paulo Chaves. Merecido.

Anônimo disse...

Juca,

Este texto não pedeu a atualidade, em tempos de caças às bruxas no governo Ana Júlia, opiniões de LFP e Benedicto nunes sonbre a academia, Thomas Jefferson e Abrahan Lincoln. E das lambanças de JB.
Valeria a pena ír para a primeira página do site.
Bom domingo,
Miguel Oliveira



Uma cidade e seu espírito

Euclides Chembra Gonçalves
Belém-Pará-1991


Não levando em conta a seiva das mangueiras, que são árvores sérias e seculares, que tipo de sangue corre nas veias de Belém? A resposta está por aí, nas notícias de jornal, nos bares, esquinas, no aroma tucupi-pimenta de cheiro, uma combinação diabólica, e nas conversas em volta das bancas de tacacá. O sangue que corre nas veias de Belém é um sangue equatorial, bandalho. È claro que com uma pitada de sífilis, aqui e ali, mas isso agora não vem ao caso.
Na linha do Equador a coisa é quase toda assim, mas Belém tem características próprias, únicas. Temos pé, mas não temos cabeça, pelo menos no que se refere à pirâmide social. Na base está a sacolejante massa de pobres e miseráveis, mas seguindo para o topo, não há nada além da classe média. Burguesia e nobreza, nem pensar. Em meio a essa grande confusão sociológica, os novos ricos sobem e descem, sem posição fixa de acordo com as disponibilidades da Sudam e dos cofres públicos em geral.
Ter uma pirâmide social sem cabeça, sem nobres e burgueses, é o creme do creme. Somos uma sociedade descabeçada e, portanto, que pode justificar os maiores desatinos. Seremos no futuro uma grande sociedade sem o meio da pirâmide, se a classe média? Empobretados, todos, miserabilizados, a maioria, passaríamos a maior parte do tempo em constante movimentação, pedindo uma xícara de açúcar ao vizinho e vice-versa.
Mas enquanto os bons ventos não chegam, o importante é saber interpretar os acontecimentos do dia-a-dia e catar informações nos bastidores. Outro dia, por exemplo, uma coluna noticiou a apresentação de um precioso cavalo árabe, num haras local. A coluna falava do entusiasmo do público presente quando a cavalgadura adentrou ao gramado cercada por uma guarda de honra composta por seis soldados egípcios. Não ficou bem claro se os seis rapazes eram árabes e o cavalo, idem, ou se os rapazes eram marajoaras e o cavalo legítimo, ou se o cavalo era marajoara, fantasiado de árabe, e a rapaziada de Cachoeira do Arari.
Além do inusitado da apresentação a notícias não falava se houve fundo musical, mas pegava bem o “Havanaguilla” – ficou uma dúvida no ar. Ao longo dos séculos, as pessoas acabam se dando mal. Cleópatra, por exemplo, morreu tragicamente, x como se sabe. E mais recentemente, Amuar Sadat, cercado pela guarda, acabou como tarrafa(só furo e chumbo), durante um desfile militar, salvo engano, na cidade do Cairo. Como o cavalo, ao que consta, não morreu em atentado, não morreu de tédio e não está puxando carroça no porto da Palha, alguma coisa falseou na memorável apresentação. Ou tudo era legítimo e a velha praga do deserto rendeu-se ao Espírito de Belém, que tudo dobra, desafia e avacalha.
Aí veio o príncipe Charles, inglês, com um número bem maior de guardas, inclusive brasileiros, e um navio enorme que eles chamam de iate. Ao informar à rainha Elizabeth que pretendia descer em Belém e realizar um seminário no Teatro da Paz, uma visita ao Ver-o-Peso e participar de uma roda de samba no Quem São Eles, sua majestade cortou o mal pela raiz, exclamando: “Nem morta!” Charles, filho obediente, desceu em Belém, correu para o ‘Britânia” e se mandou aí pelos rios. Durante quase dois dias, a bordo discutiu ecologia e meio ambiente com um grupo de velhotes e deixou, em Belém, uma onda de protestos, lamentações e ranger de dentes.
Se por um lado a ausência do príncipe na cidade preservou a própria existência da família real, por outro lado quase provocou uma guerra com a Inglaterra, quando a Ilha das Onças faria o papel de Ilhas Malvinas. Para quem não sabe, a Polícia Militar esteve a ponto de atacar a Marinha Britânica e apresar o iate real, levando-o para o porto do Cebolão. O momento mais tenso, entretanto, foi quando a segurança do vice-governador [Carlos Santos] entrou em alerta máximo. Aí, o governo inglês mandou um fax dizendo que assim também já era covardia e ameaçou retaliar com um submarino que estava estacionado em águas próximas do Outeiro. A nave enfrentava um pequeno problema técnico – cocô no periscópio – mas, dizia o fax, estava em condições de disparar um petardo contra a cidade, destruindo de uma só vez, a Vila da barca, a Fundação Curro Velho e a Joansa.
A Inglaterra, na verdade, foi salva pelo gongo. Às 13:30 horas, encerrado o expediente da sexta-feira, o terceiro escalão espalhou-se pelos bares da cidade, o segundo escalão botou as bermudas e foi para o supermercado fazer as compras da semana, e o primeiro escalão seguiu para Salinas. A guerra ficou para segunda-feira, mas aí o príncipe Charles já estava na Inglaterra e o “Britânia” em alto mar. A cidade voltou à rotina, sem mortos e feridos, como convém às pessoas de bom senso. Restou a observação de um caboclo-pescador de Salvaterra, que estava remendando uma malhadeira bem ao lado do trapiche de Icoaraci quando o príncipe desembarcou. Ele esticou o pescoço, examinou, olhou bem e depois sentenciou, voltando ao trabalho.
-Hum, então! Charles por Charles eu sou mais o Charles Santos.

