Um Elio Gaspari surge aborrecido na edição de ontem da Folha de SP por causa de uma foto da operação da Polícia Federal na semana que passou e que prendeu - mas já estão soltos, claro - diretores da empreiteira Camargo Correa. Para justificar suas críticas à publicação da foto, lança mão da discrição da prisão de Bernard Madoff nos EUA.
Gaspari esquece que três meses após a descoberta de seus crimes Madoff começava a cumprir pena, coisa que na terra de Gaspari o andar de cima não deixa. Dentre outras razões, uma é especialmente forte do ponto de vista processual, pra explicar a singela diferença, talvez por isso esquecida pelo oriundi: lá nos EUA o perjúrio leva operadores ao mesmo lugar dos ladrões. Aqui os une, na liberdade das ruas e nos saldos bancários.
Gaspari prega a convivência de uma polícia finlandesa com uma justiça zambiana. Ladrões, principalmente de recursos públicos, precisam, por pedagógico - não com eles, bandidos, mas com a sociedade - ser exibidos como são realmente. Quanto mais nus, melhor.
É assim que a justiça permite que a mídia trate os comuns, até exibindo seus corpos dilacerados.
Por que a PF não pode exibir a vitalidade dos especiais?
A PF foi longe demais na operação Castelo de Areia, entre outras, mas não na ultrapassagem dos direitos individuais ou das prerrogativas do Estado. A PF tem ido longe demais na descoberta dos enlaces entre o crime e o andar de cima.
Nesta operação, inclusive, melhor seria dizer o contrário: entre o andar de cima e o crime, o primeiro convocando o segundo ao delito. Pediram um dinheiro aí e ouviram peraí que eu vou roubar ali.
Por isso, pro gogó da PF correm o andar de cima, seus sequazes, os vivazes arautos, os operadores que precisam da inviolabilidade de seus covis, e parlamentares que nela viveram protegendo criminosos. A patuléia não. Ela quer, precisa e tem o direito de ver os criminosos vivos, de qualquer jeito. De preferência atrás das grades, como Madoff.
Enquanto seu Lobo não transita o colarinho branco em julgado, contentamo-nos com as fotos. Única, fria e distante maneira de ludibriar a patuléia fazendo-a acreditar que a República é uma, e não duas, como provam a permissividade dos cadernos Sangue das pocilgas, os maus bofes de Gaspari, e a impunidade generalizada que sangra o país.
20 comentários:
Juca,
é por um primoroso artigo dessa estatura que eu leio o Quinta todos os dias.
A propósito, a zanga do Gaspari é estranha, desfocada.
Grande abraço, meu caro
Fonte de Responsa
putz! vc disse o que eu pensei ao ler o Gaspari de ontem! Posso assinar também o post?
Fonte, me agradando desse jeito vc mantém a minha expectativa de tomar uma gelada com vc, não é?...rs.
Obrigado e ótima semana pra vc.
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Das 7:51, pode sim. Assinamos juntos.
Eu ia dizer o que os outros disseram (mas merece ser repetido): o artigo está espetacular. Parabéns.
Nem preciso dizer do peso de sua opinião, não é professor?
Abs e boa semana.
Juvencio, Mano Velho, plagiei descaradamente: postei na íntegra no Blogosfera! Depois te pago os direitos autorais na forma de gelada...
excelente análise!
A propósito, o Presidente da OAB-SP, fez protesto vemente criticando a prisão considerada arbitrária da Sra. Daspu, ops, Daslu. Uma questão me inquieta, Juvêncio, por que os tucanos e os demos só abrem o bico denunciando arbitrariedade da PF, quando há acusações contra seus próceres? A PF só age politicamente quando envolve o PSDB e o DEM? Olha o caso do Flexa Ribeiro, coitado, virou mártir. Estranho, não?
Excelente, Juvêncio.
Por isso fiz um link para o post no Blog do Alencar.
Obrigado pelo link, Parente.
Valeu, dr.Ricardo.
Onrigado pela repercussão em seu blog, caríssimo Alencar.
Abs aos tres.
É incrível como o Supremo Tribunal Federal, o presidente Lula, alguns políticos e até parte da imprensa tentam proteger os criminossos do colarinho branco. Por que não chiam quando os pobres são expostos na mídia?
Se este país fosse sério, muita gente do colerinho branco estaria na cadeia no Pará, incluindo donos de jornal.
O Globo de ontem publicou uma "suposta" caixinha que o velho Leonel Brizola receberia dos concessionários de onibus , matéria estampada em primeira página com título "Brizola e Cesar Maia recebiam propina dos concessionarios de onibus" em letras garrafais ; depois explica em letras miúdas que a matéria tinha como base uma série de "pretensas" escutas e dossiês de arapongas do extinto SNI que todos sabem "amavam" o Briza.
Pra quem morou no Rio à epoca e vivenciou a guerra que o Brizola declarou a esta máfia , acha no mínimo estranho a... calúnia desculpe matéria.
Quem sabe um mínimo de história do Brasil pode imaginar o que o SNI faria à época com um material bombástico desses contra o seu principal desafeto.
