90 bilhões de dólares não são 90 reais.
A aquisição da Xstrata pela Vale ecoou no Wall Street Journal, que abre espaço para as críticas de políticos que consideram a compra como uma descidadanização da empresa, que pode diminuir seus compromissos com o país e as comunidades onde atua.
O jornalão acrescenta preocupações de outra natureza, da feita que a Vale é uma poderosa instituição que controla estradas de ferro vitais, opera programas de alfabetização e de saúde, e contribui com recursos para candidaturas no Congresso. É também uma fonte de orgulho nacional.
O blog acha que a discussão, até aí, parece oscilar entre o romantismo e o desconhecimento da mundialização do capital em sua fase mais avançada, com um leve almíscar de nacionalismo.
Dúvidas mais fundadas podem estar entre os que temem pelo endividamento da empresa, e a busca de capitais no exterior num momento de espasmo da economia mundial, feito um gerente de investimento privado citado na matéria, que diz que a Vale poderia ter que transferir muito capital para fora do país e ficar com uma enorme débito para completar o negócio.
O economista Luciano Coutinho, presidente do BNDES, assegura que possível estruturar o negócio de tal forma que fosse compatível aos interesses do Brasil. Ele acrescentou que também havia riscos em não realizar o negócio, permitindo a China assegurar um maior controle sobre as reservas minerais e pressionar os preços para baixo.
Ora, mas aí Luciano volta a ser um nacionalista em defesa de uma empresa que já não é mais nacional, embora ratifique a condição do Estado de relegar o cidadão ao segundo plano ( vamos dominar o mercado para manter os preços altos!).
Mr. da Silva - o tratamento dispensado à Lula pelo jornalão, um dos maiores dos EUA - hesita, as usually.
Inteligente, o senador José Nery, do PSOL paroara, considera que antes de tentar se tornar a maior companhia de minérios do mundo, a Vale precisa pagar de volta a enorme dívida social que ela tem com a população afetada por suas operações no Brasil.
Que tal tudo ao mesmo tempo agora?
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Os trechos em itálico da matéria do WSJ são de uma tradução livre disponibilizada ao blog, à exceção da locução adverbial dedicada à Mr. da Silva, de nossa lavra.
11 comentários:
Caríssimo Juvêncio,
A razão está com o Senador José Nery.
A Vale e seu gigantismo são fonte permanente de desequilíbrios sociais, econômicos e políticos. Não precisa entrar em detalhes, pois os meganúmeros dela e os nanonúmeros do Estado do Pará e dos Municípios de sua área de influência são de todos conhecidos.
Dela sou acionista minoritário e preocupa-me seu descompromisso com os interesses de seus stakeholders, mesmo quando diz exatamente o contrário. O apogeu dela coincide com o perigeu do Índice de Desenvolvimento Humano do Estado do Pará, que na batida em que vai logo está no rés-do-chão, que não é de estrelas.
Enquanto isso uns e outros pisam nos astros, distraídos pelo desempenho do PIB estadual, que é na verdade o dela e alguma coisinha mais do resto (baseado em recursos naturais finitos como a floresta).
Esse gigantismo da Vale é assustador.
Inclusive porque, como se diz lá em Bragança, quanto maior o pau maior a queda.
Concordo com vc, e se me permite, agregaria uma boa dose de responsabilidade aos governos estaduais e federais que licenciam empreendimentos da Vale sem as necessárias coberturas dos impactos demográficos, os mais graves do processo e raiz de todo esse IDH inhumano que se verifica na região bem como de suas derivações políticas, não menos desprezíveis.
Entendi que o senador Nery não excliu, a priori, a expansão da empresa, nem a sujeita a bobagens como a perda da nacionalidade da empresa, senão a questões muito mais profundas que devem ser apresentadas à Vale ou qualquer outra de magnitude relevante em suas operações no estado, e no país, seja ela estatal ou não.
Abs, caríssimo.
ak diz:
Ando colecionando pérolas.
Juvêncio :"leve almíscar de nacionalismo".
Alencar: " uns e outros pisam nos astros distraídos pelo desempenho do PIB estadual".
Afonso Klautau
PS: o Pará tem pavor da Vale. Por que ? A empresa diz pro Pará, pro Brasil e pro mundo, que o Pará não vale nada se não for a Vale. A Vale diz e vale o que a Vale diz.
Que político nosso -???????????? - não adoraria aparecer ao lado do Agnelli numa foto de jornal ?
Até o Nery do Psol adoraria só pra dizer que está sendo um interlocutor ( percebamos a dimensão do termo: inter....locutor..) Me desculpe o irmão e mestre Pedro Galvão, mas a Vale proibiu a Galvão Propaganda, que atende regionalmente a conta da empresa, de entrar na licitação da publicidade do giverno do Pará por interesses conflitantes. A Vale e o Pará, então, não tem interesses em comum.
