5.11.08

Ganhou Por Que?

Top Five: Os Cinco Motivos da Vitória de Duciomar

Por Rodolfo Marques *

Senti-me estimulado a escrever este texto a respeito de estabelecer, da forma mais didática e sintética possível – e desprovido de quaisquer juízos de valor apaixonados, como prevê o comportamento de um cientista político – os possíveis motivos da vitória de Duciomar Costa (PTB) para a Prefeitura de Belém, garantindo sua reeleição. Ele derrotou seu opositor José Priante (PMDB) no último domingo (26/10/08), no segundo turno das eleições em Belém, com 59,6% dos votos válidos, numa diferença um pouco superior a 140.000 votos. Estabeleci o que chamaria de “Top Five” ou as 5 principais razões para tal feito. Ei-las:

Discurso de vítima e comparação com Lula

O Prefeito reeleito Duciomar Costa utilizou, como efeito retórico, um discurso de comparação com o Presidente Lula, em que, na fala do alcaide belemense, “ambos foram meninos pobres e pisaram na lama”. Como Presidente Lula é hoje o político mais bem avaliado de todo o Ocidente, a partir de todas as pesquisas divulgadas (apesar de não ter o mesmo poder em transferir votos), a fala “colou” junto ao público. Explicando teoricamente, Duciomar Costa utilizou a idéia de vitimização, usando o argumento de todos os “inimigos da cidade” estavam contra Belém e contra ele – preconceitos similares aos já sofridos pelo Presidente da República. Deu muito certo... O sociólogo francês Edgar Morin1 e sua Teoria Culturológica da Comunicação usa o conceito da “identificação” – algo que Duciomar Costa estabeleceu muito bem com o Presidente Lula e com o próprio povo eleitor.

Maior suporte econômico

No segundo turno da campanha eleitoral, entre os dias 6 e 26 de outubro, a despeito de todos os apoios declarados ao seu opositor José Priante (Mário Cardoso, do PT e Arnaldo Jordy, do PPS, por exemplo), a cidade de Belém, literalmente, “amarelou”. Percebeu-se uma verdadeira “avalanche” de bandeiras e faixas amarelas sobre as rivais azuis e isso foi dando cada vez mais a impressão de que a candidatura Duciomar Costa estava mais forte, aparelhada e melhor distribuída por toda Belém. Isso demonstra que, sem dúvida, houve um planejamento financeiro melhor da campanha do prefeito reeleito, para poder usar o “gás” necessário na reta final, principalmente no convencimento aos eleitores indecisos e os que pretendiam anular o voto, por exemplo. Os quase 20% de abstenção em Belém mantiveram a média histórica na capital paraense, sem interferir diretamente no processo eleitoral – algo comentado em artigo anterior neste blog.

Debates e ausência de propostas do candidato adversário

“Dudu” dominou os 4 debates televisivos (RBA, Record, SBT e Globo, em ordem cronológica) por uma estratégia simples e, segundo uma fonte muito bem situada na campanha do Prefeito, por decisão conceitual do próprio alcaide: expor a ausência de propostas mais concretas do candidato adversário. Ao propor a José Priante que, em vez de responder suas perguntas, este expusesse seus projetos a exibir à frente do Governo Municipal, se eleito, Duciomar acabou por desconcertar o candidato do PMDB e o deixou sem muito o que propor ou dizer. Parafraseando o poster deste blog, “Duciomar asfaltou Priante”, usando uma figura de retórica de seu principal argumento em termos de obras – o asfaltamento de centenas de vias em Belém, o que também teve um peso fundamental na escolha do eleitor, consagrando a Rational Choice2.

Antecipado e equivocado clima de “já ganhou” na campanha de José Priante

Após à divulgação da primeira pesquisa do IBOPE para o segundo turno, no dia 11 de outubro, véspera do Círio (46% para Duciomar Costa e 43 para José Priante), ficou nítida a sensação de que a oposição ao atual prefeito poderia vencer a eleição, principalmente pelos índices de rejeição a Duciomar e pela aliança oficializada entre José Priante, Mário Cardoso e Arnaldo Jordy. Tal quadro gerou uma falsa impressão – confirmada depois – de que José Priante venceria Duciomar Costa apenas pela variável rejeição. Houve a concepção errônea de que bastaria, também, manter uma campanha apenas baseadas por críticas à administração municipal e com alegria através de músicas muito boas, como ocorreu no primeiro turno. O clima de “já ganhou” antecipado acabou se convertendo, em pouco tempo, num desagradável sabor de derrota – um sintoma de uma disputa mais clara e polarizada. Em geral, visões precipitadas levam a conclusões equivocadas e a resultados não-planejados.

