7.5.08

As Falácias Sobre a Tijoca

Publicada na seção Carta do leitor, edição de domingo de O liberal, transcrevo para o blog as perocupações do jornalista Francisco Sidou a propósito do porto da Ponta da Tijoca.

Na década de 70, os professores Lima Paes e Ramiro Nazaré, da UFPA, realizaram estudos técnicos sobre as condições de navegabilidade da costa paraense, indicando a Ponta da Tijoca, em Curuçá, como o local mais adequado para construção do porto de escoamento da produção mineral da Companhia Vale do Rio Doce, então estatal. Os dois ilustres técnicos paraenses não defendiam a tese por bairrismo, mas com base em pesquisa séria e isenta.
Demonstraram à exaustão que ali poderiam aportar navios de grande porte e calado, utilizados no transporte de minérios em estado bruto para o exterior, notadamente para o Japão, então, como hoje, o maior consumidor da riqueza mineral do Pará, que vai ficando só com os buracos... Para perplexidade dos paraenses e gáudio dos maranhenses, o governo militar mandou construir o porto em Itaqui e não “se deveria falar mais nisso”... Lima Paes e Ramiro Nazaré protestaram contra aquela decisão arbitrária, mas nem a imprensa pôde repercutir seus protestos, porque o tema passou a ser tratado como de “segurança nacional” e, como tal, censurado. Sim, naquela época havia também censura política, além da econômica. Os jornais e emissoras de Rádio e TV recebiam listas com os “temas proibidos”. Protestei, igualmente, mas também fui silenciado com a não publicação de meus artigos.
O Pará foi escandalosamente “garfado”, sob a omissão contemplativa e medrosa de seus “representantes” no Congresso Nacional.
Vale dizer que tínhamos até um ministro no governo militar, senador Jarbas Passarinho, um dos homens fortes do regime. O Maranhão, sem ministro, mas com Sarney, que valia mais (ainda vale?) que toda a bancada do Pará, levou a melhor na estratégia de convencimento dos integrantes do “núcleo duro” do governo, liderados pelo “bruxo” Golbery , “cérebro” e estrategista maior da geopolítica do regime militar.
As falácias técnicas então invocadas visavam escamotear as verdadeiras razões do esbulho. Dizia-se, por exemplo, que os técnicos e empresários japoneses optaram por Itaqui, por reunir melhores condições para receber os cargueiros de grande porte, etc e tal. Esqueciam, propositadamente, de revelar que a opção maranhense resultava em maiores custos com a ferrovia, que seria “encurtada” em mais de 100 km e alguns “trocados” a menos, em milhões de dólares, caso a opção da Tijoca fosse adotada. A força das conveniências políticas substituiu a razão, não somente técnica, mas também de ordem econômica. Por que recordar tudo isso ?
Por ironia do destino, decorridos quase trinta anos, noticia “O Liberal”, que a empresa amapaense MMX-Mineração e Metálicos pretende escoar minérios de ferro justamente pela Ponta da Tijoca. Segundo o gerente do meio ambiente da empresa MMX, Alberto Carvalho, “a região foi escolhida, após vários estudos técnico-ambientais, por possuir um canal natural de mais de 25 metros de profundidade, permitindo a operação de navios de grande calado que irão transportar o minério de ferro oriundo do Amapá para o Oriente.” Ora, pois, pois, diriam os distintos irmãos portugueses...Lima Paes e Ramiro Nazaré estavam cobertos de razão. A história se repete para revelar a grande farsa e escancarar o esbulho de que os paraenses fomos vítimas.
Perguntas que não querem calar: será que o poderoso “cacique”(de ontem, de hoje e de todos os governos), senador Sarney, que, agora, também “defende” o Amapá, tem alguma coisa a ver com isso ? Será que ele não é o “padrinho” dessa desconhecida MMX ? Já que fomos privados de exportar nossas próprias riquezas minerais, “cedendo” para o Maranhão essa “regalia” e os dividendos decorrentes da exploração de nosso solo, será que não iremos receber pelo menos uns “royaltyezinhos” do Amapá, como prêmio de consolação ? E o nosso espírito cabano, governadora Ana Júlia ? Vamos aceitar outro “esbulho”, bovinamente, “sem tugir nem mugir ?“ Data máxima vênia, perguntar não ofende.

3 comentários:

Francisco Rocha Junior disse...

Excelente a posição do Sidou. Só faço um adendo: a "desconhecida" MMX pertence a ninguém mais, ninguém menos, que Eike Batista. Aquele, da Luma.

Anônimo disse...

Caro Rocha Júnior,

Obrigado pelo seu depoimento e desculpe a falha técnica: faltaram as aspas na "desconhecida" MMX, ok ? Do Sidou

Anônimo disse...

Parabéns Sidou, voce sempre nota 10.
O interessante que ninguem cobra com mais vigor esta fatura de Jarbas Passarinho, que passou a imagem de muito inteligente, intelectual dos mais respeitados e que continua a escrever em O Liberal todos os domingos criticando veementemente Lula e as esquerdas defendendo eternamente o golpe, mas que passará para a história como o avalista do prejuízo que o Pará amarga até hoje, como bem diz voce, Sidou, garfado de escoar e verticalizar suas riquezas minerárias.