A deliciosa charge de Chico Caruso na edição impressa de O Globo ontem, 3, revela uma faceta muito conhecida de quem conhece FHC, uma carreta de vaidade e inveja.
Mesmo homenageado com carradas de títulos "Doutor Honoris Causa" em sua longa carreira acadêmica e política, muito mais na segunda (9) do que na primeira (2), é realmente insuportável ver Lula - logo êle! - receber um título que jamais receberia, e talvez o que mais tenha almejado na sua longa trajetória: o de presidente mais popular do mundo.
Mas o mundo não poderia dar-lhe o que o país recusa, com razão.
Se os discutíveis méritos políticos de FHC são modestos, os indiscutíveis méritos acadêmicos de FHC , entretanto, deveriam ser reverenciados com uma pitada a mais de comedimento.
Reconhecido por acólitos e apressados, e depois por correligionários, como o pai da Teoria da Dependência, em verdade deve-se a chilenos e argentinos - e brasileiros como Theotônio dos Santos, bem mais do FHC - a condição de construtores do mais importante paradigma científico das ciências socio políticas erguido na América Latina.
Hábil desde sempre na difusão de sua marca pessoal, ao menos uma vez não hesitou em contornar práticas inter pares nos tempos de academia. Uma delas consistia em dividir com um colega a colaboração dos textos mais importantes. O colaborador, naturalmente, era consignado como co-autor da obra, nominado logo abaixo do autor nos créditos da publicação.
Certa vez, dominado pelo fascínio que lhe causou a colaboração de um texto para Carlos Estevam Martins, FHC entregou-se à volúpia do desejo, dirigiu-se à editora e inverteu a ordem dos nomes, uma prática não exatamente incomum nas academias, também desde sempre e mundo afora.
A inveja é global e milenar. Feito a vaidade.
Contou a um amigo essa passagem de nível da vida de FHC o mestre Octavio Ianni, que fez parte da lendária Escola Paulista de Sociologia ao lado de Florestan Fernandes, seu principal nome.
Contou mais. Aposentado compulsoriamente e com direitos políticos cassados em 1969, Ianni retornou ao Brasil em 1978 mas só retomou sua cátedra da USP em 1998. A reintegração dependia dos pares no departamento de Sociologia e o grupo comandado por FHC levou dez anos para fazê-lo.
Ao mestre Ianni dedico, tão distante, esta postagem, justo no dia que completa cinco anos de morto.
FHC morre em vida.
32 comentários:
LAVOISIER
Nada se perde; tudo muda de dono.
(Mario Quitana)
Parece que quem tem inveja da carreira de FHC é o escritor do texto. Ô dor de cotovelo, hein.
Não tenho inveja, tenho admiração pela carreira - acadêmica, bem entendido - de FHC. E assim mesmo comedida, pelas razões expostas no post.
Ponho-me, humildemente, no meu lugar, modesto o suficiente para poder escrever a postagem acima sem qualquer contestação honesta de ordem acadêmica e subscrita.
Na inveja tudo pode.
Seu caso, das 9:44.
OCTAVIO IANNI,
está encantado na vida do povo brasileiro. Continua encantando e embalando nossas reflexões.
O resto, é melhor esquecer.
Paulo de Tarso
Bom dia, Lafayete, e até logo mais.
Olá, PTtarso, bem embalado...rsrs
Abs
Até mais, mestre.
E, para o tipo de bar (mais um) que está esfarelando neste mês chuvoso de Abril, segue mais um Quitana:
TEMPO PERDIDO
Havia um tempo de cadeiras na calçad. Era um tempo em que havia mais estrelas. Tempo em que as crianças brincavam sob a clarabóia da lua. E o cachorro da casa era um grande personagem. E também o relógio de parede! Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava as horas.
Obama está coberto de razão: LULA é o cara! Sabe tudo. É a síntese de um povo miscigenado.
Pobre FHC. Mal colonizado, mal colonizador, não miscigenou. Morre em vida.
Mestre.
