O grande desafio da esquerda é conviver com a oposição, a crítica, a pluralidade, a alternância - em uma palavra, com a liberdade. Em sua manifestação mais contemporânea, esse conflito começou a adquirir forma quando os marinheiros do Kronstadt se rebelaram, ainda na metade da primeira década da gloriosa revolução russa, e foram violentamente reprimidos. Trotsky, comandante (civil) do Exército Vermelho, consentiu em dar a ordem da repressão.No eco dessa ordem, ele, seus adeptos e sucessores também passaram a ser tenazmente perseguidos por Stálin. Trotskista passou a ser sinônimo de traidor, herege, infiel.
Trecho do artigo A Nomenklatura do Discurso Oficial, de Lucio Flavio Pinto, sobre a decisão de sair do Brasil tomada pelos irmãos do prefeito Celso Daniel, de Santo André (SP), assassinado em 2001.
Nas páginas da mais nova edição de seu Jornal Pessoal, e na blogosfera, no Blog do Estado, a nova - e finalmente estável - janela da web do Estado do Tapajós, driblando a completa incompetência dos serviços de internet na Pérola.
14 comentários:
"Belém uma cidade pra ver e viver", e eu modestamente, acrescento pra ler e reler, principalmente neste ano de eleições para prefeito. O LÚCIO FLÁVIO, dá uma aula não apenas para os alunos de jornalismo, mas sobretudo, para os canditados que "amam Belém", só na época de eleição. O texto é de ler rezando.
Maravilha ! Eh a vanguarda do blogwolrd amazonida e seus bonus para os e-leitores.
Tapajoara e das 11:01, o texto é muitíssimo pai d'égua.
o lúcio flávio é o profeta no deserto não sei como ele ainda não ficou rouco
o helio gueiros lhe xingou
o filhinho do papai lhe bateu
sem contar os herodes e judas
êta cabra corajosoe persistente!!
viva LFP!
Comparar a revolta dos marinheiros em 1921, muitos deles de origem camponesa e por isso avessos a mensagem bolchevique, além disto solidários com as greves camponesas que estavam estourando pelo território soviético, com a burocratização do PT...
Sei lá, não vejo muita semelhança. Mas como eu não concordo muito com as análises do jornalista em tela, minha opinião não conta muito. Reconheço que ele tem pelo menos um olho; o que por aqui já o faz rei.
Olá, doutor!
Pareceu-me, data vênia, que a comparação não foi exatamente com a burocratização do PT, senão em algo mais profundo e ancestral.
Mas, cego dos dois lados que sou, sigo o barulho dos guizos...rs
Abs, Cjk.
Caros leitores deste blog: Muito obrigado por suas mais do que generosas palavras, que me tocaram e me fazem escrever-lhes este bilhete. Minha história mostra (penso eu) que jamais pretendi a unanimidade nem o elogio nem a platitude olímpica. O que busco - e prezo - é provocar raciocínios, estimular debates, induzir posições. Belém está uma cidade anêmica de controvérsias e idéias. Quando surge uma polêmica, ela costuma ser chinfrim, medíocre, à base de ataques pessoais (justamente para minar a vontade do interlocutor). Os que remam contra a corrente e se opõem ao ego máximo e cidadania mínima em vigor são alvos de ataques raivosos, nem sempre restritos a palavras. É preciso persistir, sim. Mas é necessário, sobretudo, que novos personagens se apresentem para segurar o bastão do revezamento. Há tanta gente inteligente e capaz na cidade. Por que não se apresentam? Que venham se expor à chuva para testar suas capacidades e assumir o lugar que lhes cabe no desafio de salvar Belém, o Pará, a nossa região e o nosso país da autofagia em que nos achamos. Como naquele lindo poema de Drummond, sobre o combate com palavras, a luta parece ainda mais inútil quando muitos dos melhores sequer se apresentaram para o combate. Que é muito duro, excessivamente duro para uns poucos que o enfrentam, mas vale a pena para as almas que, não sendo pequenas, são nobres e valorosas. Um abraço cansado, mas amigo, do Lúcio Flávio Pinto
LFP eu prefiro São Paulo:
"Timóteo 4.7-8 - "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda."
E viva LFP por aparecer aqui neste canto!
êta cabra corajoso!!
Leio Vossa Sapiência desde que cheguei em Belém nos anos 80. Até hoje penso que desejarias um líder esclarecido, ou desses pensados por Platão: um governante - filósofo. Assim como sempre tens um quê de messianismo (ou apocalíptico?) em teus escritos,
mas isso não muda a mensagem e a impressão que ela ainda hoje me causa.
Ei Juvêncio, abras uma chapanhota para comemorar a visita de Lúcio Flávio!
abs
Amigo Juvêncio, boa noite, cego você?
Sempre nos trazendo uma seleção perfeita dos assuntos que devem ser discutidos, além do seu texto primoroso; sem falar dos títulos das postagens, que sozinhos já valem tanto quanto a informação subjacente a eles...
Indo ao que realmente importa, estamos quase na final, será que vamos os encontrar de novo num repeteco do ano passado? Por falar nisso, o Bronstein detestava futebol...
rs...muito obrigado, Cjk, mas doutor é doutor, e não se fala mais nisso, amigo.
Não sabia sobre o verdadeiro nome de Leon, e sua ascendencia jewish.
