12.2.08

Ataque

No caderno Atualidades, edição de hoje de O Liberal, pontifica a notícia de uma reunião ocorrida ontem, na Faepa, entre a direção da Federação da Agricultura do Pará e os deputados tucanos Bosco Gabriel, César Colares, José Megale e Alexandre Von, o pepessista João Salame, presidente da Comissão de Meio Ambiente da AL, além de prefeitos dos municípios que alcançaram destaque na predação desenfreada: São Felix do Xingu, Santana do Araguaia, Ulianópolis, Altamira, Cumaru do Norte, Novo Progresso, Dom Eliseu, Santa Maria das Barreiras, Paragomians, Novo Repartimento, Rondon do Pará e Brasil Novo.
Cesar Colares sugeriu a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as responsabilidades pelo desmatamento, manobra claramente diversionista e protelatória da patada que a sociedade espera que o governo aplique, enfim, na predação.
Bosco Gabriel acha que os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) podem ser inseguros, mas o blog não identifica, no deputado e suas fontes, qualquer evidência de conhecimento científico que o habilite para formular tal suspeição.
Outras propostas, que a matéria não especificou a procedência, pedem a operacionalização do Zoneamento Econômico-Ecológico, jóia da corôa do ex governador Jatene, e até uma guerra jurídica aberta pela manutenção de reservas legais em propriedades das regiões Sul e Sudeste, para que a lei que, segundo eles, atrapalha a produção até mesmo em áreas já totalmente desmatadas da Amazônia, tenha sua inconveniência percebida em todo o País.
São duas excelentes propostas, na medida em que a primeira tem elementos para escrever um novo capítulo na relações de produção em terras paroaras, e a segunda, embora claramente denotativa do nanismo que acomete as elites agrícolas da região, chama atenção de todo o território nacional para a gravidade do problema ambiental brasileiro, e não só amazônico, tranformando assim um problema supostamente das regiões Norte e Centro Oeste, em item de pauta da agenda nacional, na altura de sua urgência.
Por último, recomendam a união de forças com produtores do Mato Grosso, sob a liderança do governador Blairo Maggi, considerado o maior produtor de soja do País, em defesa dos pleitos dos produtores da região.
Perfeito. Se os pleitos forem nessa linha, podem fundar a APB, Associação dos Predadores Brasileiros, ensejando um único ente jurídico para receber as citações da Justiça.

19 comentários:

José Carlos Lima disse...

Juca,
O desmatamento na Amazônia foi fotografado pelo INPE e, como disse uma amiga, contra fotos não há argumento.
Tenho insistido com a classe produtora paraense que não adianta agredir os fatos ou pegar a contramão da história. O mundo caminha na direção da correção de rumos no caso da exploração de recursos naturais, apostar que haverá tolerância com os produtores que continuarem a desmatar é pensar o absurdo. As mudanças climáticas são uma realidade insofismável.
Os produtores do Pará não podem buscar Blario Maggi com exemplo ou como lider sob pena de atrairema para sí toda a sorte de restrições.
É preciso compreender que já se desmatou demais. Vamos pensar em novas tecnologias para produzir com sustentabilidade.

Unknown disse...

Zé, acho que é por aí.
A Lei está aí, os estudos do INPE já foram reiterados.
Ou se enquadram, ou força tarefa em cima deles, sem mais delongas.
Se não forem capazes de demandar o Estado e os parlamentares com propostas ousadas, de longo prazo, tem mais é que enfrentar a Lei, a pressão mundial e a opinião pública, cada vez mais reativa a papos furados como estes.

Anônimo disse...

Será que o deputado João Salame (da comissão de meio ambiente) endossa a idéia de alinça estratégica com o "desenvolvimentista" Governador Maggi??

Unknown disse...

Olha, das 3:52, geramente o deputado, muito atencioso com o blog e seus leitores, só gosta de entrar em blogs tarde da noite, sem trocadilhos, é claro.
É bem capaz dele passar por aqui e deixar sua opinião a respeito.

Anônimo disse...

De passagem no escritório de um amigo li o post e os comentários. Escrevo mais tarde. Bem à tarde, como você sabe. Não fugirei ao debate.

João Salame

Unknown disse...

Como disse, é o Salame velho de guerra. Aguardaremos deputado, sempre bem vindo aqui no Quinta.
É possivel que só modere amanhã, tal o cansaço que me acomete há dias, com a sobrecarga de trabalho.
Mas essa discussão vai longe.

Alex Lacerda disse...