Revendo alguns vídeos para a composição de um documentário que estou a produzir, é impressionante a cara de "menino babão" de FHC ouvindo um delicioso e contundente pronunciamento de Florestan Fernandes (http://pt.wikipedia.org/wiki/Florestan_Fernandes), na Tribuna da Câmara dos Deputados.
O olhar resume o seu brilhante post.
De taão empolgado. Estou pensando em fazer sociologia.
Mestre Val, ele merece.
Obrigado e grande abs.
Ótima escolha.
Lula dise que a crise foi fabricada por gente branca de olhos azuis. Obama, do alto de sua negritude, adorou a defesa gratuita que recebeu e retibuiu, cobrindo Lula de elogios.
O Chico Caruso, que não entendeu a piada, acha que o FHC está morrendo de inveja por causa disso.
É triste constatar que o Chico, depois que assumiu o melancólico papel de humorista-a-favor, está ficando cada vez mais medíocre.
Fale, primo
Te mandei a pauta do Jogo Aberto por email. Se puderes, dá essa força.
Um abração
E saudações bicolores
Carlos Mendes
Concordo com o anônimo das 11:38.
As viúvas do FHC se mordem de ódio com qualquer crítica ao príncipe mulatinho que se perdeu na ilha de caras. A charge de Chico Caruso está hilária e é assim mesmo que o ex-presidente é visto pela maioria dos brasileiros, que nos perdoem as viúvas.
A sociologia de FHC começa e termina na avenida Paulista.
Todos temos nossas vaidades, por isso devemos conduzi-las com rédeas curtas. FHC é um poço de vaidades. Lula, uma fossa óceânica, apesar das aparências. Chico Caruso, um poço sem fundo, mesmo com a simpatia. Dizia-se na redação de O Globo que um dia ele ligou para seu banco pedindo qualquer coisa. Quem o atendeu queria saber quem ligava. Resposta do interlocutor: é o Chico Caruso. Quid?, reagiu o funcionário. Chico ficou furioso e desligou. Como aquele mortal se atrevia a não saber de imediato quem era Chico Caruso? Isto posto, Fernando Henrique é intelectual capaz de ser respeitado e admirado em qualquer lugar do mundo. Lula, um líder político de envergadura mundial. Chico Caruso, um artista de qualidade internacional. O que os une além disso? Criaram um fosso entre o que podiam fazer e o que fizeram e fazem. FHC sepultou a hidra da inflação, mas criou o monstro da reeleição, que terminou por corromper tudo no Brasil. Lula foi o primeiro verdadeiro homem do povo no topo do poder, depois de uma biografia única, com uma persistência e uma perseverança sem iguais. Para, desde então, servir à versão populista, revista e atualizada, de um "milagre econômico" assemelhável ao da ditadura. Criando pedágio extra (as bolsas e equivalências) para a concentração de renda engendrada por FHC, a razão da nossa afluência material e da nossa degradação civilizatória. Momentos que se eternizam no traço de Chico Caruso, mas conforme a partitura que seus pares, no topo da direção de O Globo, lhe repassam e ele executa. O problema é que essa elite, por origem ou adesão, se isola da realidade, da história do povo, do percurso da nação, para fazer sua biografia e cultuar seus louros, que, dourados e prateados, impressionam à primeira vista - e à distância. Mais de perto, as penas de pavão se revelam de urubu, quando não apenas grotesca fantasia. Fantasia fascinante, mas isso mesmo: de material efêmero, como toda vaidade excessiva. Um abraço a todos e bom fim de semana. Lúcio Flávio Pinto
Eu vejo nas atitudes de Fernando Henrique Cardoso em relação ao Lula incredulidade, não inveja. Para um cidadão da extirpe de Fernando Henrique o mundo deve estar de cabeça para baixo. Como um operário sem dedo, que não consegue falar corretamente em sua língua pátria, nem domina o idioma inglês, pode ser o político mais popular do mundo, na atualidade.
Não é inveja o que move Fernando Henrique, é a soberba.