Olhe, ainda ia provocar vc sobre as finais, mas não estou certo que vcs chegarão lá. Sabe como é...tem o Fluzão aí...eheh
Caro Juvêncio: Leon Trotsky foi batizado como Lev Davidovitch Bronstein. Judeu mesmo. Leia "Minha Vida", uma das mais lindas autobiografias já escritas. A parte anterior à revolução bolchevique é incontestável. Quem estudou em colégio religioso (marista, jesuíta ou salesiano, como nós), vai sentir o realismo da descrição de Trotsky sobre sua formação, um retrato de valor universal e atemporal, de uma perspicácia rara. Quanto à revolta dos marinheiros do Kronstadt, a referência não tem a ver com a burocratização do PT, como você bem observou, e sim com a idiossincrasia da esquerda no poder à liberdade, ao outro, à pluralidade e à alternância. Revolucionária na oposição, a esquerda é tentada ao totalitarismo (através do regime do partido único e da ditadura do proletariado como transição ao socialismo, que nunca chega) quando ocupa o poder, com um misto de leninismo e jesuitismo que Thomas Mann exorcizou em "A Montanha Mágica", inspirando-se em Lukács para criar Leo Naphta. Recomendaria os artigos que K. S. Karol escreveu na década de 60, quando rompeu a cortina de ferro para examinar as condições de trabalho na União Soviética. Comparou o trabalho na fábrica da Fiat em Turim e na URSS. O operário italiano era mais produtivo do que o russo. Superioridade racial ou qualquer outra baboseira? Não: a menor produtividade na Fiat russa era um protesto sutil do trabalhador na URSS à opressão, opressão a tudo aquilo que caracteriza o gênero humano sem ser apenas a sua condição material de vida, melhorada significativamente com a revolução bolchevique. O "demasiado humano" de Nietzsche. Foi para impedir que essa fonte de divergência e dissidência se expandisse que os líderes da revolução decidiram reprimir o Kronstadt. Para ter uma diretriz única, coesa, determinada pela ordem na linha de comando. A busca da coesão, um elemento do absoluto, é o biombo para a tirania. O plural é que é o humano. Por isso estranhei a existência de exilado político em plena democracia à Lula. Abraço,Lúcio Flávio Pinto
Juvêncio, boa noite.
Os reservas do Flamengo não quiseram jogar muito hoje, mas de qualquer jeito já estamos classificados para a semi-final.
Sobre o assunto do post, eu estou me sentindo proustianamente projetado no final da década de 70, numa mesa no imortal Jobi (lá no Baixo dos tempos perdidos), quando tive que separar uma briga entre dois amigos, ainda exaltados pela revolta do marinheiros da frota do Báltico em 1921. Só não se agrediram quando eu lembrei (ameaçando ainda dar uns cascudos nos dois, rsrsrs) que havíamos acabado de nos livrar do AI-5 e que ainda lutávamos pela anistia política os perseguidos pelo regime militar. Romper a unidade naquele momento era dar munição para o inimigo. Hoje em dia, aliás, quem é o Inimigo?
Mas, voltando aos copos de vodca gelada, atender as reivindicações dos marinheiros naquele momento significaria desmantelar o Exército Vermelho e dissolver o Soviete de Petrogrado, o que era inadmissível politicamente. Daí que muitos consideram até hoje haver sido correta a ordem de Trotski, acatada por todo o comando soviético, de sufocar militarmente a revolta.
Mas mesmo naquela época esta decisão provocou em muitos do Partido uma insegurança muito grande, pois previam-se conseqüências funestas para o desenvolvimento da Revolução na URSS. Leia-se a propósito o livro de Victor Serge "Memórias de um Revolucionário", que no meu ex-blog eu recomendei como leitura obrigatória. Vale lembrar que o próprio Trotski nunca admitiu haver errado naquele episódio, leia-se a sua resposta as críticas da anarquista Emma Goldman no artigo "Hue and Cry over Kronstadt" publicado em abril de 1938 no "The New International", ao identificar aquele movimento como sendo de origem pequeno-burguesa.
Admita-se entretanto a ressonância daquele protesto e de outros, pois Lênin menos de um ano depois propos a chamada "Nova Política Econômica", substituindo a política de "comunismo de guerra", que havia sido a causadora de grande parte da insatisfação dos marinheiros e dos setores descontentes com a Revolução.
Quanto a menção que fiz de "burocratização", utilizei-a no sentido histórico dado pelo próprio Trotski, que a contrapunha a sua visão de revolução permamente; e também por Lênin que a partir de 1922 temeu pelos rumos que esta burocratização estava provocando no Partido e no Estado soviético, com as funestas conseqüências que se apontavam para democracia inerna no PCUS, e que acabaram por se confirmar após a sua morte.
Assim, admitindo entretanto a licença literária e a imagem e estilos retóricos, politicamente não vejo ainda semelhança entre o processo social brasileiro atual e uma crise pós-revolucionária na então futura URSS em formação.
Vamos resolver esta questão (sem violência, rsrsrs) no grill do nosso amigo, fequentador assíduo do blog, aqui na Doca? Quem sabe ele nos concede um desconto???
Valeu, Cjk.
Vou estudar essas páginas a partir do próximo mes.
E pode agendar um grill básico no Heatrow. Sem desconto...rs
Vai ser um prazer.
Quanto a rodada de ontem, prefiro nem comentar sobre esses times já classificados.
Lucio, é realmente estranho o exílio da família Daniel. Tanto mais se considerarmos que a França aceitou a condição de refugiado político. O caso, realmente, é sombrio.
Aí reside o busílis de seu artigo, cujo panorama é agravado pela existência de um cadáver, de certo modo insepulto.
Abraços prá vc.
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