8.12.08

Nem Aí

No Observatório da Imprensa, por Alberto Dines.

É incrível a frieza e o distanciamento com que a chamada grande imprensa recebeu a notícia da interrupção das atividades da Tribuna da Imprensa. Mesmo que a interrupção seja superada e o jornal volte a circular, o fato em si merecia ser examinado e analisado com atenção.
Em primeiro lugar porque o jornal parou como sempre viveu – atirando. É grave, gravíssima, a denúncia do editor da Tribuna, Hélio Fernandes, contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.
A rapidez com que o STF concede um habeas corpus ao banqueiro Daniel Dantas contrasta dramaticamente com a acusação de que o pedido de indenização requerido pelo jornal está há três anos parado nas mãos do ministro, um dos magistrados mais respeitados da suprema corte. Só isto já mereceria um pouco de atenção da imprensa.


Direito de saber

É fato histórico, público, notório que o jornal foi o mais perseguido e o mais prejudicado durante os 21 anos da ditadura militar. Esse pedido de indenização – independente dos valores e das alegações – está intimamente relacionado com um dos períodos mais sombrios da história republicana.
Convém não esquecer que daqui a poucos dias a imprensa estará lembrando os 40 anos do nefasto AI-5 – e a Tribuna foi uma das suas maiores vítimas.
Uma imprensa que não trata da imprensa não pode pretender a qualificação de isenta, objetiva nem inteligente. Os quase 60 anos da Tribuna não podem ser soterrados com registros de algumas linhas.
O leitor, sobretudo o leitor jovem, tem o direito de saber o que aconteceu e o que vai acontecer com o jornal fundado por Carlos Lacerda para combater o getulismo e tinha a lanterna de Diógenes como seu símbolo e inspiração.

2 comentários:

Anônimo disse...

Conhecemos aqui esse filme. Foi mais ou menos assim - ou exatamente assim - como se refere Dines,que aconteceu com A Província do Pará, lembram?
O velho jornal, que nasceu lemista e viveu seus dias de apogeu integrando a rede dos Diários Associados, foi uma escola de várias gerações de jornalistas.
Se não teve os méritos de Tribuna da Imprensa na luta contra a ditadura, construiu uma história de bom jornalismo até que caísse nas mão de amadores, negociantes e trapaceiros de todos os tipos.
Até hoje A Província está por mercer estudo acadêmico; seria tema para os tantos doutores em comunicação que a universidade tem produzido. É um capítulo da história da imprensa paraense que precisa ser resgatado, sob pena de jogarmos na caixa de esquecimento um tempo da própria vida econômica, política e social do Estado - especialmente de Belém.

Anônimo disse...

Boa tarde, Juca querido:

a p´rovíncia do pará foi o jornal que, em contraposição ao O Liberal, eu lia em Marabá. parecia-me mais consistente, menos subserviente aos plantões do poder. Talvez até eu já o tenha conhecido antes do apogeu descrito pelo anônimo, mas concordo plenamente que a Província merece respeito e estudo.

Quanto à Tribuna, é estranha mesmo a lentidão do despacho do Ministro Joaquim Barboza, realmente uma figura respeitabilíssima. Mas, não sei avaliar se o direito à indenização é extensivo à empresa jornalística. Isso abre um desaguadouro de questões.

Na minha adolescência conheci uma pequena tipografia que faliu porque seu dono - PCBão - foi preso e isso desestruturou a empresa e a família. A pequena tipografia merece tanto quanto a Tribuna o reconhecimento da arbitrariedade da ditadura, ou não?

Beijão.