21.4.09

Terra Sustentável, Terra de Paz

Nas folhas paroaras de hoje, 21, o diretor da Agropecuária Santa Bárbara, do grupo Daniel Dantas, alardeia que os sem terra vão sair na marra das fazendas ocupadas. E um novo pedido de intervenção federal no estado pode estar a caminho.
É a grilagem enfrentando o estado de direito.

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Nas duas edições de ontem dos telejornais da TV IVCezal, o secretário de Segurança, delegado federal Geraldo Araújo, admitiu com todas as letras a incapacidade do setor de segurança do governo em enfrentar o problema agrário, e a sua própria, ao revelar que três dias depois do tiroteio entre sem terras e jagunços, ainda não havia falado com seus subordinados na zona do conflito.

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Desde sempre, o governo Ana Julia caminha no fio da navalha na questão agrária, corretamente, tentando provar na Justiça a grilagem das terras de Dantas e negociando como MST. Mas a lenta reintegração de áreas ordenadas pela Justiça, que segue a ordem cronológica das sentenças, e a demora e a corrupção que grassam na política de assentamento do governo federal é atropelada pelos fatos, diminuindo, dia após dia, a margem de manobra do governo estadual, que agora se vê ameaçado até pelo colaborador do maior criminoso de colarinho branco do país, segundo os inquéritos que responde, no Brasil e no exterior.
Vamos ver o que a governadora dirá sobre as ameaças.

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No início da semana, o ex secretário de Planejamento do governo Ana Julia, Carlos Guedes, foi enfim nomeado coordenador do órgão especial do INCRA que vai cuidar da questão agrária na Amazônia. Em razão do contêxto de sua saída do governo, com poucos meses no cargo, e das lutas internas da tendência da governadora (DS), que instada pelo secretário de Formação Bruta de Capital Fixo, digo, Ciência e Tecnologia, fez tudo o que podia e até o que não devia para impedir a nomeação de Guedes, o que causou até uma fortíssima puxada de orelha do ministro Guilherme Cassel (Reforma Agrária) no secretário Maurílio, durante uma conturbada audiência em Brasilia, há dois meses.
Os intestinos da DS estadual estão mais calmos atualmente, mas se soltarem o cabresto o caldo entorna novamente.

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O título do post, longe de querer reacender um dos muitos debates aqui no blog - ao qual só voltarei no final de outubro, depois de discutir minhas impressões a respeito num congresso técnico e trazer os resutados para os leitores - indica a única alternativa de médio e longo prazo capaz de descomprimir a cena sócio-econômica do estado.

8 comentários:

Alan Lemos disse...

"Formação Bruta de Capital Fixo, digo, Ciência e Tecnologia" - gostei, é isso mesmo.

A SEDECT está quase uma secretaria de economia: começa a mudar o curso da história econômica do Pará.

Marise Morbach disse...

A questão é de extrema gravidade. Não se trata de um problema de governo, no sentido de sua atualidade, mas de um problema histórico e de um problema de fronteira demografica e econômica, o caso do Pará.
Os movimentos sociais ligados à questão da terra não foram contidos nos governos do PSDB, apenas assumiram outras estratégias naquele momento. Mas durante 12 anos de PSDB no governo do Pará observamos conflitos sistemáticos entre os atores envolvidos nos contextos agrários, porém com outras abordagens midiáticas.
Claro está que qualquer movimento social que tenha como seu objeto de litigio a propriedade fundiária terá que montar estratégias conforme o perfil do governo que ascender ao Estado.
Considero a estratégia do MST importante no sentido de que está forçando, pela coerção, soluções para um conflito que começa no final da escravidão, no Brasil.
Mas convém observar que os proprietários de terra usam os velhos meios do extermínio puro e simples da propriedade do corpo, no sentido literal que lhe dá a teoria liberal desde o séc. XVI: matam lideres sindicais, matam trabalhadores rurais, matam crianças e velhos, colocam fogo nas plantações: enfrentam o conflito desrespeitando frontalmente o estado de direito. Para isto não são capazes de fazer lobbys junto aos seus representantes no congresso e no senado, mas quanto estão interessados em polp
íticas econômicas sabem perfeitamente quais os caminhos a serem utilizados.
Do ponto de vista institucional temos um orgão inolulado pela corrupção chamado Incra, juntamente com um outro, chamado Ibama.
Há um grave problema institucional que há mais de trinta anos faz da fronteira Pará um campo de conflito aberto no qual não encontramos Política, Justiça, Mediação.
Os unicos agentes que estão a demandar sobre o Estado usando de todos os meios possíveis são os mpovimentos de Sem Terra e algumas bases do movimento católico mais á esquerda e alguns agentes da luta pelos direitos humanos.
A questão é que o Estado deveria intervir perante o Governo da Federação em uma discussão republicana sobre soluções política e econômicas para o problema da fronteira demografica que é o Pará, com todos os seus complexos problemas, e sobre o problema da regularização fundiária do Estado do Pará.
Questões maiúsculas enfrentadas por instituições minúsculas nas sua capacidades de estratégias e de compreensão sobre o que significa a REPRESENTAÇÃO na POLÍTICA.