Está ocorrendo no Hangar um evento que reune os Superintendentes e chefes de fiscalização do Brasil inteiro, para projetarem o PPCDAM (Plano de Prevenção e combate ao desmatamento na Amazônia) 2008, e a Minístra Marina estará aqui na quinta, para avalizar o evento, junto com a Gov.
Ontem foram propostas pelo Ministério da Fazenda restrições aos predadores, sobretudo financeiras. O vento muda, e vai levar o fogo prá cima de quem acha que desmatar ilegalmente e produzir são sinônimos, se não o do Governo, o dos cofres internacionais, que já estão de olho a muito tempo, e querem só um pé para impor mais restrições aos nossos produtos. Mas tem cabôco burro demais prá ver além de onde o cuspe alcança.

Anônimo disse...

Bosco Gabriel é o fiel representante de uma elite ultrapassada e predadora.Vem de Paragominas, município que até hoje se debate com o passivo ambiental que foi deixado,através da exploração dspragada da floresta.
Fico possesso que esta gente ainda se arvora em questionar os números do INPE, sendo eles apenas desmatadores inconsequentes e descompromissados pensando apenas em seus bolsos.
Amigo de Sidney Rosa ex-prefeito de Paragominas,que foi um dos maiores predadores da floresta e incentivador também e que agora se mudou de mala e cuia para a calha norte do Rio Amazonas, nos Municípios de Prainha e Almeirim e lá tem a mesma prática. Seus amigos madereiros estão para as bandas da Terra do Meio.
Quando a Amazônia for desertificada onde eles estarão.
Novas tecnologias, sustentabilidade, desenvolvimento são definitivamente palavras que não estão em seus dicionários e de cujo significado eles nem pretendem saber.

Anônimo disse...

