23.4.09

Roupa Suja

De um comentarista anônimo, a propósito do post Cotas de Passagens, de ontem.

A imprensa brasileira tem muita roupa suja para lavar, mas algumas coisas já foram superadas no eixo Rio-São Paulo- Brasília. Coisas que aqui, neste rincão amazônico, ainda são tratadas com a maior naturalidade. Vamos a elas:

1) Repórter que é também assessor de imprensa e vai até o assessorado fazer entrevista pelo jornal onde trabalha. Essa prática, explicitamente condenada no código de ética da categoria, é tão reiterada que o repórter nem se importa de assinar a matéria (veja o episódio Micheline). Ah! O pior: os editores incentivam “É melhor mandar o fulano, ele é assessor lá, terá mais acesso, entende melhor o assunto”.

2) Editor que também é assessor recebe matéria contra seu assessorado e, ao invés de se declarar suspeito, simplesmente edita o material da maneira que lhe convém ou ... engaveta a pauta.

3) Editor que tem empresa de comunicação recebe sugestão de pauta interessante e de interesse público, mas como é da empresa concorrente, derruba a sugestão.

4) Repórteres viajam para o interior com despesas pagas por prefeituras e na volta, enchem o município de elogios sem que a informação de quem pagou a viagem seja dada ao leitor.

5) Colunista social presta assessoria para “socialite” (??) e enche sua coluna com fotos da dita-cuja, dos filhos, etc. Não é a toa que as colunas são cheias de notas sobre quem colou grau (isso é notícia?), concluiu o cursinho no Aslan, foi a Fernando de Noronha num feriado prolongado e outras coisas da mesma importância. Quem paga o colunista decide o que é importante. Os interesses do leitor?Que se danem.

Sabe o mais grave: ninguém quer discutir essas coisas.
Por quê? Os donos de jornais porque não querem pagar salários melhores que garantam aos repórteres e editores serem apenas repórteres e editores.
Os repórteres e editores porque não conseguem viver com um salário só e temem que, ao final da lavação de roupa suja, nada melhore nas redações e eles ainda tenham que abrir mão de uma fonte de renda.
Os donos de agência de assessoria porque não se preocupam com a qualidade dos releases que mandam para a redação e ficam contando apenas com o “bom relacionamento”.
Perguntas que gostaria que alguém respondesse aqui: Como fazer uma boa matéria se, nas redações, muita vezes, não se pode ligar para celular ou fazer interurbanos?Como cobrir decentemente o interior do Pará se qualquer ida a Cotijuba é vetada pelo financeiro das empresas? Como fazer uma matéria isenta se o repórter recebe do jornal e da fonte que está lhe dando a informação?Como obter credibilidade se um dos lados está pagando?
A Boa notícia? Há menos de cinco anos, essas indagações ficavam restritas às mesas de bar.
Hoje, já temos espaço onde se pode discutir de maneira mais aberta.
Já é um começo.Viva os blogs.

18 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Parabéns entusiasmados ao autor do texto. É um alívio ver que ainda há bom senso no mundo.

Anônimo disse...

Parabéns ao autor da análise, pelo texto e as informações. Como se trata de comentarista anônimo, porém, ele podia dar os nomes a todos os personagens citados, não apenas a um deles, porque pode soar tendencioso. Assim, os gatos pardos vão continuar a transitar desenvoltos, como se fossem pretos, pelos soturnos tetos de zinco quente da imprensa paraense. O panorama geral é triste, talvez o pior da história recente do jornalismo local. Mas há - ainda - desmaiadas projeções de luz no horizonte. É preciso estimular o seu fortalecimento, ou ela, a luz, não será mais do que um trem em sentido contrário dos que querem dignificar a profissão, como parece ser o anônimo. Um abraço, Lúcio Flávio Pinto

Simone Romero disse...

O Sindicato dos Jornalistas está organizando para a próxima quarta-feira, 29 - a data, assim como o local, ainda está sendo confirmada - o seminário "Ética e Liberdade de Informação no Jornalismo Paraense".

Você será um dos convidados para o debate, junto com representantes dos jornais Diário do Pará, O Liberal e Público, das TVs e representantes dos movimentos sociais - nossa intenção é que o MST e o Cedeca estejam presentes.

O debate será aberto à sociedade. Decidimos que mais do que quaisquer notas oficiais que possamos emitir, o importante é criar um espaço de discussão sobre o tema.

Quanto ao post, eu concordo que ele reflete a realidade atual das redações. O que me preocupa é que esse cenário adverso sirva como desculpa para que se deixe de praticar o bom jornalismo.

O pesquisador Javier Restrepo produziu um texto ótimo sobre isso chamado "A utopia ética" que eu espero poder distribuir durante o debate. Ele fala de todos os problemas que um jornalista enfrenta no cotidiano de trabalho e diz que, diante dessa conjuntura, a ética jornalística se realiza como uma utopia. Não utopia no sentido de um lugar impossível, mas utopia como um espaço vazio, a ser preenchido diariamente.

