O Ministério Público Federal (MPF) no Pará vem a público externar sua indignação contra a absolvição do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura da acusação de ter sido o mandante do assassinato da irmã Dorothy Stang. Além de contrária às provas nos autos, a decisão - um verdadeiro prêmio à impunidade - é preocupante porque contribui para o acirramento da violência no campo. Assim, entendemos que é fundamental e urgente o fortalecimento dos sistemas de segurança pública federal e estadual nas regiões de conflitos fundiários no Pará. Caso isso não ocorra, o MPF teme pela concretização das ameaças de morte a trabalhadores rurais, índios, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais, defensores dos direitos humanos e religiosos que atuam no interior do Estado na defesa das minorias. Por fim, é preciso lembrar que Vitalmiro Bastos de Moura responde à Justiça Federal por crimes ambientais e por manutenção de trabalhadoresem condições análogas às de escravos.
Nota Oficial do MPF.
Fonte: Assessoria de Comunicação do MPF no Pará
2 comentários:
Santa Barbaridade...a impunidade... corre solta...todos com as mãos manchadas de sangue...e dinheiros no bolso com cheiro de gente inocente morta...eles são os verdadeiros...assasinos...assasinos da propria vergonha, do proprio espirito, estão vendendo a alma para o demonio... pelo simples fato de que a vida ja não vale mais nada... tem recolher novamente esse assasino para as jaulas... não a impunidade...
Eis um artigo que merece se blogado.
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A Ética e a Qualidade
por Alex Fiúza de Mello, reitor da UFPA
A essência da universidade – como da escola – não é o prédio ou o equipamento, mas o professor e o aluno – a qualidade e o padrão de sua interação. Se houver infra-estrutura de excelente nível, mas professores desqualificados ou ausentes e alunos desinteressados e passivos, não há academia. Ela está muito mais presente sob um teto de palha, com bons professores empenhados em orientar e alunos interessados em aprender, que no interior de um moderníssimo e bem equipado edifício, mas sem a devida sinergia intelectual.
A razão de ser da universidade é o aluno, mas é o professor o seu lastro de referência. Tornam-se inúteis o computador de última geração e uma biblioteca monumental sem o trabalho primordial e insubstituível do mestre, do educador.
A universidade, para deter qualidade, depende de mestres que mereçam essa designação, que sejam coerentes e dêem exemplo com as próprias atitudes: exemplo de assiduidade, de dedicação aos estudos, de interesse em orientar, de disponibilidade ao estudante. Um mestre deve ser uma referência intelectual e um modelo de cidadania. E isso supõe não apenas salário digno – reivindicação justa, mas, ao que parece, exclusiva do movimento sindical –, mas, igualmente, compromisso ético com a causa da educação, seriedade no exercício do próprio métier.
Não é mestre aquele que se recusa a estudar, a aprender, a pesquisar, a dar o máximo de si numa sala de aula ou laboratório para que o aluno, se possível, torne-se, um dia, melhor que ele próprio, superando-o e fazendo avançar, assim, o patamar do conhecimento. Quem se ausenta de seus compromissos, quem é arrogante, ignora seus deveres, não quer dar aulas (ou faz de conta que dá) é cidadão inútil e desonesto: ganha muito pelo que não faz. Não tem vocação universitária.
É muito comum – e justa – a reivindicação dos docentes por maiores oportunidades de qualificação e melhor ambiente de trabalho – salas de aula dignas e confortáveis, laboratórios equipados, acervo bibliográfico atualizado, gabinetes, etc. – como condição prévia para o bom desempenho acadêmico. Contudo, o que dizer quando todas essas premissas estão razoavelmente satisfeitas e o rendimento acadêmico continua a desejar? Qual, então, a justificativa e a explicação?
Não acredito num educador que diz que não dá aula ou não tem motivação enquanto todas aquelas pré-condições não estejam satisfeitas. Neste caso, a dificuldade funciona como mero álibi para a sua desonestidade. Continuará, certamente, a ser mau professor em condições materiais ótimas.
Não acredito em professor que, se julgando “estrela” em sua área profissional, falta com regularidade às suas obrigações e menospreza a cátedra universitária. Este pode até ser um brilhante profissional, mas não é um educador.
Não acredito em doutor que se nega a dar aulas na graduação, como se isso fosse algo menor ou desprestígio. Este também ilude a comunidade, pois ele sabe (ou deveria saber) que, numa grande universidade, a graduação é tão valorizada quanto a pós e são os doutores que recebem os estudantes calouros, sobretudo nos cursos introdutórios.
A universidade melhorou – tem melhorado progressivamente –, nos últimos anos, as suas condições de oferta: maior número de doutores, laboratórios de pesquisa melhor equipados, salas de aula recuperadas e refrigeradas, gabinetes de trabalho que se expandem, acervo bibliográfico em franca recomposição, regras e regulamentos mais modernos e atuais.
Nesse quadro, a qualidade do ensino deveria, também, proporcionalmente, apresentar melhorias. Se os salários ainda não são os ideais, também nunca foram no passado.
O fato é que não são os salários e as condições adequadas de trabalho que respondem a todas as questões pendentes da qualidade do ensino. O buraco é mais embaixo. A qualidade do ensino depende de práticas sociais coerentes, do jogo das mentalidades, dos valores hegemônicos. Depende de uma colegialidade acadêmica responsável e ativa entre pares, no seio da qual o interesse público (dos estudantes, da sociedade) deve ter prioridade sobre os particulares e corporativos.
Sim, os professores, para serem verdadeiros mestres, têm de dar exemplo. Sobretudo, exemplo da coerência – ou não têm vocação universitária.
Em resumo: a qualidade do ensino é, também, uma questão de ética.
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