Em comentário ao post Pecados Capitais, de sábado, 4, escreve Lucio Flavio Pinto.
Todos temos nossas vaidades, por isso devemos conduzi-las com rédeas curtas. FHC é um poço de vaidades. Lula, uma fossa oceânica, apesar das aparências. Chico Caruso, um poço sem fundo, mesmo com a simpatia.
Dizia-se na redação de O Globo que um dia ele ligou para seu banco pedindo qualquer coisa. Quem o atendeu queria saber quem ligava. Resposta do interlocutor: é o Chico Caruso. Quid?, reagiu o funcionário. Chico ficou furioso e desligou. Como aquele mortal se atrevia a não saber de imediato quem era Chico Caruso?
Isto posto, Fernando Henrique é intelectual capaz de ser respeitado e admirado em qualquer lugar do mundo. Lula, um líder político de envergadura mundial. Chico Caruso, um artista de qualidade internacional.
O que os une além disso? Criaram um fosso entre o que podiam fazer e o que fizeram e fazem. FHC sepultou a hidra da inflação, mas criou o monstro da reeleição, que terminou por corromper tudo no Brasil. Lula foi o primeiro verdadeiro homem do povo no topo do poder, depois de uma biografia única, com uma persistência e uma perseverança sem iguais. Para, desde então, servir à versão populista, revista e atualizada, de um "milagre econômico" assemelhável ao da ditadura. Criando pedágio extra (as bolsas e equivalências) para a concentração de renda engendrada por FHC, a razão da nossa afluência material e da nossa degradação civilizatória. Momentos que se eternizam no traço de Chico Caruso, mas conforme a partitura que seus pares, no topo da direção de O Globo, lhe repassam e ele executa.
O problema é que essa elite, por origem ou adesão, se isola da realidade, da história do povo, do percurso da nação, para fazer sua biografia e cultuar seus louros, que, dourados e prateados, impressionam à primeira vista - e à distância. Mais de perto, as penas de pavão se revelam de urubu, quando não apenas grotesca fantasia.
Fantasia fascinante, mas isso mesmo: de material efêmero, como toda vaidade excessiva.
Um abraço a todos e bom fim de semana.
Lúcio Flávio Pinto
13 comentários:
O Lúcio Flávio, como sempre brilhante e lúcido, toca na ferida: FHC e Lula não fizeram o que podiam pelo sofrido povo brasileiro e mais serviram aos interesses das elites do que aos interesses mais profundos do país (nunca os banqueiros ganharam tanto como agora, nem mesmo no governo FHC, o que já diz tudo sobre a natureza do governo Lula). Como disse John Kennedy em seu discurso de posse, "Se a sociedade livre não puder ajudar os muitos, que são pobres, ela jamais poderá salvar os poucos, que são ricos" (cito de cabeça, portanto, pode haver alguma imprecisão na citação).
As vaidades expressadas por FHC e Lula - o príncipe intelectual e o "sapo barbudo" que chegou lá, respectivamente - não condizem com seus insignificantes feitos nas áreas sociais (agora, Lula promete um milhão de casas populares - quem acredita nesta promessa eleitoreira? Alguém ainda se lembra do "Fome Zero"?).
Parabéns ao Lúcio, mais ume vez.
Grande Lúcio, também vaidoso. "Humildemente" criou um Jornal PESSOAL.
Égua!
Não precisa colocar um ponto de exclamação embaixo do seu nome.
Já está bastante evidenciada sua condição.
Muito boa a sua resposta ao anônimo das 8:42. Caro Juvêncio.
Excelente a leitura do Lúcio Flávio, sobre as vaidades dos governantes. Aqui mesmo no Pará temos exemplos vivos (deveria dizer imortais) desse tipo de vaidade. Desde os que ficaram 08 e 04 anos no poder até os que estão usufruindo suas bensses agora. Mas acrescentaria ainda nas fantasias dos governantes, a sua platéia sempre disposta a gritar a plenos pulmões que nunca na história desta Amazônia e deste Estado houve um governante que fizesse tanto pelo povo. É esta a nossa sina?
Cláudio Teixeira
Bom dia, Cláudio.
Nossa sina e nossa luta.
O autor da boutade sobre o Lúcio foi o coronel Jarbas Passarinho em debate, quando LFP disse-lhe (ao coronel) que ele era vaidoso. JP então redarguiu: "Eu vaidoso, Lúcio? Você cria um jornal e o denomina de Jornal PESSOAL e eu é que sou vaidoso"?
Mas, apesar disso, o Lúcio tem, sim, muito valor. Ai de nós paraoras, sem o Jornal pessoal e sem os blogs, como este. Estaríamos condenados a ler o que os narigudos e sobrancelhudos decidissem.
Caríssimo Juvêncio,
O Lúcio não me passou procuração para defendê-lo, mas, mesmo assim (perdão, Lúcio) vou fazê-lo.
Conheço-o um pouco, para tal.
E tb pela oportunidade , que imagino boa , para esclarecer talvez à alguns que também possam ter essa visão ( equivocada ) do trabalho do LFP.
O Lúcio só enveredou por esse caminho, o de um Jornal Pessoal ,com todas as penosidades que isso lhe acarreta , pelo fechamento dos meios de comunicação ( impressos, principalmente ) ao seu trabalho .
Ele é um exilado em sua própria terra natal . E isso decorre , pasmem , não de possível carência profissional, mas , pelo contrário , da correção com que ele executa seu trabalha . Da correção e da competência.
Fosse eu dono de jornal, rádio e televisão , LFP seria meu contratado em todos eles. E , a bem da verdade , isso nem seria novidade, porque Rômulo Maiorana ( o pai ) já o fizera lá pelos idos dos anos 70 . Grande Rômulo !
