13.2.08

Cidadão Comum

No blog do Noblat.

Segunda-feira de carnaval, saio de casa perto das 22:00 horas para encontrar a namorada na porta do Circo Voador, na Lapa. Lá chegando, saio do táxi falando ao celular para encontrá-la. Mas não é só. Além de tênis, bermuda e camisa, usava um chapéu, desses vendidos em todos os cantos da cidade a R$ 5,00. Presente da namorada. Coisa de mulher.
Então, atravesso a rua e quase sou atropelado por um camburão com luzes e lanternas apagadas com a inscrição CORE no carro. No mesmo momento o motorista grita " Ô malandro" e eu, assustado, dou um pulo para a calçada, peço desculpas e viro as costas, continuando ao celular e andando, já na calçada.
Ai, percebo que a viatura andava ao meu lado, com três policiais de preto, ao que escuto, em alto e bom som: "Saia da rua, seu malandro e bêbado". Nesse momento, pensei: Isto não é jeito de tratar as pessoas na rua e respondi: "Não sou bêbado nem malandro; se vocês não estiverem em operação, está errado andarem com essa viatura preta e apagada, pois quase me atropelaram e vão acabar atropelando alguém!"
Oportunidade em que os homens de preto descem da viatura dizendo: "Ô malandro, tu é abusado, tá preso". Ato contínuo, diante da voz de prisão, estendo os dois braços para ser algemado. Pergunto ao mais novo dos três, que estava completamente alterado: "Qual o motivo da prisão?" Resposta: "Desacato". Pergunto novamente: "O que os senhores entendem como desacato?" Resposta: "Até a DP a gente inventa, se a gente te levar pra lá". Neste exato momento, percebendo a gravidade da situação, disse: Estou me identificando como juiz federal e minha identificação funcional está dentro da minha carteira, no bolso da bermuda. Imediatamente o policial novinho, que se identificou como André e na DP disse se chamar Cristiano meteu a mão no meu bolso, pegou a minha carteira e a colocou em um dos bolsos de sua farda preta. Então o impensável aconteceu! Disseram: "Juiz Federal é o c..., tu é malandro e vai para a caçapa do camburão
.

Na íntegra aqui, prá ingles ler.

7 comentários:

Anônimo disse...

É, Juca, há exatos sete anos passei por situação semelhante em Belém.

Pela primeira vez me vi obrigada a dar a famosa "carteirada". Não sei o que teria acontecido com meu irmão se eu não tivesse feito isso.

Lamentável... Totoalmente lamentável que eu tenha que me sentir segura com a carteira que deveria usar apenas no ofício da profissão...

Nunca mais saí de casa sem a "bendita" identificação de jornalista.

Unknown disse...

Lamento pelo acontecido, amiga.
O artigo foi postado para que os "ingleses" vejam o que acontece com a prática abusiva do embargo de gaveta, da corrupção, da frouxura, da arrogância, do nepotismo e outras endemias que acometem o judiciário brasileiro.
Um dia também chegaria neles. Chegou.

CJK disse...

Espero que o meritíssimo, que evidentemente não merecia passar pelo que passou, no futuro reflita muito antes de mandar prender alguém por qualquer "dá cá aqulea palha", como vemos ocorrer nestas cinematográficas "operações" policiais.
Embora ciente da impossibilidade, acho que advogados, juízes e fiscais da lei deveriam passar um "estágio" (rsrsrs) atrás das grades, para aprenderem que a reclusão (exceto no caso de condenação por sentença judicial) é ato extremo, de utilização criteriosa, não servindo para ser utilizado de forma a apaziguar clamores públicos, ou para aparecer bem na Imprensa.

Anônimo disse...

É o caso de chamar o ladrão, como ensinou o Julinho da Adelaide, ou melhor, Chico Buarque de Holanda. No Rio há bandidagem de todo tido: do morro ao DP.

Anônimo disse...

Essa é uma postura muito comum da polícia militar dos estados brasileiros.

É preciso pensar que tipo de seleção escolhe eestes profissionais ? Qual a preparação que eles recebem para atuar em nome do Estado? Qual os incentivos para que estes profissionais exerçam sua função dentro das regras legais?

Mais ainda..., é fundamental rever as condições de operação da justiça brasileira. Morosa e custosa. Imprevisível para queles que não dispõe de recursos financeiros ou carteiras como a apresentada pelo servidor público preso injustamente.

Anônimo disse...

Fica uma perguntinha no ar: Sr. cidadão cumpridor dos seus deveres, , o que V.Sa. sente ao se deparar frente a frente com uns "puliça" (civil ou militar, não importa)?

1- Uma sensação de segurança e tranquilidade por saber que está frente a um servidor público capacitado a tratar com urbanidade e respeito o pacato cidadão?
ou...
2- Começa a temer e tremer pois sabe que está de frente para o perigo, possibilidade de violência e/ou grosserias (deixadas de fora as honrosas exceções)?

Anônimo disse...

Juvêncio, o caso envolvendo Juiz Federal me remete a um novo "mito urbano": nas periferias de Belém, quando comenta-se a respeito de crimes, é comum ouvir das pessoas: "mas fulano vai se safar, a mãe dele é desembargadora!!". Ouvi este comentário em pelo menos três casos diferentes, até quando um preso foi morto durante rebelião: "foi por vingança, mas quem mandou não sabe que a mãe dele é juíza". duvido que uma juíza deixasse o filho ficar preso numa cela imunda e à mercê de presos perigosos... Prefiro pensar que a difusão disto no imaginário social reflete o grau em que introjetamos o "sabe com quem está falando?". Todo mundo tem uma história de carteirada, para deliciar os ouvintes, numa vingança contra abusos em geral. Aos pobres, resta criar uma mãe imaginária, poderosa, a vigiar PMs ou seja lá quem for capaz de botar a mão em seus filhos. Tomara que ela se torne uma figura mais real, pra nossa gente tão sofrida.

Artur Dias