Achei , bem achei o óbvio , jornalismo de sarjeta , vingativo e covarde porque o acusado não está mais aqui pra soltar seus célebres "tijolaços" onde escancarava e desancava a "corja"
Abração
Tadeu
Num País em que grandes escandalos são pagos e abafados em forma de mídia, e a impunidade é o troféu dos iguais, nada mais recompensador do que vê-los desnudos, desprovidos da impáfia que zomba de cada um de nós a cada liminar concedida para que os soltem.Há de chegar o momento, assim como outros tão esperados chegaram em que nós, os iguais em carater, abnegação e clareza de pensamentos nós tornaremos maioria, com poder para julga-los e expurga-los do nosso convivio. Não tarda e tenham certeza que essa justiça não falhará, é uma questão de tempo, razão pelo qual o Quinta dentre outros tantos blogs tem uma importãncia fundamental no fomento da reação da sociedade dos homens de bem que anseiam pelos idéais de justiça! Parabens Juvêncio, pela clareza e por externar nossos pensamentos de forma tão real,eis aí a grande razão de estarmos aqui interagindo e contribuido com o debate para o grande momento.
Josué Cidade
Ps: Acho que ficou brega igual a carta do Raul Meirelles, mas tá valendo rsrsrsrs se ele pode eu tamém posso. Abraços Juva.
Olá Juvêncio,
Acredito que o Gaspari não se coloca contra a punibilidade que merecem sofrer os ricos que delinqüem, mas, investe em desfavor do método policial.
Não há prudência em esporar o Estado a investir contra o cidadão, seja ele rico ou pobre, a título de compensar tratamentos.
A República, de fato, está desvirtuada: os pobres, ao não poderem contratar advogados com o expediente que os ricos o fazem, não gozam dos benefícios que a lei concede contra o açodamento do Estado.
Mas, que não seja via de reparo prover arrego aos abusos policiais: não deveria a pobreza ser pretexto para o desamparo jurídico; não deveria a riqueza ser argumento para ultrapassar o legalmente restringido.
É possível fazer justiça sem desobedecer ao processo: a maioria das injustiças que se fazem com os pobres é exatamente a falta de acesso deles ao devido processo legal.
Exemplo disto é a própria Castelo de Areia: a PF foi bem menos truculenta que em outras ocasiões, e alcançou o mesmo objetivo.
Quanto ao caso Madoff, ele foi recolhido preso, mesmo após pagar fiança de US$10 milhões para esperar a sentença em prisão domiciliar, porque os promotores demonstraram ao juiz que ele quebrou os termos da fiança: de seu apartamento o indiciado estava providenciando a ocultação de parte da fortuna apropriada por fraudes.
Foram apreendidos 100 cheques por ele assinados que totalizavam US$170 milhões, sendo cabeados a contas de terceiros, além dos desvios de jóias e outros bens móveis que estavam sob custódia judicial.
Não é, todavia, a regra processual nos EUA, o recolhimento antes de sentença transitada em julgado: a origem do nosso sistema penal é a mesma estadunidense.
O FBI, também, ao proceder a fase policial do caso Madoff, não o expôs e nem ao patrimônio que ele adquiriu com as fraudes perpetradas.
A celeridade, todavia, da justiça americana, nestes casos, realmente é invejável: o caso Madoff recebe sentença de primeira instância até o mês de junho.
Acho absolutamente correto o desmonte destes castelos de areia. Concordo com o Gaspari, não obstante, de que não é necessário montar mesas com kits da Cartier para tal.
Concordo com você ao constatar que é insidioso e cruel expor as agruras dos pobres nas últimas páginas policiais dos jornais.
Permita-me, sob desculpas, discordar quando se oferece, como compensação, os mesmos erros como tratamento.
Obrigado,
Parsifal Pontes
Juvencio, excelente texto, cada dia melhor. O Madoff lesou investidores particulares e em junho já estará sentenciado; as patifarias da Camargo abrangem superfaturamento de obras públicas, crime fiscal, remessa ilegal de divisas, financiamento ilegal de campanhas politicas e não sei mais quantos crimes, tudo com dinheiro público. Sabe quando esses sujeitos irão para cadeia? Nunca.
A origem do nosso sistema penal e a mesma do EUA? Estou confuso Parsifal.
Valeu, das 12:23.
E amanhã, ao longo do dia (provavelmente a tarde) responderei a contribuição sempre elegante do deputado Parsifal.
Juvencio, quem vai ser o Protogenes da vez no caso da Camargo Correa?
Gaspari insinua que pode ser o DPF Alberto Iegas, coordenador da PF em Sampa. Leia lá no Josias, num post de domingo.
Então posso esperar a próxima capa da VEJA sentando a macaúba no DPF Alberto Iegas?
Juca e Cabelo,
O Protógenes da vez eu ainda não sei. Mas o Reinaldo Azevedo da vez, eu posso ter uma ideia: é o próprio Reinaldo Azevedo. Falei disso no http://blogflanar.blogspot.com/2009/03/um-ridiculo-em-acao.html .
Abraços em ambos.
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