27.7.08

A Maior Mina e o Pior Trabalho

Por Lucio Flavio Pinto, na mais nova edição do Jornal Pessoal, já nas bancas, e na web pela página de O Estado do Tapajós.

O Ministério Público do Trabalho de Marabá deverá ajuizar uma ação civil pública para apurar o acidente que matou um trabalhador na mina de Carajás, em Parauapebas, no sul do Pará, há um ano. Entre 3 e 4 horas da madrugada de 28 de julho de 2007 o auxiliar de serviços Thiago Santos Cardozo, de 20 anos, foi esmagado por um caminhão de 140 toneladas, que operava na jazida N4 Norte, onde a Companhia Vale do Rio Doce produz minério de ferro.O inquérito instaurado já está em fase de conclusão e fornecerá os elementos para o Ministério Público propor a ação na justiça. A demora deve-se ao reduzido número de procuradores, atualmente três, atuando numa área com demanda explosiva. Há também uma resolução do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho que recomenda a conversão de todas as representações e procedimentos preparatórios antigos em inquérito civil, arquivando-os ou ajuizando a ação devida, de acordo com o que for apurado na análise.Um dos pontos principais em relação a Carajás é a excessiva terceirização das atividades na mineração, que tem dado causa a acidentes e reclamações dos trabalhadores. Há mais dois acidentes com mortes em Carajás que o MPT de Marabá está apurando. Duas varas da justiça trabalhista já foram instaladas em Parauapebas, mas as reclamações contra as condições de trabalho em Carajás, que já passaram de oito mil, sobrecarregam a tramitação dos processos. Das 23 mil empregadas na produção de minério em Carajás, apenas 10% são contratadas pela Vale. A empreitada e subempreitada se disseminaram tanto que possibilitam acidentes, como o que vitimou Thiago Cardoso, um raro nativo de Marabá, a mais importante cidade na área de influência de Carajás.Ele estava na hora errada, no lugar errado, numa relação de emprego errada e o caminhão que o esmagou procedia erradamente ao não contar com câmera e luz traseira. Essa é uma realidade que enodoa uma das maiores minas de ferro do planeta e sua proprietária globalizada. Mas parece-se mais a um cenário de dois séculos atrás em matéria de relação trabalhista.

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Ninguém dá tanto trabalho para a Justiça do Trabalho no Pará quanto a Vale e sua empreiteiras. Ninguém, nem perto, o que é um absurdo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Boa tarde, boa noite, Juca querido:

acho que você já reparou que pouquíssimas vezes comento qualquer coisa sobre a CVRD.
Até porque com um analista como o Lúcio, qualquer palpite é presunção.

Mas, a cada post sobre a empresa, meu estômago revira e volta à memória os anos de Marabá, final da década de 70, comecinho dos anos 80.

Recém chegada, eu tinha certeza que o futuro de Marabá não acabava na confluêcia do Tocantins com o Itacaiúnas. Mas, infelizmente, não tinha conhecimento nem argumentos suficientes para convencer os outros.

Num seminário realizado nquele início de década em Marabá, para onde levamos o staff local da empresa - coronel Mozart e seus assessores - um deles discursou longamente sobre competência e eficácia. Lembro-me do Frederico Monteiro, então Secretário de Planejamento do estado, que, sentado ao meu lado, percebia que eu ficava lívida a cada frase do assessor e tentava acalmar-me.

Quando não aguentei mais, levantei e disse ao assessor que era muito difícil para nós, da Prefeitura, ouvir seu discurso sobre competência e eficácia quando ainda entregávamos a merenda escolar na caçamba da limpeza pública, em sistema de rodízio e arcávamos diariamente com o ônua do crescimento acelerado da cidade face a instalação do Projeto Carajás. Lembremo-nos que a "cidade", à época, abrangia Paraoapebas, Curionópolis, Eldorado, Canaã. etc.

Escrevendo agora aqui, pra você, acho que nunca me recuperei da dor de estômago que a CVRD trouxe para o Pará. Uma gastrite que transformou-se numa úlcera. Para mim e para o Pará, modéstia às favas...rsrs...

Beijão.

JOSE MARIA disse...

Pois é, Bia.

Só quem morreu na fogueira sabe o que é ser carvão...

Não é fácil ser gestor dos efeitos adversos dos megaprojetos. Estatais, privados ou privatizados.

Haja estômago.

Anônimo disse...

Meu Caro Juca;
Quando do acidente que vitimou o jovem Tiago imediatamente formulei denuncias ao Ministerio Publico do Trabalho, Delegacia do Trabalho e a Delegacia de Policia de Parauapebas.
É de praxe aqui em Parauapebas os acidentes de trabalho com vitimas fatais serem arquivados e os inqueritos nem sequer são abertos pela policia. O que "vale" na realidade são as informações da Mineradora que mantem relações de sentimento com o aparelho policial. Alimentação, combustivel, viaturas, casas no Nucleo Urbano e entre outras coisas.

WANTERLOR BANDEIRA
VEREADOR