É curioso notar que quando o Lúcio se manifesta , aqui e ali sempre vem alguém tachá-lo de vaidoso! Raramente se lhe questionam a seriedade, o rigor profissional, o próprio trabalho jornalístico em si , nada disso é posto em xeque!
A questão ( negativa ) é que ele é vaidoso !!!
Um cara que incomoda os tycoons no tucupi , e é por isso deixado de lado profissionalmente ; que enfrenta dezenas de processos judiciais cujo escopo maior é o empastelamento de sua atividade maior ( o jornalismo ); que , como qualquer ser humano tem tem o direito de viver e de buscar sua felicidade nos vários planos da vida , à esse cara se lhe sonegam até - e falo agora só para argumentar - o direito de ter vaidade!
Vamos combinar, gente , ninguém merece!
O Jornal Pessoal não é fruto da vaidade de um jornalista. É o resultado das amarras de uma sociedade que ainda não evoluiu , antropologica e sociologicamente falando.
O Jornal Pessoal é , a um só tempo , luz e razão , esta para seguir quando tudo lhe clama parar , aquela para perseverar na utopia .
Anônimo das 8:42 , pode crer , não há jornal mais plural do que o Jornal Pessoal .
Salud !
Dom Francisco, meu cordial bom dia.
"Todos temos nossas vaidades, por isso devemos conduzi-las com rédeas curtas."
É assim que LFP começa seu comentário, no que concordamos todos, acho.
Há diversas maneiras de manifestar eesa condição, que por vezes nos leva a fazer coisas inimagináveis, para o bem ou para o mal.
Minha relação com LFP é algo antiga e pouco enfática.
Raramente nos vemos.
Nunca marcamos um encontro ou frequentamos nossas casas.
Falamos ao telefone uma vez. Sentamos uma vez numa mesa de debates, num Forum promovido pela prefeitura Edmilson em 1998.
Registro dois encontros recentes em almoços de sextas, por coincidência, ambos.
Sinceramente não acho que deva-se derivar, como teria feito Passarinho, a vaidade a partir do nome do Jornal, uma empreitada claramente solitária, até por algumas razões que vc tão bem elenca. É assim que entendo o nome de batismo do Jornal.
Desse modo, não sou capaz de enquadra-lo como tal.
E se ele é vaidoso assim ( !!!...rs), talvez, no lugar dele eu tb o seria.
Mais ou menos como também seria se estivesse no seu lugar, Dom Francisco.
Abs e salud.
Todas as pessoas inteligentes, preparadas e, por isso mesmo, destaques naquilo que fazem- e bem feito, é bom que se diga, são vaidosas.
Eu disse todas que eu conheço.
Ainda bem que eu tenho muitos amigos vaidosos.
Orly Bezerra
Só para continuar a merecer as honrosas - e generosas - palavras dos que me defenderam da "acusação" de ser tremendamente vaidoso. Em 1969/70 eu era um dos editores do Jornal de Domingo, suplemento dominical um bocado vanguardista que circulava na edição dominical do Diário de S. Paulo. Em 1971/72 fui um dos editores do Bandeira 3, suplemento da edição dominical de A Província do Pará. Meu irmão, Raimundo José, e o Guilherme Augusto, ainda em plena labuta, também foram. Em 1973 criei o Jornal Pessoal, página semanal (também dominical) de A Província do Pará, que eu mandava de São Paulo, onde morava e trabalhava, para o Cláudio Augusto de Sá Leal, meu primeiro mestre no jornalismo. A página durou até meados de 1973. Em 1975 lancei a edição semanal do Bandeira 3, com uma grande e brilhante equipe. Infelizmente, o jornal durou apenas sete números. Em 1976 criei e editei, junto com uma equipe, o Encarte, também numa edição dominical, só que em O Liberal, que teve a mesma duração, de sete números. Já participara então de outros experimentos alternativos nacionais: Opinião, Ex, Versus, O Nacional, Movimento, etc., nos quais fui apenas mais unzinho no conjunto. Em 1980 lancei meu primeiro jornal do "eu-sozinho", o Informe Amazônico, que fora coluna em O Liberal de 1973 a 1979, e passou a ter vida independente para tentar abrir um novo caminho. O Inbforme durou 12 números. Se alguém ainda não sabe, criei o Jornal Pessoal autônomo em setembro de 1987. Era a única maneira de publicar uma longa reportagem sobre o assassinato do ex-deputado Paulo Fonteles, que O Liberal, ao qual eu ainda tinha alguma ligação, não quis publicar - e não havia como divulgá-la de outra maneira. Com ela ganhei o primeiro Prêmio Fenaj (da Federação Nacional dos Jornalistas) e Igor Fuser (atual editor de Caros Amigos) a incluiu numa antologia sobre as grandes reportagens de todos os tempos, um substancioso volume editado em SP (se alguém conseguir encontrar o livro, recomendo que o compre; há dezenas de textos muito melhores do que o meu). Por que fazer o Jornal Pessoal há quase 22 anos, a mais duradoura publicação da imprensa verdadeiramente alternativa do país? A resposta fica com os leitores. Limito-me a fornecer fatos e espero que o debate sempre seja feito em torno deles. Os juízos de valor são francos - e, às vezes, risonhos. Obrigado. Um abraço. Lúcio Flávio Pinto
Bom dia Lucio.
Abs
Grande Lúcio, você tem sido desde a década dos 60 o nosso paladino em defesa da Amazônia. Parabéns e que o seu (e nosso) Jornal Pessoal tenha ainda muitos e muitos anos de vida.
O Lúcio até virou personagem do Haroldo Maranhão em "Cabelos no Coração", e nem por isso ficou vaidoso.
Artur Dias
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