Conflitos entre o que deveria e o que efetivamente é publicado nos jornais sempre existiram. Mas cabe ao jornalista pelo menos tentar realizar sua "contravenção" diária durante a jornada de trabalho.

Unknown disse...

Obrigado pelo honroso convite, Simone. Irei sim.
Abs

Anônimo disse...

sobre não poder ligar pra celular - e além do mais não ter autonomia para fazer as ligações necessárias - já passei por isso na folha barbalhuda.

Anônimo disse...

O ex-prefeito Edmilson Rodrigues sempre diz que os jornais paraenses não são sérios. E tem razão.
O Diário ignorar o caso da vereadora Vanessa Vasconcelos é o fim da picada. E não adianta dizer que é coisa do concorrente. Fato é fato.
O Liberal certa vez publicou entrevista com o senador Luiz Otávio Campos falando de ética. Foi rizível, em se tratando do Pepeca.
Será que os donos dos jornais são tão obtusos a esse ponto? Empáfia, arrogância e desfaçatez têm limite. Deveriam ter, pelo menos.

Unknown disse...

Lucio, foi por isso que trouxe o texto à ribalta.
Abs

Anônimo disse...

Mas por que será que o Sinjor não convida o Lúcio Flávio Pinto para o debate também? Se este, o JP, asinda é o jornal mais isento de todos od demais deste Estado, por que será que o Sinjor se abstrai de convidar o Lúcio para este tipo de debate??? Duvidas que deixam a gente com 20 pés atrás com este sindicato.

Simone Romero disse...

Ai, ai ai.

Se o Sindicato não faz nada é porque é inoperante. Se faz, nunca está certo. E o pior é que as críticas sempre são anônimas. Nunca ninguém dá a cara a tapa. Assim fica mais fácil, né?

Se você, das 11h52 frequentasse mais o sindicato saberia que no nosso último Congresso, o Lúcio participou como convidado de uma das mesas e teve respeitado o direito de falar o que quisesse, inclusive questionando o sindicato,como de fato o fez. E isso não é nada demais.

Não existe esse conflito que você tenta pintar. O sindicato tem muito respeito pelo Lúcio.

Você quer vê-lo na mesa? Realmente Lúcio é um jornalista que pode contribuir muito para o debate. Vamos convidá-lo.

Lúcio, se você ler este comentário, sinta-se, desde já, convidado.

Satisfeito anônimo?

O que mais você quer agora?

Que tal revelar o seu nome para também podermos convidá-lo para a mesa?

Espero que,pelo menos, você esteja lá para participar do debate.

Vamos aguardá-lo.

Anônimo disse...

AI QUE SAUDADE IMENSA DO LUIZ PAULO FREITAS - PZ. IA SER UMA DELICIA LER SUA COLUNA NESTES TEMPOS........

Anônimo disse...

E os blogs será que são isentos? Por que o Quinta defende tanto o Alex Fiuza de Melo e o Vic?

Anônimo disse...

Juca,

Como os demais concordo com a opinião deste anônimo, porém não vejo necessidade também dela alcançar os colunistas sociais, como foi colocada no item 5. Isso nem é jornalismo, ou estou enganado? Não vejo como isso nasceu ou foi parar ali, sabes a origem?

A meu ver o erro não está em receber $$$ pra falar das viagens e outras coisas, mas na própria existência e manutenção destas colunas.

J. BEÁ

J. BEÁ

Anônimo disse...

Pelo menos o sindicato tomou uma atitude... Vou continuar anõnimo porque este é um direito meu concedido pelo dono dete blog "de primeira". Sobre a participação do Lúcio em um congresso que tratava sobre as problemáticas da Amazônia, faz-me rir, representante do Sinjor. O Lúcio mal teve tempo para falar porque dividia a mesa com outros tantos. Um dos maiores conhecedores da Amazõnia não teve direito a um espaço digno dentro do congresso. Espero que o Sinjor corrija estes equívocos. Se eu fosse o Lúcio, nem sei... Ele deve ter paciência de Jó para aceitar estes absurdos. No lugar dele, eu... É melhor continuar anônimo.
Beijos, seu Ju, que sabe quem sou eu, tenho certeza. Pela participação de ambos, vale mesmo a pena assistir este debate.

Unknown disse...

Das 12:37, responda vc mesmo.

Let Azevedo disse...

A-D-O-R-E-I!

Anônimo disse...

Eu acho que não existe jornalismo isento no país, cada um serve a um interesse, seja de direita ou de esquerda, ou interesse financeiro.

Anônimo disse...

Essa é arealidade do jornalismo no Pará. Uma anomalia que prospera aqui mais do que em outros centros. Muito boa a lavagem de roupa do anônimo. Muito bom que o sindicato discuta essa aberração que faz o jornalista mal pago esquecer o pouco que aprendeu sobre ética no curso de comunicação.

Anônimo disse...

Que saudade dos tempos que para ser jornalista não era preciso entrar na Universidade!