Do jornalista Herbert Marcus, da Assesoria de Comunicação do INCRA, sob o título acima.
"Quantas vezes você mentiu hoje? (...) Para a psicóloga Oneglia Nazareth, a mitomania é uma tendência mórbida que desfigura o processo de comunicação, pois atinge tanto o emissor quanto o receptor da mentira'. (...) Para outra psicóloga, Cinthia Labratti, 'a mitomania é uma das características visíveis de quem sofre por não conseguir lidar com a sociedade'. (...) Segundo as especialistas, é possível perceber quando estamos diante de um mitômano devido às inconsistências do seu discurso." (...) Os maiores mentirosos revelados pela pesquisa de Jellison são pessoas com maior número de contatos sociais: vendedores, auxiliares de consultórios médicos, advogados, psicólogos e jornalistas. (grifo meu)"
Os trechos acima fazem parte de uma matéria publicada em O Liberal, edição de 19/04/2009, com o título "Hábito de contar mentiras é doença?", assinada pela repórter Aycha Nunes.
Quase um mês depois a repórter esteve na superintendência regional do Incra de Belém à procura de informações sobre as ações da autarquia fundiária no Estado do Pará, no contexto de uma pauta sobre ações do governo federal, segundo explicou à assessoria de comunicação do órgão. Durante uma semana ela solicitou e obteve as informações desejadas. A matéria foi publicada no domingo (17/05), com o título "Incra doa 18,3 mil cestas para o MST".
Causou mal-estar e indignação entre os servidores do Incra.
A matéria, no conjunto da edição de domingo, manifesta em toda a sua plenitude as concepções ideológicas e as correlações de forças existentes no contexto em que o Incra atua. É um primor de concisão das técnicas manipulatórias utilizadas pelos jornalões, amplamente analisadas pelos jornalistas Perseu Abramo e Aloysio Biondi em "Padrões de manipulação na grande imprensa" (Fundação Perseu Abramo; 2003) e Arbex Jr em "Jornalismo Canalha" (Casa Amarela; 2003), dentre outros.
A chamada de capa anunciava o tom da matéria - "Incra torra 44 milhões em comida para o MST - Instituto entregará este ano 220 mil cestas em áreas ocupadas ilegalmente no Pará". Na página 7 de Atualidades veio o título, em seis colunas, seguido do "olho", que dizia "Acampados - Dinheiro público é utilizado para pagar alimentação dos invasores". O tratamento editorial dada à matéria deixa claro os objetivos do jornal: criminalizar os movimentos sociais rurais, principalmente o MST ( O Grande Satã), e de deslegitimar as políticas sociais do governo federal voltadas para o meio rural. A formulação tendenciosa do título, colocando o MST como único beneficiário de uma ação governamental, relacionada à contraposição dos termos "dinheiro público" e "invasores" do subtítulo indicam isso. E quem editou sabe perfeitamente que a maioria das pessoas lêem (ou vêem) principalmente os titulos e os "ollhos" da matéria.
E para os que não entenderam direito a posição do jornal (e a dos seus aliados) sobre os sem-terra, a página 4 do caderno PODER (!) põe por terra toda dúvida. Nela se encontra a sacrossanta voz do "agronegócio" paraense, o presidente da Faepa, Carlos Xavier. "Empresário condena invasões e saques", dizem no título, de seis colunas, Xavier e o editor de domingo de O Liberal. O olho arremata: "Campo minado - Dirigente da Faepa cobra cumprimento da lei para conter os sem-terra" (por que será que fizeram esse joguinho de palavras?).
No corpo da matéria, assinada por Keila Ferreira, o empresário analisa que alguns movimentos sociais não tem nada de social, que "querem impor uma composição ideológica para todos nós e, sobretudo, com desvios de recursos da sociedade de forma assustadora (grifos meu)". Segundo ele, os sem-terra saqueiam, invadem, matam, roubam, arrassam com o desenvolvimento, atrapalham o desenvolvimento e chegam mesmo a ameaçar a força da imprensa. Ao final do texto descobrimos que é justamente por causa que os sem-terra fazem tudo isso que seus colegas de infortúnio da Associação Comercial do Pará vão lhe dar o prêmio de melhor empresário do ano.
Não entenderam ainda? Então voltemos à matéria da página 7 que, repito, não veio assinada pela Aycha Nunes. Ela começa assim: "O Pará recebeu durante o mês de abril R$ 3.735.732,96 em forma de cestos de alimentos. (...) 18.399 cestas básicas (distribuídas pelo Incra)". Segue-se uma ressalva, "A comida, no entanto, não alimentou nenhuma das 1.740 famílias que estão desabrigadas por causa das enchentes no Estado". Mais adiante vem um raciocínio matemático para se chegar à quantia exata desse desperdício anual, de R$ 44.828.795,52, posto que não serviu a nenhuma causa humanitária (o texto não afirma isso, no entanto...). A exatidão é para não deixar nenhuma dúvida quanto aos cálculos, respaldados por dados de pesquisa de uma entidade na qual se pode confiar: o Dieese.