Anônimo disse...

Carissímo

O que ocorreu com o Geraldo, discípulo do ladino Tumão, foi exatamente isto: Puty foi ao front e convocou quem bem quis para a missão. Resultado, o secretário excluído traduziu a trapalhada como um fracasso seu, mas, no fundo estava dizendo exatamente o oposto: com um operador político desses o governo nem precisa de adversários.

. disse...

A análise da professora Marise sobre a questão foi a mais pertinente que já li/ouvi até agora sobre a questão.

Mas quero fazer aqui uma outra observação, no que se refera à cobertura jornalística do caso.

Não vi/li/escutei absolutamente uma linha até agora questionando o grupo de extermínio que atirava incessantemente sobre o grupo de sem-terras.

Os jornais noticiam "conflito", mas que conflito é esse que de um lado estão homens com paus e do outro, homens armados com pistolas e espingardas?
Houve nitidamente uma tentativa de homicídio (as cenas são claras!) e ninguém mostrou qualquer inquietude sobre isso na imprensa.

A globo, com seu discurso sempre anti-movimentos sociais, apela ao sensacional da cena, sem falar na tentativa clara de um massacre testemunhada por todos os brasileiros que viram aquelas imagens.

Não estou aqui querendo dizer que no MST só tem santo, mas o carro que a equipe de jagunços do Daniel Dantas usava tinha escrito (e bem grande) Escolta ARMADA, ou seja, foram lá para que mesmo?

E como o representante do banqueiro já falou, o MST vai sair de lá de QUALQUER jeito.

Se eles tiveram coragem de fazer aquilo na frente de uma equipe de TV, imagine o que não farão sem a o "cobertura" da imprensa...

Tudo bem que o jornalista presente não entendeu a importância de estar ali para registrar o que fosse, e preferiu se dizer vítima ao ser supostamente usado como "escudo humano". Mas enfim... ele realmente não tinha obrigação.
Esta, já sabemos, é do Estado.

Lafayette disse...

O problema é que as reformas, principalmente as três, política, do judiciário e a agrária nunca vieram a fundo, como eram e são prometidas pelo poder a tempos (seja ele qual for), desde antes do governo militar (aliás, uma delas, um pouquinho antes, besteirinha antes).

Aí, antes que estas fossem, ao menos, tentadas (o que é a desgraça), veio a tal da flexibilização, e a pior de todos os papos-neo-safados, a sustentabilidade da governabilidade (ô frasezinha desgraçada essa!).

Assim, deste modo, portanto, o parto continuará laborioso.

Anônimo disse...

A postura da Globo e sua afiliada TV Liberal é a mesma de sempre, em defesa da elite grileira: Monstraram incansavelmente o conflito armado, tentaram transformar seu repórter cinematográfico e o jornalista em heróis eeos sem-terra em bandidos e não disseram nada sobre o sindicalista que foi morto em Tucuruí.
Concordo que a verdadeira Reforma Agrária não vai ser feita por nenhum governo, seja ele de direita ou esquerda. Quem realmente a fará serão os movimentos sociais que precisam extirpar de seu meio a corrupção e interesses menores ou correm o risco de retardar mias ainda o processo.

Anônimo disse...

Os instestinos da DS não estão nada calmos depois que o Cláudio Putty resolveu ser candidato a deputado federal jogando a Professora Edilza Fontes para escanteio. O bicho tá pegando

Anônimo disse...

Juva,
Seria bom, se os Jornalistas, explicassem, o porque, de estarem se deslocando no Avião do Daniel Dantas, no trecho Maraba/Xinguara/Marabá.é muito estranho. filmar gado morto,é quenão foi. ou teriamos que acreditar em Papai Noel.