14.2.08

Mamãe eu Quero Ser

No blog do Alencar.

O advogado Sobral Pinto, católico conservador, defendia comunistas.
E explicou em livro porque fazia isso. Ele é homenageado com seu nome em uma esquina - isso mesmo, esquina - do Largo da Carioca.
No século passado, em uma das esquinas da vida ele cruzou com Carlos Prestes, que estava encarcerado pela ditadura Vargas em um socavão de escada, onde ele não podia ficar de pé, nem de cócoras, nem deitado. Tinha que ficar inclinado, vergado. Era para humilhar mesmo.
Sobral Pinto requereu que fosse aplicado ao caso de seu cliente a Lei de Proteção aos Animais. E as condições carcerárias do líder comunista melhoraram.
Já neste século, as folhas noticiam que o governo, os fazendeiros e os frigoríficos brasileiros vão cumprir uma diretiva da União Européia sobre sanidade animal. Soberania relativa é isso aí, bicho.
A vida - e a saúde - bovina vai melhorar cada vez mais, com vacinações, vermifugações, rastreamento por chip e condições ambientais excelentes. Saúde não vai ser coisa só de vaca premiada.
Entrementes, para peão do trecho, continuam valendo as regras de tratamento degradante de sempre, com direito a febre amarela, tifóide, malária, tuberculose e o vasto rol de doenças da pobreza.Logo logo o Ministério Público e os advogados dos peões vão requerer a aplicação dessa diretiva européia de saúde animal para seus clientes.
Antigamente, lá em Bragança, quando as mães perguntavam para as crianças o que elas queriam ser quando ficassem grandes, a resposta, sempre na ponta da língua era: funcionário do Banco do Brasil.
Dia chegará em que os filhos dos peões do trecho responderão às mães:

- Mãe, eu quero ser boi!

7 comentários:

Anônimo disse...

Há um caso que aventureiro veio grilar a terra e desmatar no Pará e enriqueceu muito com tal atividade.
Era contumaz no recrutamento de peões, sob condição análoga a de escravo, para derrubadas.
Certa feita um dos peões não aguentando a humilhação do trabalho, fugiu.Logo o plantel de pistoleiros foi acionado para capturar o fujão.
Na fuga o peão desesperado entrou no curral especial de bois, onde ficavam só os que concorriam ou poderiam a vim concorrer em Parques de Exposição e se escondeu atras, justamente do que acabara de ser premiado.
Foi quando aos berros, o capataz pediu que os pistoleiros não atirassem de jeito nenhum.
Queria preservar a vida do peão, lógico que não.
Queria preservar a todo custo a vida do boi premiado, tratado com alimentação adequada e todo cuidado possível.

Anônimo disse...

Questão de lógica

Quem usa drogas está financiando o tráfico e a violência. Então quem gosta de um bom filé passado no óleo de soja com zero de gordura trans está financiando o desmatamento da Amazônia?

Itajaí disse...

É bom lembrar que na questão do boi há fatos bem mais tragicômicos que o texto transpassou: o problema da febre aftosa surgiu quando alguns iluminados decidiram economizar na vacinação do rebanho. Deu na pobreza que deu.
E por gloza a prosa, concluo: tem muito boi querendo na próxima encarnação ser gente.
Ao menos os brasileiros tem programa vacinal de acesso universal, considerado um dos melhores das Américas pela Organização Mundial da Saúde.
Em parte por ele, o país tem melhorado em muito nos últimos 20 anos as casuísticas das doenças da pobreza (leia-se, por exemplo, o último relatório da UNICEF amplamente plubicizado nos meios de comunicação).

Anônimo disse...

Em tudo, inclusive no texto, há uma visão antropocêntrica.

Unknown disse...

E a visão bovinocêntrica?

Anônimo disse...

Não nesse caso, veja que o bom tratamento do tal do boi, não é pelo boi, mas pelo homem!

Unknown disse...

rsrsrs