Quem vai duvidar de tudo isso? Se os supostos dados foram repassados pelas assessorias e até o superintendente diz (com direito a foto de 4 colunas) que "Incra reafirma que mesmo os invasores têm direito de receber alimentos", (título secundário em seis colunas); e não só alimentos, mas todo um conjunto de ações para que continuem a atormentar os agroempresários. Dentre eles, servindo de exemplo (maniqueista) uma alma caridosa, de nome Ney Rocha, que "resolveu doar parte de suas terras", um benfeitor da reforma agrária, como tantos outros agroempresários (é uma nomenclatura nova...).
Onde estão as distorções? Está no valor de cada cesta e na suposta mensalidade de distribuição das mesmas, além de declarações retiradas de seu contexto. As cestas não são distribuidas mensalmente pelo Incra e nem têm o mesmo valor daquela calculada pelo Dieese. O texto que segue, com esclarecimentos da superintendência regional do Incra no Pará (SR-01) sobre o que foi publicado, e enviado pela Ascom ao jornal, dá outras explicações que creio desnecessário repetir aqui.
Restou o silêncio de O Liberal sobre os esclarecimentos prestados, até o presente momento.
Daí volto ao início deste texto: - Quantas vezes você mentiu hoje?
Creio que ainda há tempo para debatermos sobre isso...
Herbert Marcus / Jornalista, Assessor de Comunicação da Superintendência Regional do Incra em Belém
10 comentários:
Juvencio, Mano Velho, acho que ele escreveu muito e meio que se perdeu. Precisa ser mais conciso e claro - nem todo leitor das pocilgas tem cabeça pra entender um texto tão confuso desses...
Onde achamaos o texto e os esclarecimentos da SR/01 do Incra?
Parente, cordial bom dia.
A nota da SR/01 tb é longa, apoiada na opinião pessoal de Herberet, mas quando tentei postá-la aqui na caixinha aparece um aviso - que nunca vi antes aqui no Blogger - dizendo:
Seu HTML não pode ser aceito: Must be at most 4,096 characters
Abs
A mensagem diz que o arquivo está pesado demais para ser postado. Estranho, já que é somente texto, but....
Deixem o e-mail que mando a resposta do Incra para todos.
E tai o Liberal hoje com nova barriga : a principal coluna do jornal na edição de hoje diz que o pagamento do funcionalismo público vai atrasar para o dia 11 de junho, mas não é verdade , o pagamento começa dia 28/05 e encerra dia 03/06.
Sr. Herbert Marcus , diga apenas uma coisa: O INCRA fornece ou não cesta básica para sem terras acampados em área ocupadas ilegalmente? Pois não ficou claro na matéria. Vá direto ao ponto, sem blá, blá, blá!
Caro anônimo das 11:11
O Incra distribui, sim, através de suas Ouvidorias regionais, cestas básicas do Programa Fome Zero à famílias acampadas que reivindicam um pedaço de terra.
Meu texto contém elementos claros para se inferir isso.
Mas há critérios para tal distribuição. Famílias que ocupam áreas pequenas, não suscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária, por exemplo, ou áreas situadas em terras públicas do Estado não se enquadram nesses crítérios.
Quanto à legalidade ou ilegalidade da ocupação, a questão não é tão simples assim. Não basta alguém afirmar que é proprietário de um imóvel para que se confirme a legitimidade/legalidade do ato. Há municípios paraenses que apresentam o dobro de suas extensões territoriais em terras registradas em cartórios.
Em resumo, há muita grilagem de terras e muitos imóveis que não cumprem a função social da propriedade, princípio Constitucional relegado ao segundo plano até pela Justiça brasileira.
Ou seja, legalidade/ilegalidade depende da interpretação dada pelas partes interessadas... incluindo a minha.
Prof. Alan,
De fato meu texto é longo. Mas o que fazer diante de uma matéria de página inteira?
Meu objetivo era debater a composição da forma x conteúdo da reportagem, para indicar as distorções, que envolvem desde a coleta das informações até o tratamemto editorial da matéria.
Por isso indiquei a leitura de dois autores.
Ao que parece O Juvêncio encontrou problemas na formatação de meu texto.
Juvêncio, penso que isso se deve ao fato de ter utilizado o Outlook, cujas balizas nem sempre são reconhecidas por outros gestionários.
Ao prof. Alan solitito seu email para que possa enviar meu texto.
Cordialmente
Herbert, obrigado por sua atenção aos leitores do blog, especialmente com este prof. Alan, que anda do lado esquerdo do coração do poster.
O tamanho do texto, na minha modesta opinião, não conspira contra seu conteúdo, senão o contrário.
Essa tb foi a opinião de minha companheira, Mestre em Comunicação e Dra. em Ciênca Política, articulista ocasional do Quinta.
Além do que nada é grande o suficiente para devolver as calúnias da pocilga dos Maioranas, fraudadores do IVC.
Tive problemas apenas com a nota da SR-1, que optei por publicá-la na caixinha de comentários, já que seu artigo era melhor e mais denso. Talvez por isso, maior.
Cordialmente,
Obrigado pela competente e educada resposta. Não quis ofender com o "blá blá blá".
Anônimo das 11:11
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