Rejeição do eleitor da capital a Jáder Barbalho

Colar a imagem de José Priante ao seu primo e aliado político, o Deputado Federal Jáder Barbalho, acabou sendo uma questão definitiva no jogo eleitoral em Belém. Barbalho indiscutivelmente foi um dos grandes vencedores das eleições municipais no Pará, pois é o maior líder do partido que conquistou mais prefeituras em todo o Estado. E também ampliou sua força em Belém, onde sempre sofreu uma rejeição muito grande. Mas o patamar de 60% de eleitores que ainda rejeitam a figura de Barbalho em Belém acabaram por se manifestar na opção por Duciomar Costa, principalmente quando panfletos apócrifos começaram a circular em Belém, mostrando Priante e Jáder lado a lado e confirmando uma proximidade que todos conhecem. Essa idéia, somada à ausência velada do Governo do Estado no segundo turno eleitoral, acabou por dizimar, somando-se às quatro razões anteriormente descritas, as chances eleitorais de José Priante, consolidando a vitória de Duciomar Costa.

Obviamente, essa breve exposição não esgota o assunto e nem se arroga da empáfia de estabelecer a verdade. Muito pelo contrário: serve para reflexões e para forjar novos debates. A visão neste artigo é essencialmente empírica. Como diria o pensador austríaco Karl Popper (1902-1994), cuja obra é dominada e perfeitamente dissecada pelo advogado e Mestrando em Ciência Política pela UFPA, André Oliveira, “...numa democracia é possível livrar-se do governo sem derramamento de sangue”.
Cada um com as suas conclusões...--

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Rodolfo Marques é jornalista e mestrando em Ciência Política na UFPA.

6 comentários:

Anônimo disse...

égua, sumano! na mosca!

Anônimo disse...

Discordo dos vários motivos que o dr. Rodolfo Marques avalia como sendo os motivos para o Duciomar ter vencido a eleição.

Aliás, essas avaliações dos cientistas políticos da terra, deveriam acontecer durante o período eleitoral e não depois, como acontece nas eleições americanas, que a cada debate os cientistas políticos destrincham as verdades e as mentiras dos debatedores, talvez aí o cientista Rodolfo Marques, chegaria a conclusão que a massa asfaltica do Duciomar foi feita de cinismo e mentiras, os únicos motivos concretos da derrota de Priante foi o uso da máquina da prefeitura, de muita grana e de uma pitada de traição, essa é a verdade. Talvez se Duciomar tivesse perdido a eleição, um dos 05 motivos da vitória de Priante, seria o excesso de cinismo e mentiras do prefeito reeleito nos debates, como diria um político experiente: a quem perde cabe o direito de cantar um versinho. Fica a lição para os estudiosos da política, que a avaliação deve ser durante e não depois.

Anônimo disse...

Ninguem precisa estudar ciencia politica para desfiar esse rosario de obviedades. O que o cientista politico nao explica eh a razao pela qual os ataques (de qualquer ordem, com provas, inclusive) NAO PEGAM em Duciomar. Dizer que ele faz discurso de vitima nao explica porque esse mesmo discurso de vitima nao ajudou Valeria a sair do fundo do buraco onde o PT a colocou, com ataques precisos e cirurgicos que demoliram a candidata do DEM em 10 dias. Falta de propostas tambem nao pega. Ninguem tinha proposta seria nessa eleicao. Eram, todas, clones de si mesmas. Defeituosas, por isso. O que os candidatos e partidos fizeram foi pegar uma quali e transformar necessidades em propostas, com variacoes minimas entre si. Quem tinha menos proposta era Duciomar. Na verdade tinha somente uma, a de continuar na prefeitura. E foi o vitorioso. A responsabilidade pela vitoria do falsario eh da esquerda, que entrou dividida na disputa, despotencializando-se. A simples soma de Mario, Marinor e Jordy ja era superior ao numero de votos que Duciomar obteve no primeiro turno. Se com isso, ainda viesse uma parte dos votos de Priante, a vitoria da oposicao estaria assegurada. A ausencia desse ponto de vista nas analises que aqui se apresentam aponta para a permanencia da divisao da esquerda e para a eternizacao dos esquemas corruptos que Duciomar aprendeu com os tucanos e reproduz, com grande desenvoltura, a frente da PMB. A articulacao de uma forte candidatura das esquerdas em 2012 passa pelo PT, em primeiro lugar, que deve atrair PPS e PSOL (isso eh mais facil do parece) para um bloco comum em 2010. Sem essa engenharia, o proximo prefeito podera ser Paulo Castelo.

Cássio de Andrade disse...

Avaliação só pode ser realida após o fato. Do contrário, não seria avaliação. Assim é que se faz ciência, seja política ou natural.

Anônimo disse...

O NOBRE ANÔNIMO DAS 1:23 NÃO COMPREENDEU A POSIÇÃO DO ARTICULISTA...TALVEZ E COM CERTEZA PELO FATO DE NÃO DOMINAR AS FERRAMENTAS DA CIÊNCIA POLÍTCA !!!!
NÃO EXISTEM FATOS A PRIORI !!!!

PAULO RIBEIRO

Anônimo disse...

Correto, Paulo Ribeiro. Nem Comte defendia o conceito de "fato a priori". A maior ferramenta da ciência política é a análise, não o empirismo. Pode-se não concordar com a análise de Rodolfo Marques, mas não se pode deixar de considerar que foi produto de uma avaliação "a posteriori" ao fato político em torno de indicadores concretos. Concorde-se ou não, mas com argumentos, "doxas"; não com anatemismos.