O Jogo de Jatene

No blog Espaço Aberto, postando de São Paulo.

A aliança entre o PSDB e o DEM, em apoio à candidatura da ex-vice-governadora Valéria Pires Franco, esteve por um fio, esteve sob risco de naufragar de vez na antevéspera da convenção de segunda-feira passada, quando, enfim, as convenções das duas legendas homologaram a coligação.
Numa reunião entre os tucanos, uma voz qualificada do partido – voz qualificadíssima, vale dizer – pôs na mesa um raciocínio que se resume nisto: o PSDB, ao apoiar Valéria, estaria gerando – e não seria uma geração espontânea – a criatura que poderia, mais tarde, devorar o criador.
Na análise da voz qualificada do PSDB, que os circunstantes tucanos ouviram atentamente, Valéria, se ganhar a eleição de outubro, poderá ser a candidata em potencial ao governo do Estado, em 2010; se perder, mesmo assim teria fôlego para ser a candidata do DEM ao Senado, ocupando espaços dos candidatos tucanos.
Os presentes à reunião, mesmo diante da análise da voz qualificadíssima, não arredaram pé. E a aliança se fez, com Valéria candidata a prefeita e Paulo Chaves (PSDB) como vice.Mas aquilo pode ter sido um indício de que o PSDB – ou segmentos do partido – podem jogar macio, muito macio nesta campanha.
Jogar macio, em tucanês, significa fazer corpo mole

------

A reunião aconteceu no sábado de tarde. A voz qualificada a que se refere o muito bem informado jornalista Paulo Bemerguy era a do ex governador Simão Jatemar, que fez o que pode - e não foi pouco mas não o bastante - para inviabilizar a candidatura democrata na capital, chegando a sugerir que Valéria fosse a vice do falsário, e depois, mais composto, pregando a candidatura própria do PSDB.
O Quinta acompanhou vários lances dos desdobros de Jatemar, ora operando pessoalmente, ora através do deputado estadual André Dias, sempre de olho em 2010.
Jatemar pavimenta sua volta ao governo do Pará, e para isso gostaria de ver Duciotene reeleito. Avalia que a reeleição do falsário e o show de bola da gestão Ana Julia-Barbalho turbinam suas chances eleitorais.
Mas o resultado das gestões jatemaristas na sucessão da capital mostra que a voz qualificada saiu do processo menor do que entrou. Os dois senadores, toda a bancada federal e a maioria dos deputados estaduais tucanos aplicaram-lhe uma clara derrota política, coisa que há muito tempo desejavam.
Talvez mais adiante, mas não muito, Jatemar precise trocar de partido, para não trocar de desejo.