Anônimo disse...

ad argumentandum tantum:

O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.

(Albert Einstein)

Anônimo disse...

Juvêncio, interessante a entrevista do professor Benedito Nunes ao jornalista Iran Souza, no jornal O liberal, deste domingo.
Durante o I Fórum de TVs Públicas na Amazônia, realizada pela Funtelpa(sexta-feira), Jorge Cunha Lima, presidente da Associação Brasileira das Emissoras Educativas e Culturais(ABEPEC), em seu pronunciamento, declarou, de forma bem acessível, a compreensão desses isolamentos(são vários). Uma delas, que vale a pena pinçar, é que não se discute mais os fatos. “São Paulo é tão grande e tem de tudo, e tudo muito, que não dá mais nem para ser feliz. Como dizem os jovens, não se transa mais. Não se transa mais na mesa de jantar, as pessoas não conversam mais. Só se transa agora no quarto...”, resumindo o poder da televisão na família. Ou seja, não nos ouvimos mais. Não nos falamos mais. A matéria do Iran Souza complementa a falta que faz essa “relação aberta” em nossas transas diárias.
Bjs.

Anônimo disse...

Mas, Juvêncio, vale ressaltar a conferência 'História da escravidão na Amazônia: fontes do Arquivo Público do Estado do Pará', promovida pelo Arquivo Público em conjunto com o programa de pós-graduação em História Social da Amazônia, da Universidade Federal do Pará (UFPA), realizada também sexta-feira, à noite, na Igreja de Santo Alexandre. Os professores Vicente Salles e Anaíza Vergolino-Henry, falaram sobre os documentos que cada um leu e pesquisou para escrever livros sobre o tema.
Amigo, estava tão lotado, que sentei no chão daquele templo. Foi imperdível.
Bjs.

Anônimo disse...

Putz, é terrível ler isto num domingo. Vou ler um pouco de Bauman pra amenizar a constatação do LFP. Infelizmente (ou felizmente, como queiram) está não é uma "realidade" paraense... É coisa do mundo...

Unknown disse...

Mas eu pensei que se "bebia" o Baumam...rs
Bom domingo, Pinky - every day is like a sunday.

Anônimo disse...

...Tropeçava num travo de tédio, rasgava um tendão de má sorte, mas prosseguia...
(Vicente Franz Cecim)

sunday...

Anônimo disse...

O artigo de LFP vem ao encontro dos meus comentários postados aqui.
o encastelamento da intelegentsia brasileira na torre de marfim é fato antigo.
Vai ser interessante acompanhar a trajetória executiva dos que pularam o muro da academia.
Pretendem eles quebrar o muro a partir do governo-estado? ou tudo continuará como dantes nos quartéis de abrantes?