Meu caro Juca

Conforme o prometido estamos na ribalta. E de antemão peço paciência para o longo texto, porque a questão merece.
De início quero dizer que vêm de longe (para lembrar o saudoso Brizola) minhas convicções de defesa do meio ambiente e combate às pretensões imperialistas (tem gente que acha que isso é coisa demodê).
Em 1992, no Aterro do Flamengo, fizemos um gigantesco ato na Eco Paralela, que questionava a Eco 92 oficial que se instalara no Riocentro. Os últimos oradores do ato, que reuniu cerca de 30 mil pessoas, pela ordem, foram: este deputado que vos fala, à época jornalista e membro da Executiva Nacional da CUT; o presidente da CUT, Jair Meneguelli; e o então presidente do PT, Luís Inácio Lula da Silva.
Batíamos na tecla da preservação da natureza, do meio ambiente e construção de um modelo de desenvolvimento que garantisse a sobrevivência presente e futura das espécies. Condenávamos com igual vigor a falta de compromisso efetivo das grandes potências com a preservação dos biomas mundiais.
Minhas convicções não mudaram. Ao contrário. Mas se, por um lado, não comungo da frase infeliz do presidente Lula de que, mais velhos, ficamos mais conservadores, passei da idade de acreditar em papai noel.
Por isso insisto: num mundo dominado por regras de mercado como o que vivemos não haverá reflorestamento e preservação ambiental se isso não significar lucro!
Não haverá preservação caso isso signifique retirar o conforto da classe média e das elites, como as viagens de avião, a frota cada vez maior de carros, o uso de aparelhos de ar-condicionado e outras máquinas maravilhosas que tornaram nossas vidas mais gostosas apesar de produzirem um rombo na chamada camada de ozônio.
Não haverá lei ou polícia que impeça a derrubada de matas enquanto houver necessidade de móveis, papel moeda, guarda-napos, papel higiênico, etc..
Não haverá lei que diminua o crescimento dos rebanhos bovinos (e, dizem algumas pesquisas, apenas o mugir do boi já é altamente poluente) enquanto a matriz alimentar for liderada pelo consumo de carne bovina.
Ou seja, a questão mais global para se enfrentar de fato o problema do aquecimento global é o problema da matriz de sociedade construída pela revolução industrial e da qual foram beneficiários, principalmente, os países desenvolvidos. Este debate as elites daqui e de fora não estão dispostas a encarar. O petróleo ainda move o mundo!
Sem contar o fato de que os países centrais destruíram suas florestas; a exemplo do que fizeram os estados do sul do Brasil para garantir o crescimento de suas economias à custa de matéria prima barata. Depois que estudos demonstraram que este modelo pode destruir a terra, a gritaria começou e se transformou em quase fobia, em especial contra os que vivem da exploração das florestas ainda existentes, como a amazônica.
Como devemos nos posicionar nesse cenário? Sendo a favor do atual modelo predador? Taxando como criminosos fazendeiros e madeireiros? Liberando para uma devastação maior sob o argumento de que os que protestam já destruíram as suas florestas? Transformando a Amazônia num santuário? Na minha opinião nenhuma das alternativas anteriores.
O primeiro passo é pensar. Não se deixar levar pelo desespero, pela arrogância, como pretendem alguns produtores. Nem transformar o assunto em caso de polícia, como querem alguns que não tem sensibilidade para a presença de cerca de 20 milhões de brasileiros e brasileiras numa das regiões mais pobres do país querendo sobreviver, a maioria sem qualificação, muitos deles enxergando na floresta não só o oxigênio para respirar, mas, principalmente, o alimento para continuar vivendo.
Qualquer bravata do governo federal será mais uma bravata. Um Estado falido para enfrentar meia dúzia de bandidos bem articulados não tem poder de fogo para enfrentar a multidão citada acima. Aliás, as queimadas são o principal fator de destruição da floresta. O governo não consegue sequer ter equipes para apagar incêndios em municípios estratégicamente distribuídos no Estado.
Por isso fui à reunião da Faepa. Como já fui até o secretário Valmir Ortega debater o assunto. Como estou, junto com meus colegas da Comissão de Meio Ambiente, propondo a realização de uma sessão especial na Assembléia Legislativa para debater o tema. Como pretendo me reunir com a Fetagri para debater o problema ambiental nos assentamentos. Por considerar que fazendeiros, madeireiros, assentados, colonos, etc, na sua maioria, não são criminosos por excelência, mas produto de um modelo equivocado.
Quem atraiu essa multidão para a Amazônia prometendo terra a quem desmatasse 50% da área que ocupasse? Quem traz levas e levas de brasileiros depauperados, sem qualificação, principalmente do Maranhão, e os joga em assentamentos sem nenhuma estrutura? Agora criminalizá-los é não apontar o erro para o Estado que criou o monstrengo. Enfrentar o problema com polícia é tirar o sofá da sala quando a mulher trai o marido ou vice-versa, para não parecermos machistas.
Não te informaram sobre minha intervenção na reunião da Faepa. Disse tudo isso e mais: falei aos produtores que eles não têm saída. O modelo tocado até agora por eles acabou. O mundo não aceita mais! Seja pelos calhordas que acabaram com suas florestas e que dominam a mídia e os instrumentos de repressão mundiais, mas, principalmente, porque a preocupação ambiental ganha crescentemente corações e mentes da humanidade. Felizmente! A outra motivação é econômica: os concorrentes da Vale do Rio Doce querem carimbar nela a imagem de devastação ambiental; os produtores de carne da Europa desejam impedir a entrada de nossos bois no velho continente, etc. Não vão deixar de usar a questão ambiental e mobilizar a opinião pública contra nossos produtos.
Por isso precisamos reagir. Mudar o perfil da nossa produção. Investir em tecnologia, produção intensiva, reflorestar, usar planos de manejo. Menos polícia, mais inteligência.
Ora, mas isso só se faz com dinheiro e ganhando dinheiro.
É acreditar em papai Noel acreditar que, com leis duras e polícia, quem já desmatou vai reflorestar dentro da concepção de reserva legal de 80%. É preciso debater com coragem e sem preconceitos a questão da reserva legal nas áreas já degradadas. Que se puna, se multe, se prenda os que praticaram os crimes ambientais e desmataram além do previsto em lei. Mas que se arrume financiamento, crédito e mudança na reserva legal para quem quer reflorestar. Ninguém vai plantar 100 para colher apenas 20. Ninguém!
Canadá e Alemanha, que destruíram suas florestas, hoje são líderes em exportação de madeira. Porque resolveram o problema da reserva legal e superaram o debate tolo sobre as chamadas florestas energéticas. Nós, na Amazônia, temos condições ainda mais generosas para superar esse falso dilema: temos área devastada suficiente para o etanol, o mogno, o eucalipto, a mandioca, a teca, o cacau, o dendê, o feijão, etc...
O mundo ta preocupado? O governo federal ta preocupado? Ótimo! Que liberem dinheiro farto para reflorestamento a exemplo do que os países centrais fizeram para financiar obras faraônicas da ditadura como a Transamazônica, a ponte Rio-Niterói, etc. Como os governos FHC e Lula fizeram com a banca nacional através do Proer e outras mamatas. E que permitam que os empreendedores ganhem dinheiro com o reflorestamento. Sendo um bom negócio a Amazônia vai ser invadida de novo. Todo mundo querendo plantar. Vai ter neguinho expulsando gente de suas propriedades com sementes na mão. É a lei do velho capitalismo, que o nosso sonho socialista ainda não deu conta de suplantar.
Aproveitando-se do temor generalizado que tomou conta do chamado setor produtivo o momento é este para celebrar um grande pacto. Que impeça o avanço da fronteira agrícola. Que se explore a floresta através de planos de manejo legalmente autorizados. E que se refloreste. Senão, talvez no próximo ano comemoremos a diminuição do desmatamento ilegal de 100 mil campos de futebol para 99 mil campos de futebol. Para quem acha que isso é avanço que continue a clamar por polícia.
Atenciosamente