Uma das característica da social democracia, no Brasil, é o tom monárquico com que se dirige aos correligionários e às massas, e a enorme capacidade que têm em colocar no poder o que há de mais espúrio, vide Duciomar Costa, em Belém.
Dominam muito bem os números, são hábeis guardiões da moralidade liberal, detêm um bom quadro técnico e, em nome disso, acreditam que inventaram o moderno urbanismo, a privatização do Estado e todas as modernas técnicas de gestão.
Com tanta soberba acabaram por se transformar em cinicos desmemoriados: o PSDB inventou o Brasil mas esqueceu de ensinar o Povo.
No Reinaldo Azevedo, "clippando" a Veja:
Um novo índice para avaliar o desenvolvimento dos estados
Por Benedito Sverberi:
O crescimento econômico não traz automaticamente o avanço no bem-estar de uma sociedade. O desenvolvimento de fato só ocorre quando há melhoria também em fatores de qualidade de vida, tais como a educação, a saúde e a segurança. Indicadores econômicos isolados, portanto, não são suficientes para aferir o estágio de avanço social. Pois foi com o intuito de avaliar de maneira mais precisa o grau de desenvolvimento dos estados brasileiros que um grupo da FGV Projetos, unidade de negócios da Fundação Getulio Vargas, acaba de elaborar o Indicador de Desenvolvimento Socioeconômico (IDSE). Trata-se de um índice feito a partir de 36 variáveis sociais e econômicas, capaz de cotejar com apuro o nível de bem-estar nas 27 unidades da federação. O retrato exibido pelo estudo é alentador: praticamente todos os estados conseguiram progredir nos últimos anos, beneficiando-se da retomada no crescimento e do aprimoramento das políticas sociais. Mas os indicadores mostram que os avanços ainda são tímidos em algumas regiões.
O IDSE é bem mais completo e preciso que o famoso IDH (índice de desenvolvimento humano), divulgado pela Organização das Nações Unidas, que pondera apenas três fatores: renda, expectativa de vida e educação. Pela metodologia usada agora pela FGV, o estado mais avançado do país é São Paulo, que levou nota máxima (IDSE igual a 100).
(...)
O resultado mais negativo, contudo, se encontra no Amapá, atual reduto eleitoral de Sarney. Foi o único a regredir. O estado partiu de um IDSE de 65,2 pontos em 2001 (semelhante ao de Minas Gerais) e recuou para 60,4 pontos. O Amapá deu marcha a ré em praticamente todos os indicadores.
Fernando Bernardo
MSc Juca, o PHA já previu que o FHC será o Dutra do Lula!
Um abraço
Acho engraçado que quem teima em defender FHC insiste também em ficar anônimo...
É medo de levar pedrada?
Ao criticar algumas posturas do FHC (sem pra isso defender Lula, vejam bem), como o Juvencio fez, ele assinou embaixo de suas idéias. E expôs-se à crítica, a qual, vejam só, veio através de dois anônimos...
Acho ridículo que no resto do mundo, no ambiente das idéias, é normal discordar. Só aqui é que discordância é tida como inveja...
E isso porque o Juvencio expôs conclusões baseadas em fatos, hein!
Ou seja, o que a Direitona quer é que a gente não pense...
Juvencio, concordo com vc. FHC sempre chocou o ovo no ninho alheio. Aproveítou-se, o quando pode, de Florestan Fernandes, esse sim, despido de vaidades e notável figura humana. Mestre de todos eles.
Juca, por falar em tucanos, não vi na internet ninguém comentando a notícia do IVCZAL sobre a festa de aniversário do ex-governador Jatene. Em primeiro lugar nada de alguém representando o ex-governador almir gabriel. Os únicos politicos de expressão eram todos do PSDB, e nem todos vieram, com a notada ausência do senador mário Couto, o que prova bem que a tal " União pelo Pará" já era, como previsível. Ou seja, levando-se em conta as forças políticas do Pará Jatene está isolado, e nem unanimidade em seu partido conseguiu até agora ser, isto não é muito animador para os tucanos em 2010.