Valeu, né, carregados de almíscares
e estrelas.
Juca e Alencar: vocês são uns poetas.
Afonso Klautau
Obrigado por ressaltar para o continente, com tanto carinho,e concordar com o conteúdo, cada vez mais evidente.
E cada vez menos poético, como se vê nos almíscares exalados e nos astros distraídos...rs
Abs, Ak.
Pena que a releitura da WSJ tenha sido a luz de um cenário exclusivamente vinculado ao governo Lula. O horizonte, como demonstra Luciano Coutinho, precisa ir bem mais longe que o curto alcance da mira verde-amarelada do Senador Nery. Estratégia em tabuleiros complicados é para poucos. Enquanto isso, Lula - as usually - hesita, como Getúlio Vargas. Faz bem.
CQD
Meu caro Juvêncio.
Se AK diz que somos poetas e perlicultores, é porque somos mesmo...
Perlicultores ?!
Agora quem vai ao dicionário sou eu...rs
Abs e bom dia, Alencar.
O comportamento da Vale quando a capacidade de endividamento é deiciplinado pelo mercado, não apenas pelas possíveis novas forntes de recursos, mas também pelas fontes que já a servem atualmente.
A Vale possui uma rede de contratos de financiemnto no mercado internacional e a contartação de novas dívidas pressupõe a concordância de pelo menos parte da atual rede de grandes credores.
O mercado financeiro internciaonal opera por contratos complexos e não trocas simúltâneas como imaginam alguns desavisados.
Quando ao comportamento da vale em relação aos outros demais mencionados neste blog, bem...aí a conversa é outra...temos que discutir que Estado é este que ao regular a conduta de mega empresas, acaba por permitir que elas gerem externalidades e não pague por isso. Vamos por o estado, sua capacidade regulatória, fiscalizatóira e condenatória (se for o caso) para atuar.
A Vale trabalha honrar seus compromissos comerciais e financeiros e para maximizar o retorno de seus acionistas. Qualquer concessão só é realizada para construir uma boa imagem da empresa, condição necessária para o acesso mais confortável a alguns mercados e, portanto, para alcançar os objetivos mencionados no início deste parágrafo.
Esta discussão vale! Mas não é do agrado da Vale.
As agências de rating, segundo li ontem, consideram a situção da emrpesa como Baixíssimo Risco, uma posição privilegiada, portanto, ao contrário do que afirma o consultor entrevistado pela matéria focada no post, do WST.
Não vejo razões para sobrestar o crecimento da empresa - embora não pelo viés de Luciano Coutinho - mas não considero estratégico deixar de aproveitar o momento para instaurar uma discussão com a empresa sobre patamares mais inteligentes, de longo prazo, e articulado às outras áreas onde a empresa opera pelo país.
E concordo com vc, das 9:45: a discussão vale, ainda que a Vale não queira.
Talvez o primeiro passo seja mostar isso claramente, para a opinião pública brasileira, e mundial.
Vale a tentativa.
Seu Juve, tô preocupado com a sua "locução adverbial" dedicada ao Mrs. DaSilva.
Saberá ele o que significa isso??!!
Cuidado, vc poderá ser acusado de atentar contra o sigilo e a segurança presidencial...rsrs
Tudo bem, tudo bem.
O endividamento da Vale é controlado pelo mercado (o que é verdade, até onde esse controle é exercido, ou seja, quase nada).
Mas há coisas que não batem.
Primeiro: a Vale devolveu aos acionistas uma parcela de seu capital, considerando que havia "excesso de capitalização".
"Devolveu", por assim dizer. O que ela entregou aos acionistas não foi o excesso de capital que eles investiram. Foi a parcela capitalizada por isenções tributárias concedidas pelo governo federal.
Logo em seguida, pediu empréstimo do BNDES -- subsidiado, pois não? -- para comprar a Inco.
Se não houvesse se desfeito do "excesso de dinheiro", precia tomar menos emprestado, não é? A menos que o empréstimo fosse noutro banco, que não o BNDES, não é?
Agora... de novo?
Olha que esse lance já aconteceu, alhures.
Um endividamento monumental que, depois, não pôde ser pago.
E olha que isso nos EUA, onde -- lá, sim! -- há um controle cerrado sobre o endividamento das sociedades de capital aberto (esse controle é crucial para o funcionamento do capitalismo americano).
Não por acaso, tão logo comprou a Inco, a Vale obrou para se retirar das Bolsas do Canadá e dos EUA.
Preferiu ficar restrita a Bolsas em países de hímem complacente, como aquele abençoado por Deus e bonito por natureza (mas que beleza!). A pátria que me pariu.
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