(Certa feita Marx remeteu uma nota a Engels, queixando-se de “nunca antes alguém ter teorizado sobre alguma coisa – O Capital – com tamanha carência de seu objeto de pesquisa”. Naquele caso, embora inquestionavelmente eruditíssimo, Marx não tinha Capital sequer para remeter os originais de sua Obra ao Editor... Drucker praticamente repete isso em seu livro!

Fica mais uma vez provado: quem tem profundidade acadêmica, particularmente em torno da filosofia da práxis, consegue teorizar sobre algo de que não dispõe, mas que conhece de perto, ainda que na condição de vítima: “Capital”.
Do outro lado, ideólogos pseudo-intelectuais ultraconservadores e incrivelmente bem remunerados como Peter Drucker demonstram-se incompetentes para teorizar sobre algo de que sofrem carência catatônica: “Conhecimento”...
(fonte: http://www.culturabrasil.org/poscapitalimo.htm)

Unknown disse...

Olá Thomas.Vc tem razão. O encastelamento é pauta, cada vez mais, em reuniões e eventos científicos, pois a inteligentsia é capaz de perceber suas limitações, embora nem sempre seja rápida para superá-las.
Não é uma empreitada com chances de sucesso sem , antes, uma revisão dos conceitos de Ciência e Ideologia.
A academia se ressente, a meu juízo, de controles sociais mais próximos da produção e da difusão da ciência.
Conversei hoje com o reitor Fiúza,por telefone. Ele concorda integralmente com LFP.
Disse mais: que vai abordar este artigo de Lucio em algum momento das solenidades dos 50 anos da UFPA.
Nada mais oportuno.
Lucio, aliás, vai ser faladíssimo em julho, na comunidade acadêmica.
Nem ele sabe disso ainda...rs

Val-André Mutran  disse...

Mestre. Não imaginas o aperto na goela de não ter sentado numa mesa do Bar do Parque para tomar todas com o Chembra.

Mas, de todo modo, aos filhos da noite, Deus, pai que é, concede compensações.

Explico: convivi um ano inteirinho como Dj residente e master-controler da mesa de som onde o irmão do inesquecível era o crooner principal, o inigualável Walter Bandeira – irmão de um dos melhores jornalistas de todos os tempos.

Walter era sucedido, no set, por Maria Lídia, a mais bela voz de Santarém na noite belemense.

O espaço era para platéia seleta e a Super Boate, localizada na Trav. Piedade, lá pelo ano de 1986, fez história e deu muito o que falar.

O também inesquecível João Alberto Pinheiro cantava por lá, vez e quando, retornando a Belém. Ele aproveitou o estrondoso sucesso – com inegável mérito – no papel que desempenhou como um impagável mordomo na novela de maior audiência da extinta Rede Manchete. Lembras?

Nesse point, foi revelado outro craque, o então desconhecido Marco Monteiro.

A base era de matar. Maisena no baixo, Nego Nelson no violão e Paulinho na bateria.

Uma revelação para teus leitores: Como os show’s ao vivo tinham que acabar no meião da madruga (lá pelas 2h00) a boate precisava faturar e combinei com o Walter uma inovação: Ele sempre cantava e arrebentava com uma música do Jorge ben Jor. De modo que no: Pê-pê-rê-pê-pê...Pê-pê-rê-pê-pê...ô, iô....eu mixava com um LP 12” Remixado do próprio Jorge bem Jor.

A galera ia à loucura!!! Depois engatava só lançamentos que fazia questão de comprar em primeiríssima mão com o D. Floriano. Outras preciosidades comprava na Lado A disco, na Braz de Aguiar.

Chembra encantava. Walter cantava e encantava! Cata muito, mas muito bem ainda, Graças a Deus.

Viva os Bandeiras!! Oxalá tenham sucessores.

Anônimo disse...

Claro 8x23, lembre-se que sua esposa ganhou um teatro pelo Landi paraoara.

Anônimo disse...

E foi boa a entrevista do Benedito Nunes, mas a do Max Martins pelo Elias Pinto foi infinitamente melhor.