Engraçado certos comentaristas acharem que quem tem predileção pelo FHC, tem medo de expor sua opinião. Como se o Lula fosse "o presidente".
Como não sou de direita, esquerda, muito menos heliocêntrico como alguns por aqui, só queria registrar uma frase dita por Martin Luther King:
"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons".
A charge é boa, mas leia o blog do Cezar Maia e aí vc constatará que o elogio do Obama ao Lula tratou-se de um afago à vaidade do presidente brasileiro, que o fez derreter por completo. Ao sair da reunião, inflado em sua vaidade, Lula nem se deu conta de ter fisgado a isca e foi logo anunciando que vai emprestar dinheiro ao FMI. Um repórter, presente à coletiva, murmurou: "Lula é poodle do Obama!". Malandro, esse Obama, malandro...
Pô... campanha urgente!
"D. Marise abra um blog!"
Que paulada! Agora sei de onde vem a macacaúba!
:):):)
Preciso Marise.
Outra coisa que me impressiona no Lula não é o domínio formal, e sim o informal.
Sua inteligência é superior, sem dúvida, em comparação com a concorrência.
Sua dialética então, é prato cheio para muitas teses.
O tempo dirá.
Os tucanos estão parece essa história aqui ó:
-- Duas figuras gays estavam numa fila de banco para pagar contas.
A fila não andava. Era dia de pagamento dos barnabés. Banco lotado e calorento. Dois caixas para atender a multidão.
A que estava na frente, vira-se para a figura que estava atrás e solta:
-- Égua mana, não conheço ninguém lá no início da fila.
A outra responde:
-- Eu conheço. É uma amiga da Ricarda!
A outra balança as ancas e solta:
-- Mennniiinnnaaaa!! Chama ela aqui.
A de trás fala:
-- Eu não. Ela não me convidou para o velório da Valdivina.
A da frente fala:
-- Ainda bem que não foi eu que mmoorrreeeuuu!!!
Um sujeito puto com a demora e a frescura do diálogo na sua frente, sobe o tom da voz em repreenção e em tom grave diz:
-- Eita classe desunida. Caraio.
As duas olharam, envergonhadas para o chão e cessaram a conversa.
É esse o clima tucano em todo o Brasil. Com ou sem prévias.
A festa pelo aniversário do ex governador Simão Jatene tinha de tudo um muito: gente de todas as classes, tucanos aos montes, PMDB, DEM, PTB, PV, PPS e outros PES da vida. Foi uma festa como daquelas dos bons tempos dos tucanaos no poder, só que agora sem a máquna pra mobilizar muita gente, por isso mesmo a festa foi considerada um sucesso total.
Belo texto, Juvêncio! E o faz com toda a legitimidade, que qualquer brasileiro possui, desde que fale a verdade! FHC é isso mesmo e aqueles que conviveram com ele sabem disso! Quem viu ele puxando o saco do Ulisses Guimarães, a vida toda, para entrara na política com o seu apadrinhamento - e depois golpeá-lo pelas costas - entende as palavras do blogger. FHC, inclusive, temia a ascensão de Serra - e por isso não o apoiou como deveria, nas eleições presidenciais. É, do ponto de vista de caráter, um escroque! Inteligência - que tem de sobra! - não é tudo na vida política. E com todas as sacanagens do Governo Lula (mensalões da vida), ele foi melhor pro país que FHC (cujo Plano Real, desde Ciro Gomes e o Presidente Itamar Franco, já estava em curso e não tem FHC como "pai", apesar de sua tentativa exitosa de ganhar a paternidade do que não era seu!). Enfim, caráter é caráter: ou se tem, ou se não tem. Não há meio termo!
Juvêncio, seu texto elegante reportou-se unicamente a carreira acadêmica de FHC, de fora as velhacarias politicas que o das 9:49 relembra, esquecido que ele ofereceu-se ao Collor para ser ministro do exterior. Para sorte dele foi impedido pelo Mário Covas.
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