João Salame


Obs: A propósito, não tenho nada a ver com o governador Blairo Maggi. Nem politicamente, nem ambientalmente.

Anônimo disse...

Juvêncio, proponho que o texto do Salame seja postado para que receba as atenções devidas e os comentários necessários - na ribalta, como ele diz; afinal o deputado se posicionou levantando questões importantes, demonstrando-se articulado em relação ao assunto. Devemos estimular alguém que pensa na AL e provocar o restante da comunidade blogueira.
JC

Unknown disse...

Vou comentar e fazer o link, JC, ao longo do dia de hoje.

Anônimo disse...

Ei, até o Blairo Maggi não é mais o mesmo. Depois de "abrir" o Mato Grosso, hoje incentiva o reflorestamento e a área ambiental do seu governo, tanto que no sobrevôo com ministros, mostrou que parte do desmatamento apontado pelo Inpe não era mesmo desmatamento, pelo menos não era recente. E até rochas haviam sido apontadas como desmatamento recente pelo Inpe, que reconheceu o erro.

Anônimo disse...

Em entrevista ao Paulo Henrique Amorim, o Maggi contou que enviou técnicos da Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso a campo para checar as informações sobre o desmatamento. A partir das coordenadas do Deter/Inpe,os técnicos foram aos locais e fotografaram. Resultado: 80,5% das áreas apontadas como desmatamento ilegal pelo Inpe não eram desmatamento.
Maggi disse que o Inpe reconheceu os erros nos dados de abril a setembro de 2007 e já fez a correção. O governador contesta também os ddos de outubro a dezembro. "A correção, se é que ela vai existir, se nós estivermos corretos também, de outubro, novembro e dezembro deve ocorrer em 60 dias", disse Maggi.

O pessoal daqui anda morrendo de inveja desse governador.

Anônimo disse...

Comissão de Meio Ambiente da Alepa e a Faepa, os legítimos representantes da mais dura e retrógrada direita brasileira? Essa equação, denitivamente, não combina. Alguém são tem alguma dúvida das intenções dos senhores Bosco Gabriel e Carlos Xavier em relação à floresta? Só se for muito ingênuo mesmo. Quanto aos deputados Salame (candidato a prefeito de Marabá) e Gabriel Guerreiro (louco pela Vale), estes dois têm o discurso mais incoerente que o parlamento estadual já viu.
Em relação ao Inpe, os erros são estimados em cerca de 15% em não em 85%, como um anônimo informou. O fato é que o desmatamento é real e precisa ser contido, mesmo que os predadores históricos da Amazônia esperneneem.

Anônimo disse...

O Bosco Gabriel - deputado que representa o pior em termos de desrespeito ao meio ambiente, interesses de uma capitalismo selvagem e inaceitável em nosso tempo e vilezas sociais em uma realidade onde prolifera trabalho escravo - chega a ser hilário reclamando todo dia no parlamento que o governo não deixa ele e seus comparsar reflorestarem ao estado, cobrando da Ana Júlia apoio aos latifundiários e devastadores
acreditem!!

Unknown disse...

Meu caro deputado Salame, seu comentário será levado à ribalta amanhã. O complicado dia de hoje impediu-me de fazê-lo.
Mas, como essa perlenga vai longe, amanhã será um bom dia.

Anônimo disse...

Ao anônimo das 2:27

Sou daqueles que gosta de fazer auto-crítica. Mas não formulo minhas posições por antipatias pessoais e sim por simpatias e antipatias a fatos e idéias. Espero que seja com base nessa premissa que você me considere incoerente. Gostaria então que você entrasse no mérito dessa ]suposta incoerência, para que possamos debatê-la no mérito. O resto é discurso.
Atenciosamnente

João Salame

Anônimo disse...

Se tivermos o mesmo espaço privilegiado que V.Exa.

Anônimo disse...

Anônimo das 3:34. Não sou dono do blog, mas tenho certeza que o Juca gosta do bom debate. Escreva à profusão. No mérito.

João Salame