Por Alberto Dines, sob o título Falta Sintonia Com o Leitor, no OI.
As capas das revistas deste último fim de semana tratavam de assuntos completamente diferentes, assim também as primeiras páginas dos jornalões de domingo (10/5) onde apenas o Dia das Mães e a gripe suína conseguiram alguma notoriedade e mesmo assim sem grande ênfase.
Em matéria de mordomias aéreas, só apareceu um escândalo – e cabeludo: a Câmara dos Deputados paga o salário do piloto particular que serve ao ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, do PMDB da Bahia.
As dramáticas enchentes no Norte-Nordeste e a seca do Sul não empolgam, cansaram. Mas não acabaram, os veículos é que se desinteressaram delas.
A crise da imprensa brasileira é diferente da americana: aqui não é a internet que ameaça os jornais, são os jornais que não conseguem sustentar suas coberturas e vivem ciscando, incapazes de manter a continuidade.
E como o jornalismo é um processo contínuo, sucessivo, persistente, esses vácuos minam o interesse do leitor. Leitor desinteressado é infiel, intermitente – isso é um perigo.
Demandas consistentes
Algumas causas são visíveis: a alta do dólar no último semestre afetou a despesa com o papel, os espaços para noticiário encolheram e, como a publicidade também diminuiu por causa da recessão mundial, as pautas ficaram mais restritas.
A coisa pode piorar: O Globo aumentou o preço da sua edição dominical para 4 reais, equiparou-se aos jornalões paulistanos e as autoridades monetárias estão empenhadas em manter o dólar alto.
Assunto não falta, o que falta é sintonia com o leitor. Em tempos de crise suas demandas são muito específicas e consistentes: não adianta enganá-lo com banalidades.
Um comentário:
É preciso entender que o leitor também mudou. A crise pode ser um motivo para aprofundar a crise brasileira, mas o que falta mesmo é entender o papel cidadão que a imprensa pode desempenhar.
Tá na hora dos sindicatos, estidades estudantis (DCE's, CA's e DA's) se juntarem. A crise é tão grande e pode tornar-se maior na medida que falte iniciativas para enfrentá-la.
Um bom começo é uma investida nas escolas de Jornalismo. Elas, em via de regra, tanto faz serem públicas ou privadas, há tempos não tem a mínima noção do que estão formando.
Papel importante também cabe ao sindicato - O Sinjor. Outro dia, na faculdade Ypiranga, num debate sobre "Ética e Liberdade de Informação no Jornalismo" foram poucos (jornalistas e pré-jornalistas) que lá se habilitaram em participar.
Portanto, cabe um esforço de toda a sociedade para formar novos cidadãos leitores, com algum nível de crítica perante a realidade.
Não se pode negar os verdadeiros interesses inconfesáveis dos donos da mídia. Deles, não esperemos grandes esforços para a formação de opiniões públicas com algum nível de crítica.
É preciso fazer alguma coisa e o início passa por iniciativas simples, mas que mobilizem a sociedade ou parte dela para a discussão.
O meio acadêmico é bem vindo, mas os sindicalistas e profissionais da comunicação são atores fundamentais para a conquista de êxito.
Satchel Paige.
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