Por Ruy Castro, na Folha de SP.
Um dos motes mais instigantes da televisão pode cair nas próximas semanas, se a Anvisa (Agência Nacional de VigilânciaSanitária) conseguir aprovar um pacote de restrições à publicidade decerveja.
Esse mote é a frase "Aprecie com moderação", enunciada ao fim de comerciais em que dezenas de jovens eufóricos são mostrados tomando cerveja -imoderadamente- como se ela fosse o elixir da felicidade, do sucesso com as mulheres ou da própria vida eterna.
O autor do mote, seja quem for, conseguiu resumir em três palavras mais idéias que se contradizem e se anulam do que qualquer tratado de lógica saberia explicar.
"Aprecie com moderação", referindo-se ao ato de tomar cerveja, pressupõe que cabe a você racionalizar sobre a quantidadeadequada à sua "apreciação" do produto e parar de beber antes de seembriagar.
É fascinante, considerando-se que uma das funções de qualquer bebida alcoólica é justamente comprometer ou abolir a capacidade de racionalizar. É o que faz com que, depois de alguns chopes e julgando-se perfeitamente sóbrio, você dê 200 por hora no seu carro e o enfie no poste.
A frase pressupõe também que os bebedores são capazes por igual de exercer essa "moderação". Ela não prevê a existência dos alcoólicos potenciais -os compulsivos em geral, inclusive na bebida, e aqueles cujo organismo demora mais a acusar o álcool e dos alcoólicos na ativa,já dependentes do produto. Se esses bebedores fossem capazes deestabelecer um nível racional de "moderação", a indústria de cervejateria quebrado há muito tempo.
"Aprecie com moderação" é uma cínica contradição em termos, tão flagrante quanto seriam frases parecidas aplicadas a outras atividades.Tipo: "Fume sem tragar". Ou "Aspire sem cheirar". Ou "Ejacule semgozar".
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6 comentários:
O "fumar sem tragar" é ótimo. E aguardo que a ANVISA chegue um dia a questionar o cinismo/hipocrisia do Ministério da Saúde que adverte que fumar faz mal, que o cigarro tem 4.500 toxinas, que causa câncer e o escambau, mas não questiona os componentes nocivos exigindo a mudança ou então proíbe o veneno, porque o imposto arrecadado acalma qualquer consciência cívica.
Se o cancer comprovadamente causado pelo cigarro me pegar, eu pretendo processar o Ministério e não a Souza Cruz.
É. Hoje não quero acordo.
Beijão.
Bom dia, comentarista madrugadora do blog. Processe mesmo...rs.
Bjão.
"Achar" não é roubar.
A maracujina dos impostos só serve mesmo pro governante do momento. Se houvesse ao menos responsabilidade fiscal neste papo, os administradores de plantão levariam mais a sério a advertência tantas vezes feitas por gente especializada de que os gastos do SUS com tratamento de saúde dos viciados - em cigarro e álcool, principalmente - superarão, em muito breve, o produto da arrecadação tributária das indústrias do tabaco e da bebida.
as faculdades particulares deveriam imprimir nas suas propagandas de vestibular APRENDA SEM LER...rsrsrs.... tá foda, bródi.
Vai melhorar querida...rs
Tks pela pauta.
Bjs
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